Análise | Amnesia: The Bunker – O survival horror está mais vivo do que nunca

O que faz com que um jogo de terror seja bom? Quais características o fazem brilhar dentro do gênero survival horror (terror de sobrevivência)? Amnesia: The Bunker tenta ser bem-sucedido em ambas as tarefas. Vamos dissecar esta obra e tentar definir se ela passa no teste.

História e ambientação

Como um soldado na Primeira Guerra Mudial, ferido e fugindo do inimigo, você se vê sozinho dentro do que parece ser um bunker subterrâneo. Logo começa a perceber estranhos buracos na parede, sangue espalhado pelo chão e alguns ruídos angustiantes por todos os lados. Em pouco tempo, você descobre que há um monstro devorando quem está nesse local, que a saída está bloqueada e sua única chance de sobreviver é encontrar uma forma de desobstruir a única rota de fuga antes que o monstro te mate.

Muito da história do jogo é contada através de cartas deixadas pelos soldados que outrora habitaram aquele bunker, além de pistas deixadas pelo próprio cenário, como corpos e sangue – muito sangue. Durante todo o tempo você pode ouvir o som aterrorizante do que parece ser o monstro caçando, além de abalos sísmicos que balançam todo o complexo. Um destaque vai para os efeitos sonoros, que tornam a experiência ainda mais assustadora.

Um detalhe que me chamou a atenção foi a maneira de resolver problemas. Não existe uma maneira única de resolver quebra-cabeças ou de acessar novas áreas: você pode tentar usar diversas ferramentas, estratégias diferentes, abordagens das mais variadas. O jogo inclusive deixa isso claro logo no início dizendo para não ter medo de tentar coisas novas – pois se você pensou em fazer, provavelmente é possível. E de fato, temos várias formas de resolver os desafios, o que faz com que a jornada de cada um seja diferente, lembrando até um pouco os immersive sims.

Corredores escuros e medo constante

O primeiro jogo da franquia Amnesia (The Dark Descent) retratava na maior parte do tempo ambientes escuros e passava uma sensação de medo constante, acentuada pelo fato do protagonista não ter nenhuma forma de lutar ou se defender do monstro que ficava perambulando pelo cenário. Em Amnesia: The Bunker nós temos os mesmos corredores – talvez até mais escuros – e a sensação de medo constante chega a ser maior, porque agora nós temos um monstro que não está apenas “passeando”, mas que está ativamente te perseguindo.

Porém, diferentemente do primeiro jogo, The Bunker te dá boas ferramentas para se defender. Durante o jogo você encontrará armas como pistola, granada, gás. Isso pode passar uma sensação de segurança, mas o jogo soube equilibrar isso muito bem, de forma

Perseguição e paranoia

Se você jogou Alien Isolation ou Resident Evil 2, já conhece bem a sensação de uma criatura te perseguindo. O monstro de Amnesia é atraído por barulho, então se você não tomar muito cuidado, ele vai te encontrar em instantes. O problema é que em vários momentos você simplesmente não tem opção de não fazer algum tipo de ruído mais alto, pois a situação te obriga a usar uma arma ou mesmo um tijolo para destruir cadeados, abrir portas ou se defender de ratos. Até mesmo a lanterna faz barulho, pois ela funciona a base de corda, e apenas uma carga já é suficiente para denunciar sua posição.

Escassez de recursos e gerenciamento de inventário

Uma das características mais marcantes de jogos de terror de sobrevivência é a escassez de recursos. Isso obriga o jogador a economizar o máximo que puder, a evitar confrontos ao invés de encarnar o Rambo, a aprender como criar itens a partir de outros, a vasculhar cada milímetro do cenário atrás de valiosos recursos. E The Bunker sabe utilizar essa fórmula muito bem. Estando preso em uma caverna cheia de corredores que mais parecem um labirinto, completamente escura, cuja luz depende de um único gerador, o jogador se vê buscando combustível para manter esse gerador funcionando a qualquer custo. Balas para a pistola vem a conta-gotas. Curativos são raros. Na verdade, a única coisa que me pareceu mais abundante foram granadas (eu esperava que tivesse uma quantidade bem menor delas).

o famigerado baú

Outra mecânica característica do gênero é o gerenciamento de inventário. A exemplo de Resident Evil, temos um já conhecido baú para armazenar os itens que não cabem nos poucos espaços do inventário. Pode diversas vezes foi necessário largar itens no chão e voltar para buscá-los depois, pois haviam itens mais urgentes e que já haviam tomado todos os espaços disponíveis. A diferença com RE é que não há vários baús espalhados pelo cenário, mas sim um na sala de administração, que funciona como uma safe-house, um espaço seguro onde se pode, além de armazenar os itens, salvar o jogo e reabastecer o gerador.

o inventário

Backtracking

Citando mais uma característica marcante do gênero survival horror, o backtracking – algo como repetição de passos – é algo bem presente neste jogo. Basicamente, é uma mecânica que exige que o jogador faça várias vezes o mesmo percurso, passando pelos mesmos lugares, para resolver diferentes quebra-cabeças interconectados, onde para resolver um deles você precisa de um item adquirido numa sala ou quebra-cabeça anterior. Isto faz com que um cenário relativamente pequeno se transforme num grande labirinto com diferentes desafios a cada vez que você passa por determinado local.

Em Amnesia: The Bunker, o vai-e-vem é constante. Logo de início já é possível enxergar os objetivos principais: a saída (que está bloqueada) e as salas onde estão os itens necessários para desbloqueá-la. No entanto, estão todas inacessíveis, sendo necessário descobrir a forma de abrí-las. Esse processo exige muitas idas e vindas recolhendo objetos, resolvendo quebra-cabeças e tendo várias crises de nervos com o monstro em nosso encalço enquanto perambulamos pelos corredores e salas escuras.

Conclusão

Amnesia: The Bunker é um jogo contido, que compreende que não é necessário um mundo aberto gigantesco para ser especial. Fugindo de um monstro em constante perseguição dentro de um labirinto de corredores escuros,podendo escolher qual a melhor abordagem para resolver problemas, gerenciando o limitado espaço disponível no inventário, tentando não morrer antes de chegar na sala onde é possível salvar o jogo e lutando para manter o gerador ligado e abastecido, nós somos presenteados com uma experiência fantástica de terror, tensão e uma história envolvente. Cabe aqui salientar que a duração do jogo é relativamente curta para alguns padrões, mas eu particularmente achei perfeita, pois não é necessário esticar uma experiência – as vezes artificialmente – para que o produto seja bom. Trazendo várias características de um jogo de terror de sobrevivência, tendo bebido na fonte de clássicos como Resident Evil, este Amnesia se destaca como um jogo imperdível para os fãs do gênero, superando expectativas.