Torre do Terror – Recomendações para o Halloween
Novamente estamos naquela época do ano. Momento perfeito para afiar o facão, lavar a capa de vampiro e passar uma palha de aço no caldeirão que em breve será usado para cozinhar uma galera.
Estamos quase chegando no Halloween, data favorita dos espíritos malignos, zumbis, demônios e serial killers invasores de sonhos. E a equipe da Torre de Controle se reuniu para indicar jogos, filmes e até músicas para você aproveitar neste final de semana macabro.
De clássicos a pérolas cults, aqui você encontra o melhor que a cultura pop de terror tem a oferecer. E fica o aviso: caso você não leia a publicação até o final, seus cabelos se tornarão um ninho de víboras famintas, que irão se refestelar na carne de seus olhos.
Estevão
The Sinking City
H. P. Lovecraft foi um escritor norte-americano que revolucionou o gênero literário de terror e lançou as bases para muitas obras de terror psicológico que temos na atualidade. Seus contos abordam seres dimensionais malignos cuja simples visão pode enlouquecer instantaneamente um ser humano, motivo pelo qual a insanidade é intrínseca a sua narrativa. Apesar de existirem muitos problemas em suas obras – como racismo, misoginia e xenofobia – ainda é possível peneirar bons elementos de horror em seu trabalho.
Enquanto alguns estúdios decidiram focar em contos mais específicos, como Call of Cthulhu – jogo que já analisamos aqui – da Cyanide, outros seguem uma abordagem mais ampla, com muito mais referências ao mithos desse universo. Esta última abordagem é o caso de The Sinking City, do estúdio Frogwares. É um jogo de investigação, que segue a linha padrão de estórias do autor: uma pessoa comum, vivendo uma vida comum, acaba por se envolver em uma trama bizarra recheada de ocultismo, seitas pagãs e ameaças do fim do mundo. Este é exatamente o mote dessa estória, onde o detetive particular Charles Reed vai até a cidade de Oakmont para investigar o motivo de visões que tem tido nos últimos meses.
A ambientação é bem opressiva: uma cidade isolada do mundo externo, que está parcialmente inundada e foi invadida por assustadores monstros sedentos de sangue. O clima é de total decadência, com a maioria das construções destruídas e apodrecendo pela água, algumas ruas e prédios parcial ou totalmente inundadas (o que obriga o jogador a utilizar barcos em determinadas regiões da cidade) e pessoas em situação de completa miséria, brigando por restos de comida em lixos.
A temática é bem condizente com o material original, visto que, para Lovecraft, o mar (e as criaturas que nele habitam) era algo a ser temido, cultos secretos sempre queriam fazer o mal (seja vitimando outras pessoas ou invocando seres que trariam destruição para todo o mundo) e todo e qualquer conhecimento do oculto ou supernatural traria apenas loucura e sofrimento para quem o buscasse. Existem referências a inúmeras obras do autor, tanto na estória como personagens e mesmo nomes de ruas ou prédios. Podemos ver nomes como Abdul Alhazred e Whateley, além de personagens originários de Innsmouth e a seita EOD pela cidade. Quem já leu alguns dos principais contos conseguirá identificar esses e outros easter eggs.
A parte de investigação do jogo é interessante e bem satisfatória, mas outros aspectos podem desagradar aos jogadores. O combate é extremamente simples, não oferecendo opções mais avançadas como desvio ou bloqueio, além de parecer meio “duro” e “travado”. Claramente o foco deste jogo não é o combate, seja pela forma como ele foi implementado ou pela variedade de inimigos – que é pequena. Os gráficos também deixam um pouco a desejar e ocorrem muitos bugs, tanto visuais quanto na movimentação dos NPCs, o que acaba atrapalhando a experiência. Em minha visão, faltou polimento no jogo, algo que provavelmente se justifica por um orçamento mais modesto para o projeto – vale lembrar que a Frogwares é um estúdio indie ucraniano.
A estória de The Sinking City é um conto de terror que começa de uma forma bem mundana e vai piorando a cada novo passo do protagonista, o arrastando em uma espiral descendente de loucura e morte. Há alguns dilemas morais que o jogador tem de enfrentar, cuja escolha afeta os rumos da narrativa, além de liberarem um ou outro troféu (o troféu varia de acordo com a escolha, ou seja, para obter todas as conquistas será necessário rejogar alguns trechos do jogo, se não ele inteiro). Partes da estória são contadas através de itens no ambiente, como sangue no cenário, cartas ou até mesmo visões advindas de poderes sobrenaturais do detetive, que permitem reconstituir cenas de crime.
