Preview | Death Trash – O que faz um BOM jogo de RPG pós-apocalíptico?

Saturação não é apenas um termo químico

Não Deacon, hoje não é a sua vez de brilhar!

Oi, tudo bem? Então, eu acho que você já conhece muito bem essas temáticas pós-apocalípticas, né? Sabe, aqueles jogos com um protagonista fechadão, pique Mad Max, num distopia totalmente acabada com monstros de pesadelos preenchendo as ruas desabitadas de um mundo antigo. E geralmente essas obras até buscam uma ”redenção” pros seus protagonistas!

Parece que eu acabei de descrever milhares de jogos, né? Algo como The Last of Us, Horizon, Days Gone… pera, esse ai a gente até discutiu, bem aqui. Mas calma, não estamos aqui para discutir o jogo do motoqueiro selvagem da Sony não, estamos aqui para conversar sobre um indie chamado Death Trash.

”Mas, pera lá Otávio. Que jogo é esse? Onde ele está? Qual o cheiro e sabor? Nunca nem ouvi falar, mano…” Calma meu querido, vamos começar por partes, pode ser? A linha pra entender isso, vai ser complicada, e isso envolve muito da vontade do criador e um pouquinho de história do gênero que o game se encaixa.

Uma narrativa de amor e ódio

Meu querido leitor, você é um entusiasta de jogos pós-apocalípticos? Não?! Ta tudo bem, eu não lhe culpo. É um gênero que atende a um público muito restrito e raramente tende a adestrar novos consumidores. Mas aqui vai uma informação que talvez você já saiba: Fallout é o papai desses jogos na indústria.

Você provavelmente já conheceu, ou conhece, um fã ávido da franquia da Bethesda, e bem provavelmente ele é… esquisito. Mas sendo sincero, Fallout é um jogo muito bom, especialmente os clássicos, jogos imutáveis que inspiram obras até hoje, seja na indústria do vídeo-game, ou até mesmo, na indústria de mangás e filmes.

Fallout é precursor de muitas novidades para os games, desde a introdução fantástica de conceitos de design e atmosfera, para também a clara definição de um gênero. Os RPGs ocidentais se transformariam por completo e a Mojave Wasteland estaria para sempre diferente (pegou a referência??).

No fundo, todos sabemos que Fallout New Vegas é o melhor, né…

Todavia… nem tudo são flores. A partir de 2008 a série passou por uma mudança de mão criativa e a Bethesda propriamente se encabeçou de dirigir o futuro da IP. E as mudanças eram perceptíveis, já que muito da própria Lore, atmosfera, conceitos e pragmatismos tinha se tornado totalmente diferente. E calma lá! Não estou falando que Fallout 3 seja ruim, muito pelo contrário, me introduzi na série por ele! Mas ele é realmente diferente.

E essa briga (justificável) da mudança de qualidade dos jogos seria algo frequente no desenrolar do sucesso de Fallout 3 e 4. Um entusiasta dos antigos jogos, profundamente chateado com a direção recente da série, resolveu… fazer seu próprio Fallout.

”Mas se você não gosta, vai lá e faz melhor!”

Essa fanart é o começo da história de Death Trash.

Foram essas as palavras que Stephan Hovelbrinks escutou ao argumentar com os novos fãs da série Fallout. Então ele resolveu botar as mãos na massa e depois de uma fanart bem sucedida, e cheia de feedback, o fogo por um novo jogo aos seus moldes, foi acesso.

E cá estamos hoje, nesta prévia de um jogo prestes a lançar. Um jogo que, por mais curta tenha sido a degustação, me ajudou a criar um imenso amor pelo projeto, sua criação e dedicação dos desenvolvedores.

Diferente do que se pensa por aí, você meu querido leitor, pode conferir o jogo imediatamente na página da sua Steam, agora (to mandando, vai lá), pois uma demonstração early-access se encontra disponível para todos. E sem mais delongas, o que é Death Trash?

Tudo aquilo que um fã quer, ou merece

Death Trash é um RPG pós-apocalíptico situado num mundo distópico-futurista, com uma temática junkpunk (já já explico). Diferente da sua principal inspiração, o clássico Fallout de 97, Death Trash é action RPG, e não um baseado em turnos.

Mesclando a gameplay com uma câmera pseudo-isométrica, a beleza da obra se ilustra por pixel-arts. Rico em detalhes, a paleta de cores e ilustrações contrastam bem aos olhos e chama muito a atenção.

