Especial | Streets Of Rage – Uma viagem para o passado

O ano era 1998 e eu ganhava meu primeiro vídeo-game com seis anos de idade. Momento inesquecível para qualquer criança, seja nos anos 90 ou hoje, a mística por trás do video-game novo continua a mesma e certamente é um dos elementos que torna essa mídia tão legal. A ideia era de que eu só recebesse no dia do meu aniversário, mas como eu sempre fui uma criança curiosa, eu acabei achando uma caixa vermelha no armário. Ali era o inicio de uma relação muito querida com a Sega, que dura até hoje. Por mais que a empresa não desenvolva hardwares como naquela época, se não tivesse sido aquele o contato que tive com o Mega Drive, talvez hoje eu não teria o apreço que tenho pelos jogos como os da série Yakuza, uma das minhas franquias favoritas atualmente. Mas pra chegar em Yakuza, um jogo que veio junto do meu Mega Drive me ajudou e muito a desenvolver meu gosto por artes marciais e a distribuir socos e chutes virtuais por ai: Streets Of Rage.

Streets Of Rage é um beat n up, gênero de jogos que carinhosamente apelidamos de ”Briga de Rua”. Basicamente era necessário atravessar as diversas fases enfrentando inimigos até o chefe daquele cenário, para então derrota-lo e passar de fase. O gênero era muito popular no final dos anos 80 e inicio de 90, e Streets Of Rage era mais um entre tantos jogos, mas se destacava por diversos motivos. O primeiro jogo saiu em 1990 e foi um enorme sucesso, vendendo mundialmente 2,6 milhões de cópias e se tornando um dos títulos mais importantes do Mega Drive logo nos seus primeiros anos de vida. Graficamente Streets Of Rage sempre chamou atenção, principalmente no segundo jogo da série lançado em 1992. Os sprites eram fantásticos e para época foi um marco para os consoles domésticos, já que o beat n up era um gênero muito popular nos Arcades e quando eram portados para os consoles, sempre recebiam certo downgrade gráfico, o que não aconteceu com Streets Of Rage 2.  Como o foco era o Mega Drive, o time de desenvolvimento trabalhou desde o inicio na melhor experiência para o console da Sega, e mesmo que tivesse uma versão de arcade, a de console não devia em nada a dos fliperamas. Claro que a fidelidade visual não determinava diversão, mas ainda assim impressionava bastante. Outro fator que colocava Streets Of Rage a frente dos seus concorrentes era a opção de escolhas no final do game. Até hoje jogos com múltiplos finais impressionam, imagina no inicio dos anos 90 em um gênero como aquele? Era impressionante e chamou muito a atenção de quem jogou na época.

É impossível falar de Steets Of Rage sem falar do seu compositor, Yuzo Koshiro. O músico foi um verdadeiro popstar durante o desenvolvimento dos três jogos da série, tendo trabalhado em muitos jogos da Sega e sendo considerado até hoje um dos maiores nomes quando falamos de trilhas sonoras de vídeo games. Seu trabalho era tão importante que era considerado a alma de Streets Of Rage e a sua importância era tanta que ao contrário do que acontece, era seu nome que aparecia na tela de menu do jogo, não o do diretor. Apesar de ter um trabalho muito divisivo entre os fãs no terceiro jogo (Lançado em 1994) as composições dos dois primeiros são verdadeiras obras de arte, com seus discos contendo a trilha sonora sendo extremamente raros e vendidos a preços de pequenas fortunas.

Apesar de todo esse sucesso e mesmo com um terceiro jogo contestado, a Sega tentou várias vezes levar Streets Of Rage para o Sega Saturn e o Dreamcast, porém os diversos projetos nunca saíram dos estágios iniciais e o beat n up acabou perdendo muita força no fim dos anos 90. Mas o legado da série ficou na companhia e acabou influenciando os desenvolvedores da série Yakuza, que apesar de não ser de fato um beat n up, carrega alguns elementos do gênero, se tornando a experiência mais próxima de um beat n up em 3D hoje no mercado e uma das principais marcas da Sega atualmente.

Após tantos anos ausente, a ideia de um Streets Of Rage 4 era algo impensável, mas em 2018 os fãs foram todos pegos de surpresa com o anuncio do quarto jogo da série. Chegando no dia 30/04/2020, o novo jogo continua as aventuras de Axel e seus companheiros muitos anos após Streets Of Rage 3 e promete ser não só uma continuação, mas uma celebração a série e ao gênero. O jogo esta sendo desenvolvido pela Lizard Club em parceria com a Guard Crush, sendo publicado pela DotEmu em conjunto com a Sega. O game que continua em 2D, teve seus gráficos completamente remodelados, trazendo uma direção de arte renovada, com sprites maravilhosos saltando a tela. O elenco de personagens sera o maior da série, com estreias de novos personagens e o retorno de antigos. A trilha sonora foi cuidadosamente trabalhada, tendo nomes como Yoko Shimomura (Kingdom Hearts, Final Fantasy XV) e o retorno de Yuzo Koshiro com seu parceiro de sempre, Motohiro Kawashima. O game que sera lançado para PS4, Xbox One, Nintendo Switch será um deleite para os fãs e não só pode, como deve trazer consigo a glória de um verdadeiro briga de rua.