Como o jogo se passa na década de 1920 – como a maioria dos contos de Lovecraft – muitos elementos são típicos daquela época, como vestimentas, mobília, meios de transporte, armas e as formas de buscar informações. Mas aqui também vemos alguns problemas, pois a maioria dos locais tem basicamente o mesmo layout, é como se você visitasse o mesmo lugar diversas vezes, salvo algumas exceções. Os NPCs também são em sua maioria iguais, dando a impressão de que estamos lidando com a mesma pessoa repetidamente.
Em resumo, The Sinking City é um jogo indie focado em investigação, com uma estória interessante e muitas referências aos contos de H. P. Lovecraft, mas com várias falhas que podem desagradar aos jogadores. A recomendação é: se você é fã de terror, principalmente o Lovecraftiano, e se gosta de jogos investigativos (que exigem muita leitura e dedução), dê uma chance ao jogo, preferencialmente numa promoção, tendo em mente as limitações orçamentárias de um estúdio indie.
O jogo está com desconto em algumas das plataformas para as quais foi lançado: PC (Steam, 80% de desconto), Playstation (PSN, recomendamos pegar a versão de PS4 por ser a única em promoção e porque a versão de PS5 não apresenta melhorias significativas que valham o investimento). No caso do Xbox, não havia promoção no momento de publicação desta análise, eu recomendaria aguardar um desconto.
Diesel
Climax
Em Clímax, um grupo de jovens dançarinos ensaiam em um local afastado da cidade para uma futura turnê. Para comemorar o sucesso do último ensaio, decidem dar uma festa.
Caso você não tenha assistido, é compreensível imaginar que haja um assassino entre os jovens, ou que eles serão caçados por uma criatura sobrenatural. Mas Clímax não é esse tipo de filme de horror.
Há algo especial em conseguir amedrontar utilizando o cotidiano. Clímax é sobre como podemos ser frágeis, covardes, cruéis e mesquinhos. Sobre como a nossa irresponsabilidade pode destruir não só a nós mesmos, mas também aqueles ao redor.
Dirigido e roteirizado por Gaspar Noé, mesmo nome por trás de Irreversível (2002) e Love (2015), Clímax é uma viagem ao inferno. Poucos filmes me fizeram sentir tão mal. Quando o assisti pela primeira vez e os créditos rolaram, eu só queria duas coisas. Tomar banho. E que aquele medo fosse embora.
Não fiquei com medo de cenas gore ou perseguições tensas. O longa não tem isso. Esse medo vinha de mim mesmo. Medo de que, talvez, eu fosse capaz daquilo que foi mostrado no filme. Talvez ainda seja.
Clímax está disponível para aluguel na Apple TV+ e Play Store.
Powerwolf
https://www.youtube.com/watch?v=GpxFUo7oxWM
Powerwolf é uma banda alemã do gênero power metal, também conhecido como metal sinfônico ou metal espadinha. Esse gênero é caracterizado por instrumentos pesados do heavy metal com o ritmo acelerado do speed metal, utilizando uma harmonia rápida e um foco lírico em histórias fantásticas.
Muitas bandas de power metal têm inspiração em livros de fantasia medieval em suas letras, como Blind Guardian, que tem uma relação especial com o clássico Senhor dos Anéis.
Mas Powerwolf vai por um caminho diferente. Enquanto boa parte dos grupos populares do gênero cantam sobre espadas e dragões, Powerwolf opta por um tom mais sinistro. Com rostos pintados e vestes sacramentais, suas músicas têm foco na mitologia católica e suas corruptelas, passando pela amizade de garotinhas com demônios, sacrifícios vampíricos e guerras entre clãs de lobisomens.
A banda se apropria de diversos elementos sagrados do cristianismo, mas não se limita à estética. O vocalista, Attila Dorn, é um barítono com treinamento vocal clássico, dando um tom quase evangélico às canções. Em diversas músicas a banda utiliza um órgão com captação de áudio dentro de uma igreja real, para aumentar a imersão nas letras, que utilizam até trechos em latim em referência a orações centenárias.
O melhor de Powerwolf é que apesar de todos os simbolismos, a banda não se leva tão a sério. Não é o intuito pregar a anti-religiosidade ou caçoar dos cristãos, mas de brincar com esses símbolos e fazer uma boa música. E quando tocam “We Drink Your Blood” ou “Catholic in the Morning… Satanist at Night”, acima de tudo, estão se divertindo.
