Análise | Call of Duty: Black Ops Cold War e o desafio de continuar a acertar
Após o sucesso estrondoso do Call of Duty – Modern Warfare, potencializado pelo Warzone, após o anúncio do novo Call of Duty: Black Ops Cold War, sob responsabilidade da Treyarch, a ansiedade e expectativa subiram.
Os eventos de lançamento dentro do Warzone elevaram o hype, mas não impediram que surgisse uma pergunta, seguramente feita por todos os jogadores: Será que irão conseguir manter o padrão?
Ora, existe uma linha muito tênue entre a genialidade e a estupidez. Call of Duty Modern Warfare / Warzone acertou em cheio um gênero até então saturado (Battle Royales), conquistando rapidamente uma gigantesca plataforma de players, se tornando, em seguida, o maior sucesso comercial da Activision. Pouca pressão sobre o pessoal da Treyarch…
Basta lembrar da célebre entrevista dada por Alfred Hitchcock ao jornalista Truffaut, em que expõe o seu conceito de “run for cover” para “voltar para a base” sempre que algo pode dar errado. Será que a Treyarch usaria o trabalho feito pela Infinityward como base?
Pois bem, vamos direto ao ponto: Não. A Treyarch não seguiu a mesma linha, bem como não conseguiu chegar ao patamar (elevadíssimo) criado pela Infinity Ward, mas isso não transforma o jogo em um fiasco. Só não é tão bom. Vamos aos detalhes.
A Campanha
A campanha, infelizmente bastante curta, deixou muito a desejar. Possui enredo superficial, os personagens não são aprofundados, os diálogos são rasos e os plot twists não surpreendem.
Há o estereótipo de um agente respeitado, veterano de guerra, outros personagens sem importância, coadjuvantes, um vilão capaz de destruir o mundo e, nesse meio, você.
Apesar dos pesares, alguns pontos positivos merecem destaque: Existem características “mentais” que definem seu personagem e alteram a jogabilidade. Além disso, muitas missões podem ser feitas sem tiroteio, desafiando o jogador a aderir a um modo “stealth”, no melhor estilo Metal Gear Solid / Hitman.
Além disso, surpreendem positivamente os detalhes de ambientação que podem ser percebidos durante as missões. A título de exemplo, a divisão (e as diferenças) entre os lados de Berlin; as acusações, atos e apetrechos de espionagens existentes entre os EUA e a URSS; vestuário; agentes duplos, músicas, além de todo clima de “guerra fria”, dentre inúmeros outros aspectos. Tudo isso ficou sensacional.
O final também pode surpreender, a depender de suas escolhas.
Ademais, as missões seguem o protocolo óbvio de cutscenes e missões “walk and shoot”. Não enjoam e são, em alguns momentos, desafiadoras, a depender da dificuldade escolhida.
Multiplayer
A Treyarch utilizou outro “cover”, distinto da proposta do último Call of Duty apostando na fórmula mais Arcade de fps. A movimentação em si é mais “engessada”, a diferença de engines também pode causar certa estranheza.
O ponto positivo ficou no time to kill relativamente maior, dado o aumento de HP padrão dos inimigos. Isso torna o combate mais imprevisível e menos estressante. Para quem consegue jogar bem nos controles: O aim assist / no recoil é uma mãe.
Os skills exploits, ao menos durante o período testado, causaram certa raiva. Ao invés do famigerado “drop shot”, excessivamente utilizado no COD antecessor, o Black Ops Cold War mais parece um multiplayer de coelhos por conta dos Jumpshots excessivos.
Ademais, os campers perderam espaço com o novo modo de funcionamento do UAV e as perks / classes de armas possibilitam grande variedade de personalização. Eis um ponto bastante promissor para o meta do jogo.
Aqui a Activision resolveu usar o “cover” certo. O famoso “em time que está ganhando não se mexe”. Mantiveram, acertadamente, a engine, mecânica e tudo mais feito pela Infinityward.
A solução encontrada é ambiciosa: Compartilhar todo conteúdo existente entre os jogos, além de suas respectivas progressões.
Receito que essa fórmula, embora inicialmente bem pensada, possa trazer problemas a longo prazo. Explico.
De início, infelizmente quebrou-se, completamente, a lore que vinha sendo desenvolvida no Warzone. O merge de personagens tornou o Battle Royale anacrônico, na medida em que é possível jogar, em 2019 (ano em que o Warzone em tese “existe”) com personagens que já eram quarentões na década de 80. Bem, não seria razoável fazer um “vovô foda”, mas poderiam criar uma solução alternativa como outros personagens e história com vínculos.
Aparentemente, faltou criatividade (ou ousadia). Nem mesmo um mapa novo foi entregue.
O segundo problema reside no futuro do jogo. Como vão lidar com centenas de armas distintas de ambos os jogos em um só battle royale? Como será feita a mesclagem de dano, recoil, attachments, entre outras características bastante distintas entre os jogos?
O medo, como disse acima, é de que a genialidade e segurança até então apresentadas possam acabar cruzando a linha da estupidez, destruindo o warzone. Quanto a isso, só nos resta esperar.
Veredito
Em suma, Call of Duty: Black Ops Cold War entrega um fps padrão Call of Duty. A Treyarch resolveu apostar na fórmula bem sucedida da série “Black Ops”, mas certamente decepcionou aos jogadores que ingressaram na franquia após o Warzone.
Como afirmado, isso não transforma o jogo em um fiasco, muito pelo contrário: Ele cumpre sua proposta. É divertido, movimentado, com vasta possibilidade de personalização e boas perspectivas. Só não conseguiu superar seu antecessor, respeitadas as propostas distintas e diferenças de engine, por exemplo, que elevaram muito o sarrafo para a franquia.
Agora, quanto ao futuro do warzone, é esperar para ver e repetir a pergunta: Será que irão conseguir manter o padrão (e o sucesso)?