ANÁLISE | Sifu – Bater e Apanhar
Dominar um estilo de artes marciais é uma tarefa árdua. Alinhar corpo e mente, adquirir força e resistência, treinar seus reflexos e movimentos… Tudo isso exige muita disciplina, treinos constantes e muita dor e suor. E apesar de os videogames removerem as barreiras do mundo real para que possamos nos imergir em diversas fantasias, Sifu nos faz viver um clássico filme de Kung Fu com todos as partes boas, e também as partes ruins. Sua experiência dependerá totalmente de sua dedicação.
Tira casaco, bota casaco
Falhar e tentar novamente é uma prática que basicamente já nasceu com os videogames (não sendo também exclusiva deles, claro). Desde os arcades que cobravam fichas/créditos toda vez que você fracassava a fim de poder continuar sua experiência, livros já foram escritos sobre o assunto e é relativamente recente a tendência de jogos que até questionam sua necessidade ao remover completamente as condições de derrota.
Existem também aqueles que utilizam esse conceito como a ideia central da experiência, como os chamados roguelikes, que explodiram em popularidade nos últimos anos, tendo Hades da SuperGiant Games como um de seus exemplos mais consagrados.
Sifu é uma evolução dos clássicos Beat ‘em Ups de arcade – onde você percorria o cenário dando porrada em quem cruzasse seu caminho até chegar num chefão – adicionando também elementos de roguelike numa roupagem moderna e alguns sistemas únicos numa experiência que é tão empolgante e bem polida quanto desafiadora e impiedosa, direcionada aos mais dedicados jogadores que ousarem aprender a dominá-la.
A luta de uma vida inteira
Sifu parte de uma premissa simples: uma jornada de vingança atrás dos responsáveis pelo assassinato de seu pai – cinco fases, cinco alvos (sem contar o prólogo, onde você vivencia o dia do assassinato na pele do próprio assassino), todas com muita porradaria, cenas empolgantes e batalhas épicas. O mesmo vale para o combate, que oferece ao jogador opções de ataque, defesa e esquivas, e inimigos que possuem uma barra de vida e uma de postura (como em Sekiro: Shadows Die Twice) – quebre a postura de seu inimigo e você poderá executar um ataque finalizador).
Na prática, contudo, existem diversas outras camadas que tornam a experiência mais profunda e complexa, como bloquear ataques no tempo certo para causar grande estrago na postura do inimigo, saber quais ataques defender e quais se desviar, usar objetos do cenário e lidar com vários inimigos ao mesmo tempo. Além disso, o jogo possui um elemento narrativo único: toda vez que é derrotado, o protagonista pode voltar a vida porém isso o faz envelhecer – graças a um artefato de seu falecido pai.
Conforme você envelhece, você perde a chance de desbloquear certas melhorias para seu personagem – melhorias que, como em outros roguelikes, você perde caso precise voltar ao início da fase ou do jogo. Outras você pode comprar com pontos que acumula realizando combos e ainda outras com experiência adquirida ao derrotar inimigos. Além dessas melhorias, existem golpes e habilidades que também podem ser compradas usando pontos de experiência – e se você comprá-las mais cinco vezes dentro da mesma partida, essas sim ficam desbloqueadas permanentemente.
Duras lições
Superficialmente isso pode parecer simples, mas cada desafio do jogo é único, e aprender a lidar com cada um deles é uma tarefa extremamente árdua – chegando até a ser um impedimento para alguns jogadores progredirem no game, fazendo-os desistir.
Aprender o comportamento de cada oponente, conhecer as habilidades à sua disposição, coordenar os melhores momentos para atacar ou defender, prever as esquivas ideais… Embora cinco fases possa parecer pouco, é possível que o tempo que você levará para concluí-las seja muito maior do que alguns jogos com mais fases do que isso. Para deixar as coisas ainda mais complexas, a inteligência artificial do game é bem trabalhada a fim de evitar que um único tipo de comportamento seja uma saída fácil: se você estiver focando muito em defender, seus inimigos darão golpes que te obrigam a desviar, se estiver atacando muito, te obrigará a se defender, e por assim vai. Apenas dominando esse triângulo de combate e conseguindo entrar na dança de seus oponentes o jogador será capaz de triunfar.
De qualquer forma, Sifu passa por cenários artisticamente muito bem pensados, que fazem com que o jogador não apenas veja, mas vivencie combates extremamente cinematográficos, cheios de adrenalina e apresentados com visual e trilha impecáveis. Os fãs de artes marciais e filmes chineses sobre o tema vão ter um prato cheio, e uma experiência única.
Dominar Sifu é uma tarefa dificílima, mas não simplesmente a fim de ser difícil, mas com um propósito que envolver toda a experiência que ele proporciona. Para quem gosta de desafios, o prazer da conquista que o game trás é ainda maior que seus obstáculos, e a imersão em seu combate é sem igual. Dê uma chance ao jogo e garanto que vai ser difícil largar.
A versão analisada foi a de PS5. Código fornecido para review.