Análise | The Way Remastered: Uma história sobre o amor e a eternidade
The Way Remastered é um remaster (duh!) de The Way, que foi originalmente lançado para PC em 2016 pela Puzzling Dream após uma bem sucedida campanha no Kickstarter. Esta nova versão, exclusiva do Nintendo Switch, foi lançado em 20 de abril de 2018, sendo portada e incrementada para o console pela SONKA. O jogo remete aos cinematic platformers Flashback e Another World (Out of this World), acrescentando uma história bem profunda sobre o amor, esperança e a busca pela eternidade. Mas estaria este à altura dos clássicos? É o que vamos descobrir a seguir.
HISTÓRIA
Major Tom é um explorador espacial que não aceita a morte de sua esposa. O início do jogo nos apresenta Tom escavando o túmulo e colocando o corpo recém sepultado de sua amada em um casulo criogênico, partindo em seguida para um planeta misterioso, que pode conter o segredo da imortalidade. Este planeta já havia sido visitado anteriormente pelo protagonista, sua esposa e seus companheiros exploradores, que haviam encontrado escrituras antigas que indicavam a existência de um método para alcançar a vida eterna e retornar a dádiva da vida aos mortos.
Neste planeta vamos encontrar florestas, desertos, construções ancestrais bem avançadas, caçadores de recompensa, predadores, robôs e até mesmo civilizações. Tom, na sua obsessão por trazer a imortalidade à sua amada, acaba fazendo tudo ao seu alcance, desde enfrentar diversos inimigos, ajudar povos necessitados, até estudar e escavar por anos a fio. A história é toda contada por meio de documentos e lembranças coletáveis, que liberam cinemáticas mostrando a relação entre Tom e sua esposa, desde o trabalho juntos até o seu leito de morte. Outras cinemáticas são apresentadas ao longo da história em momentos cruciais.
Durante a campanha, The Way Remastered apresenta questões filosóficas bastantes interessantes: O que seria da vida sem a morte? Viveríamos intensamente ou tudo ficaria cinza e sem graça? E o amor, sobrevive à eternidade? Ou é apenas um sentimento que depende de sua própria brevidade? O jogo não responde à estas questões, e nem é essa a sua pretensão, mas cabe ao jogador fazer suas escolhas.
JOGABILIDADE
A movimentação do personagem lembra muito os clássicos já citados, mas é bem mais fluida e responsiva, com mais elementos de jogos de plataforma. Utilizando-se o analógico esquerdo é possível dosar a velocidade do personagem, o que ajuda bastante nos trechos de plataforma e quebra-cabeças que precisam de uma maior precisão. A queda é bem realista, cair de um local não muito alto leva à morte. Não temos uma barra de vida ou corações, ou seja, se levarmos qualquer dano, Tom morre.
A medida que se avança, o personagem ganha algumas habilidades, como Levitação de Objetos, Artefato Acionador de Máquinas, Escudo e Teletransporte. O sistema de seleção de cada uma é semelhante ao utilizado em diversos jogos atuais, na forma de um menu em forma de círculo. A mecânica de cada uma dessas é apresentada de forma bem cadenciada, primeiramente com puzzles bem simples que necessitam de apenas uma das habilidades para serem transpostos, para em seguida se tornarem mais complexos, com a necessidade de uso de mais de uma. Mesmo assim, não existe um puzzle difícil que trave o seu progresso, pois as dicas presentes no cenário e os comentários do próprio Tom facilitam muito a vida do jogador. Temos, ainda, um animal de estimação, Tincan, que aparece mais adiante no jogo e é bastante utilizado nos pluzzes, principalmente atacando os inimigos e servindo de apoio para alcançar lugares mais altos (“You can pet the pet!“). A movimentação de Tincan e de inimigos maiores são um dos poucos pontos negativos do jogo, pois os poucos frames de animação tornam os movimentos, saltos, escaladas e ataques poucos orgânicos.
