Análise | The Last Oricru (PS5) tem muitos problemas, mas um grande potencial
O gênero Souls-like talvez seja um dos que mais faz sucesso atualmente no mundo dos jogos e praticamente quase todos os games do gênero RPG de ação tentam beber da fonte da From Software. O problema é que nem sempre o gosto é tão doce quanto se pode imaginar e o resultado fica bem abaixo das expectativas. Esse é o caso The Last Oricru, um Sous-like que decide investir mais em sua história do que gameplay e, apesar dos diversos problemas, tem um grande potencial inexplorado.
The Last Oricru conta a história de um guerreiro chamado Silver, que não pode morrer. Bem, na real ele pode, mas sempre renasce. Sem entender muito bem quem ele é ou qual seu propósito, em pouco tempo Silver (e o jogador também) começa a perceber que suas escolhas impactam diretamente a forma como sua jornada irá se desenrolar.
Além de um mundo cheio de detalhes e histórias para serem descobertas, The Last Oricru investe pesado na forma como as decisões do jogador impactam na história. Por exemplo, logo no primeiro capítulo, dependendo da forma como você terminar o evento da visita da rainha à cidade de Wardenia, uma ou muitas personagens podem morrer.
Após esse evento, cabe ao jogador escolher qual lado ele irá apoiar na guerra que se aproxima, os Noboru ou os Ratikin. O mais interessante é ser possível trocar de lado em diversos pontos da história, caso o jogador se sinta com vontade. Porém, é preciso ter em mente que cada escolha pesa nas consequências para Silver e seus companheiros.
Existem outras missões secundárias que enriquecem a trama do game, mas em um certo ponto da jornada do jogador ele pode se sentir sobrecarregado com tantos elementos narrativos. Não se engane, a lore de The Last Oricru é rica e cheia de detalhes, mas pode parecer um pouco inchada em vários momentos.
Mas não é só de história que The Last Oricru é feito. Por trás de todos os enredos e escolhas do personagem está um sistema de combate que, de longe, pode até lembrar um pouco Dark Souls, mas está longe de ser tão preciso, difícil (e satisfatório) quanto.
Após completar o primeiro capítulo, o jogador pode ativar um dos vários terminais do game. Ao utilizar esse dispositivo é possível aumentar de nível, melhorar seu equipamento ou mesmo fabricar ouro utilizando Essenciais (funcionam da mesma forma que as Almas em Dark Souls). Quando você morre, também é para um dos terminais que irá retornar.
Você também pode consultar elementos da história do game nos terminais, mas tudo parece tão genérico que eu duvido que você queira passar mais de 2 minutos lendo algum arquivo. Além disso, os terminais são a chave para acessar a mecânica de gameplay que The Last Oricru mais insiste em focar? o modo cooperativo.
No modo co-op você pode convidar outro jogador para se juntar a sua aventura para jogar de modo on-line ou localmente através de uma split-screen. Considerando o quão raso o mundo e os combates de The Last Oricru podem ser, eu altamente recomendo experimentar boa parte do game no modo cooperativo para tornar a experiência um pouco mais digerível.
O problema com o combate está em alguns bugs ocasionais causados pelas hit-boxes dos inimigos que parecem mudar de tamanho a cada movimento e pela interface feia e confusa que o game utiliza para manejar o equipamento do personagem. Felizmente o desempenho consegue amenizar um pouco esses problemas, já que o game roda variando entre 1080p e 1440p e em 60 FPS fixos no PS5.
Definitivamente, dentre todos os problemas e falta de polimento em The Last Oricru, o aspecto que mais me incomodou durante as minhas horas nesse mundo de fantasia com ficção científica foram as vozes e atuações das personagens. O protagonista Silver parece que saiu de uma esquete de comédia do antigo Zorra Total. Sua voz (pelo menos na dublagem em ingles) é extremamente irritante e o tom não condiz em nada com as suas ações. Parece que ele fala tudo com um tom constante de zombaria não intencional.
É incompreensível o porquê de um RPG que se inspira fortemente no gênero Souls Like optou por limitar tanto assim a customização do personagem principal. Além de o jogador preso a horrível voz natural de Silver, somente é possível escolher entre dois cortes de cabelo para o personagem – um pior que o outro.
As animações faciais não funcionam de uma forma natural – em muitos momentos eu me senti jogando uma versão mais pobre de Mass Effect Andromeda. Bugs ocasionais ocorriam em algumas texturas que não carregavam corretamente e a IA dos inimigos tinha um sistema de detecção muito impreciso.
Para completar, a trilha sonora é tão insossa e simples quanto a história do game. Com melodias descompassadas ou que pareciam encaixadas no momento errado do combate, elas são capazes de tornar até as lutas contra os chefões um processo maçante e tedioso.
Verdito
No fim, The Last Oricru parece um game que simplesmente não consegue se entender. Ele não sabe se investe na história ou se foca na mecânica de gameplay cooperativo. Menus confusos, interfaces com visuais inacabados e péssimas atuações se combinam para criar uma experiência que funcionaria bem como um game em estado beta ou um projeto final de faculdade.
Apesar disso, também fica a sensação que, lá no fundo, por detrás de todo um contexto de fantasia e ficção-científica cobertos de clichês e de personagens muito genéricas existe uma ideia de jogo que tinha muito potencial, mas que se limitou ao ficar presa a antigas inspirações.