Powerwolf é uma farofa muito bem executada, uma trilha perfeita para quem consegue apreciar o lado divertido do terror.
Bampede
Resident Evil 4
Aproveitando todo o hype em torno do aguardado remake deste clássico, convido todos a darem uma chance – ou até mesmo revisitar – a versão original de um dos jogos mais influentes de todos os tempos. Resident Evil 4 pode até não ter envelhecido tão bem em questão de mecânicas (tank controls cof cof), mas não deixa de ser uma boa pedida para os fãs de horror.
Ainda que seja uma mudança extremamente brusca do survival horror que deu as caras lá em 1996 com o primeiro RE, o quarto game da série ainda apresenta cenários e atmosferas bastante tenebrosas, conseguindo até balancear um pouco a ação desenfreada que o título passou a adotar. A fase no vilarejo é o melhor exemplo disso, ele é sujo, grotesco, e junto da presença dos ganados (e claro, também do nosso querido Dr. Salvador), fica quase impossível não conter a tensão que esse lugar transmite.
Ah, não posso esquecer de citar também os icônicos Regenerators, além de chefes como Salazar, Menendez e o Verdugo. Esses três últimos são exemplos de body horror de respeito e como o terror continua sempre presente no quarto título.
Para melhorar ainda mais a sua experiência com o game, recomendo o obrigatório mod de texturas – caso você jogue no PC – do RE4 HD Project. O trabalho foi feito por dois fãs aficionados e chega a ser tão fiel às texturas do original que a Capcom chegou a inclusive reconhecer o projeto e o fixou no fórum de RE4 na steam como uma alternativa ao péssimo Ultimate HD Edition produzido por ela. Tá aí a oportunidade perfeita de revisitar ou começar de vez o jogo que redefiniu o gênero de tiro em terceira pessoa e se preparar para o vilarejo dos ganados mais uma vez com o vindouro remake.
Edisson Schwartzhaupt
House
https://youtu.be/WQ_Yo06kIIA
Um clássico do terror japonês é House (1977), filme dirigido pelo inventivo diretor Nobuhiko Obayashi. O longa acompanha um grupo de jovens estudantes japonesas indo visitar a tia de uma das colegas no interior. Durante a estadia, a casa vira palco de uma série de situações bizarras.
O filme é experimental, apresentando cenas escrachadas e surrealistas, que não se preocupam com uma lógica. É um terror que apresenta certo grau de humor – até pelas atuações caricatas -, além de trabalhar com uma sensação de nostalgia proveniente da sua trilha tema, que se repete durante todo o longa.
House pode causar estranhamento num primeiro momento, mas até seu final, provará seu status de filme cult do terror experimental.
Guilherme Soares
O Telefone do Sr. Harrigan
https://www.youtube.com/watch?v=kLPiqa6GB64
Esse suspense baseado no conto de Stephen King não é uma história de terror, mas um suspense moderno e voltado para o público mais jovem. Mesclando bem o clima melancólico com o trágico, a história é construída de forma que prende o expectador na busca de saber o que virá em seguida.
Apesar do final ser bastante condizente com a história, não espere nada de muito grandioso, afinal, estamos falando de uma história do Stephen King, no entanto, é uma ótima opção para quem não é fã de Jump Scare ou Gore . Um filme que é possível assistir até com a família que não é muito da vibe de terror, por trazer uma mensagem interessante como contexto para a trama.
O Gabinete de Curiosidades de Guillermo Del Toro
https://www.youtube.com/watch?v=8scIyGWkd84
Essa antologia é tudo que você sempre quis ver o Guillermo Del Toro fazendo. Com um texto incrível e uma produção impecável temos a genialidade de Del Toro mesclada com ótimos diretores e roteiristas.
Do horror ao suspense, a atmosfera lovecraftiana da série é perceptível até em sua estrutura. Com efeitos práticos, quem está cansado do CGI da novas produções, vai se encantar com o visual tanto dos personagens como do cenário. É como ler uma história em quadrinhos de terror dos anos 80 e 90 ou um livro de horror clássico. Uma ótima pedida para aqueles fãs de terror raíz, assim como, os mais aspirantes nesse gênero também encontrarão uma ótima experiência de introdução.
Esperamos que tenha gostado de nossas recomendações. Sinta-se à vontade para fazer comentários e até a próxima!