Um dos destaques do jogos é a diversidade dos puzzles que vão desde quebra-cabeças comuns, passando por jogo de espelhos, quebra-cabeças de deslizar, até jogos de conectar tubos. Tudo isso bem integrado à história e aos cenários. A facilidade dos puzzles evita que o jogador fique fatigado, mas não trás a sensação de superação e de recompensa, sendo este mais um aspecto negativo do jogo.
Um diferencial em relação aos clássicos cinematic platformers, é que, apesar de ser bem linear, o jogo possui missões e mais de um final. As missões são bem simples, como “Acione o gerador oeste” ou “Roube a nave”, mas norteiam o jogador e ajudam a narrativa. Temos, também, alguns easter eggs, com referências à jogos como Day of the Tentacle e Secret of the Monkey Island, além de um trecho inspirado na “fase da moto” de Battletoads e outro que lembram a praia em Half-Life 2 (quando os insetos atacam ao tocar na areia).
O jogo possui uma duração perfeita, que não cansa o jogador, chegando a cerca de 6 horas em uma primeira jogatina (e acredite, você vai querer jogar novamente) e 4 horas em uma segunda tentativa, já conhecendo os puzzles.
GRÁFICOS
Os gráficos são nada menos que espetaculares e uma das mais belas obras de arte pixeladas dos últimos tempos. Alguns itens, como a nave roubada pelo protagonista, apresentam linhas mais finas que o cenário e objetos móveis e os personagens são menos detalhados que o resto, mas a harmonia entre os elementos é perfeita. Os cenários (são mais de 200 telas) parecem vivos, com pequenos detalhes que os tornam mais orgânicos, desde um animal que se esconde à sua aproximação, cachoeiras, plantas solitárias ou a areia levantada pelos seus passos. Alguns locais são claramente inspirados em cenários de Star Wars, Blade Runner ou até mesmo Halo.
SOM NA CAIXA
A qualidade dos sons ambientes e dos outros personagens acompanha a tecnologia atual, sem cair no clichê de trilhas 8 ou 16 bits em jogos do estilo, mas sem contrastar com os gráficos pixelados. O jogo conta ainda com um player de música que pode ser acessado diretamente no menu. São músicas bem contemplativas e excelentes para relaxar. Não é uma trilha sonora memorável, sendo difícil de lembrar de uma música específica, mas que casa bem com o jogo e a ambientação dos seus mais diversos cenários.
VERSÃO REMASTERIZADA
Conforme a publicadora, esta versão possui alguns incrementos, em relação à versão de PC, além das melhorias gráficas que normalmente são vistos apenas em remakes, como:
- Dublagem;
- HD Rumble (exceto no Switch Lite que não tem suporte à esta função);
- Player de música;
- Mudanças no level design e jogabilidade de acordo com as ações do jogador;
- Melhorias no reinicio após a morte do jogador.
CONCLUSÃO
Respondendo a pergunta no início: Sim. The Way Remastered não só supera os clássicos cinematic platformers, como também é um dos melhores jogos desta geração. É uma pena que não tenha tido uma recepção tão boa como merecia, talvez por conta de um bug bizarro descoberto pela própria desenvolvedora logo antes do seu lançamento, mas já foi corrigido, ou até mesmo pela falta de divulgação devido à um orçamento limitado.
The Way Remastered nos transporta para o desconhecido, para um mundo onde um fio de esperança alimentado pelo amor (ou até mesmo, egoísmo) é o que nos resta. The Way Remastered é para todos, uma obra prima sem contraindicações. É, talvez, o jogo mais subestimado que já experimentei.
Esta análise foi feita com uma cópia adquirida pelo próprio autor, utilizando um Nintendo Switch Lite. O jogo está disponíveis em diversas eShops, mas no momento da publicação desta análise, o menor preço encontrado é na eShop da África do Sul, com 90% de desconto (aproximadamente R$ 3,60). A versão original para PC pode ser adquirida no Steam que, também no momento de publicação, está com 90% de desconto (aproximadamente R$ 2,80).