Análise | Tanglewood – Os 16 bits estão de volta
Lançado há exatamente um ano, Tanglewood é mais um jogo com estética pixel art de 16 bits, como tantos outros que foram lançados nos últimos tempos. No entanto este tem um diferencial: é genuinamente um jogo de Mega Drive/Genesis (que completa 30 anos hoje), com versões para Windows, Mac e Linux.
A Big Evil Corporation, desenvolvedora do jogo que conta com uma equipe de um homem só (Matt Phillips, que já trabalhou em diversos títulos AAA e membro bastante ativo da comunidade de homebrews da SEGA) utilizou as mesmas ferramentas que os desenvolvedores de jogos para o console da SEGA utilizavam na década de 90, além de algumas ferramentas mais modernas como o MDStudio. Tanglewood, tinha tudo para se apoiar apenas na nostalgia, mas não é isso que torna este jogo especial: é divertido, desafiador e lindo, uma verdadeira obra de arte em toda sua simplicidade.
Tanglewood é um jogo no estilo plataforma com elementos de pluzze, onde controlamos um jovem animal (Nymn) semelhante a uma raposa que se encontra perdido no mundo de Tanglewood. O objetivo é fugir dos perigos e retornar à sua casa. Pequenas criaturas (Fuzzls), vão auxiliar Nymn nesta jornada, e são a base para os desafios do jogo. São três tipos de Fuzzls que concedem habilidades temporárias (parar o tempo, voar e controlar os outros animais) ao jogador quando colocados em seus ninhos e um tipo que aciona armadilhas e engenhos (construídos à muito tempo por seres já extintos).
A jogabilidade segue o padrão de um típico jogo de plataforma, com um botão para empurrar os Fuzzl, um para acionar as habilidades temporárias e o outro para o pulo. Uma limitação do jogo é a ausência de rolagem vertical da tela quando se aciona o direcional para baixo ou para cima, impedindo o jogador de ver plataformas superiores ou de espreitar um buraco antes de cair. Com um único dano, seja causado pelas outras criaturas ou por espinhos, somos levado de volta para o início da fase ou o último checkpoint. Entretanto, de forma a não tornar o jogo frustante, as vidas são infinitas.
O jogo é salvo quando se atinge um checkpoint, marcado por uma estátua, ou no começo de cada fase. O destaque fica para a possibilidade de crossplay entre as versões de PC/Mac/Linux e Mega Drive/Genesis, pois no menu de pause é fornecido um password para que possamos continuar a jogatina em outro local. As únicas diferenças entre as versões para os computadores e o Mega Drive são o salvamento automático e as conquistas, por motivos óbvios.
A variedade de inimigos é bem limitada, temos apenas: Scirus, pequenas criaturas, que atacam o jogador se irritadas, Hogg, criatura pequena semelhante a um javali e muito veloz, que persegue e ataca o personagem com um chifre, Djakk, criaturas enormes parecidas com as bestas do clássico jogo Another World e por fim Elder, um Djakk ancião, que é a criatura mais rápida do jogo. Temos ainda um item colecionável: os vaga-lumes, que estão espalhados pelas fases (no final da fase tempos um contador, que mostra quantos foram coletados e o total de cada fase).
A dificuldade pode assustar no início, pois não existe nenhum direção ou indicação do que fazer na fase ou como resolver os pluzzes. Por vezes, pode-se passar mais de 30 minutos até encontrar uma solução, mas é algo que não cansa e traz aquele sentimento de recompensa. O jogo possui um total de 28 fases, divididas em oito capítulos, podendo ser finalizado em cerca de duas horas, caso você já conheça a solução dos pluzzes.
Os gráficos talvez sejam o ponto alto junto com sua jogabilidade. O estilo pixel art adotado é bastante detalhado e agradável, remetendo aos jogos mais belos da geração de 16 bits, como Ristar, Another World, Flashback, The Lion King e até mesmo alguns de 32 bits como Knuckles Chaotix. Outro destaque se dá na mudança de tempo e clima entre e durante as fases, passando pelo amanhecer, dia, entardecer, noite, chuva e vendaval. Para emular o aspecto visual das TV de tubo, temos ainda, a opção de utilizar as famosas scanlines. Por ser um jogo que se propõe rodar nestas TVs, o aspect ratio é de 4:3, por isso que temos as faixas laterais na versão para computadores.
A trilha sonora é simples, mas ainda assim uma das mais bonitas que o hardware de som limitado do Mega Drive poderia oferecer.
Tanglewood não é para todos. É um jogo que vai exigir bastante paciência e perseverança do jogador, principalmente pela já citada falta de direções e indicações, algo que é bem comum nos jogos atuais. Mas se você gosta de desafios, de jogos indies, de jogos de plataforma ou viveu a “guerra dos 16 bits”, é um jogo quase obrigatório.
Caso queira experimentar, poderá baixar a demo aqui. O jogo completo está disponível no Steam, no GOG.com, no itch.io e na forma de cartucho para Mega Drive/Genesis aqui. As versões digitais incluem a ROM do jogo, que pode ser utilizada para jogar nos consoles originais através de dispositivos com flashcards, nos clones baseados em SOC’s (System On Chip), como o famoso Red Kid 2500 utilizado no MDPlay e Mega Drive 17 da Tectoy, ou em seu emulador favorito.
Em comemoração ao primeiro aniversário de lançamento, a Big Evil Corporation disponibilizou o código fonte do jogo para download no Github, autorizando a sua compilação para uso pessoal:
🎉🎉🎉Today is TANGLEWOOD’s 1st anniversary! 🎉🎉🎉
We’ll be doing a few things to celebrate today, so look out for giveaways and announcements later, but first, as promised… we’ve released the source code.https://t.co/lSuMfl73yc
— TANGLEWOOD (@tanglewoodgame) August 14, 2019
Esta análise foi feita com uma cópia do jogo da Steam adquirida pelo próprio autor, jogando no PC, MDPlay e Mega Drive 17.