Crítica | On The Rocks – o eros em questão
Em On The Rocks, novo filme de Sofia Coppola, vemos Bill Murray e Rashida Jones — a personagem Karen em The Office — como pai e filha, numa comédia romântica ambientada em Nova York. Lançado no dia 23 de outubro na AppleTV e no dia 1º de novembro nos cinemas, nele presenciamos o estilo questionador da diretora consagrada por Lost In Translation (2003), dessa vez numa crítica reflexiva sobre a fragilidade de relacionamentos amorosos – que na trama percorre duas gerações diferentes.
A escritora Laura (Rashida Jones) é casada e tem dois filhos, mas passa por um momento confuso com seu marido Dean (Marley Wayans), que viaja com frequência devido ao seu emprego. Nesta situação que percorremos durante o filme, vamos acompanhando a visão de Laura sobre a situação em que vive, e como a desconfiança dela chega até seu pai, Felix (Bill Murray). Este personagem segue o padrão dos papéis de Bill Murray, sendo um velho bem sucedido, cheio de humor e histórias, dialogando e buscando sempre os meios mais inusitados para ajudar a filha.
Nos diálogos que presenciamos entre os dois personagens encontramos a essência de On The Rocks: a crítica recorrente à vida como casal. Apesar do filme oscilar entre uma comédia e um drama bem padrão, as questões dos personagens mostram o amor como um anseio que conserva os mesmos problemas de anos mais antigos. Porque somos trocados, traídos ou abandonados? Essa pergunta reflete na feminilidade de Laura, que se sente menos atraente, afetada pelo cotidiano, e que busca a resposta no seu pai, possuidor de uma masculinidade evasiva e exagerada, expondo isso de forma vergonhosa.
A resolução apresentada não é muito esclarecedora, mas nos permite enxergar na trama as questões éticas dos relacionamentos, que evoluem e ganham outras formas com o passar do tempo, mas guardam alguns problemas fundamentais, assim como em gerações mais antigas. E On The Rocks nos entrega isso numa estética propícia para refletirmos, tendo muitas imagens captando o movimento da cidade. Desde os prédios, até os carros e e as luzes preenchendo Nova York, fazendo uma alusão à melancolia no cotidiano — parecido com o que é feito em Lost In Translation.
A escolha da trilha sonora é sofisticada, nos apresentando algumas faixas clássicas de jazz de Chet Baker. Além disso, o filme conta com uma faixa da banda francesa Phoenix. No total a trilha sonora se encaixa bem nos momentos mellow do filme, colocando o clássico e o moderno como um significado amplo na relação de pai e filha, e na visão de observadores dos dois personagens. Essa imersão proporcionada pelo áudio e visual do filme é muitas vezes interrompida pelas cenas cômicas de Bill Murray, que não são engraçadas, mas fazem parte do teor extravagante do personagem.
Por fim, On The Rocks é divertido, mas seria melhor se não fosse. Muitas vezes o teor cômico atrapalha a seriedade das reflexões dos personagens. Porém, essa temática se adapta bem à atuação dos mesmos, que são convincentes e carismáticos. O maior destaque é a personagem de Rashida Jones, na qual é centrada a trama, resolvendo um problema no seu casamento e fazendo uma crítica de si mesma em sua vida exaustiva. Neste contexto de modernidade líquida, On The Rocks repassa sua mensagem de forma morna e um pouco instigante.