Aqui, encaramos o cenário de criar um personagem, do jeito mais clássico possível. Com o layout inicial clássico de distribuição de pontos, começamos a traçar nosso caminho nessa aventura monstruosa que nos segue.

E prontamente, somos introduzidos para a realidade toda esbagaçada desse mundo, e já digo, não é nada muito bonito não. O jogo logo nos insinua que algo mudou profundamente a forma com que a humanidade se comporta e age. Pedaços de carne viva e animados são vistos perambulando nas paredes e chão do mundo de Death Trash.

A presença da ”carne selvagem”, é o principal mistério a se solucionar em Death Trash.

As muitas perguntas já começam a ser aplicadas ai: por que, quando, onde, como… Death Trash, assim como seu compatriota Fallout, aprende muito bem com a série STALKER, ao estabelecer um storytelling visual envolvente e atmosfera imersiva.

E ao decorrer que as perguntas são sendo feitas, somos respondidos… com novas perguntas. Uma conspiração? Uma mudança de comportamento do mundo como conhecemos? Uma praga além da compreensão? A imaginação flui muito bem, graças a escrita magnificamente bem feita com claras inspirações em H.P Lovecraft. As breves 3-4 horas de demonstração são o suficiente para te fisgar por completo.

The Messenger se vende como um jogo… humorístico? Não sei se gostei dele.

Curiosamente, Death Trash é um jogo que aposta muito bem no sarcasmo e ambiguidade. Diferente de The Messenger, o jogo não aposta em ”referências baratas” (como referências a outros jogos, tipo Fallout) para fanservice. Culminando na homogenização de um ”tom” e preservação da atmosfera distópica que carrega. Nada é ”pastelão” , é apenas um humor bem dosado e aplicado.

Além do mais, a demonstração de Death Trash não nos poupa em mostrar que questlines terão diversas ramificações e desfechos. Até mesmo algumas quests possuem caminhos ambíguos, que só poderemos ver seus outros desfechos, no jogo final.

Atmosfera de um Fallout, gameplay de Diablo

Lembro-me muito bem de ter jogado Diablo 2 no meu famigerado PC das Casas Bahia. Era magnífico, violento e divertido (tudo que um garoto nerd de 10 anos adora). Mas já pensou em um Diablo com temática e tom de Fallout? Death Trash é mais ou menos isso.

Lembra que eu falei que o jogo era um ”junkpunk”? Geralmente, essa é a nomenclatura atribuída ao Mad Max. Um mundo que perdeu a atribuição de valor ao material, e utiliza de tudo como empecilho de sobrevivência e preservação. Death Trash eleva isso para a sua gameplay também.

Estamos falando de um RPG e claro que você poderá ter diversas abordagens e formas de jogar. Desde um bombado burro igual porta, para um travesso comunicador ocultista ou um assassino desalmado. O leque de possibilidades, já na demonstração, é MUITO grande.

Lembra da ”carne selvagem”? Então, você pode ser um ocultista que se comunica com esse ”poder arcano”, e jogar raios pela ponta dos dedos, como um Lorde Sith. A infinidade de possibilidades na gameplay anda junto da possibilidade de abordagens que a escrita permite.

E diferente de outros RPGs e jogos de sobrevivência ”imersivos”, Death Trash se afasta de uma coisa que estremece muitos jogadores: complexidade. Nada é difícil de pegar na obra, tudo é muito intuitivo e ilustrativo. Sua HUD/Interface é minimalista e serve muito bem o seu propósito.

O sound design se envolve e capta os melhores nuances e curvas da imersão do mundo de Death Trash. Sons impactantes ilustram o combate, assim como as interações do mundo ao redor consigo. Um verdadeiro trabalho intenso foi colocado nisso, e o produto final é recompensador do esforço.

A gameplay, ao fim, é fácil de entender mas difícil de masterizar. Provavelmente nos dedicaremos em incontáveis horas, no jogo final, para entender as diversas mecânicas que ainda não foram apresentadas. O jogo dispensa elogios nesse quesito.

Uma obra promissora

Lembrando, Death Trash lança a partir de 05 de Agosto!

Death Trash está com data de lançamento para semana que vem! Exatamente a partir de 05 de Agosto, o jogo estará disponível na Steam e GOG.

Do pouco que o Early Access nos mostra, está claro em dizer que esta é uma obra muito refinada e apaixonada. O resgate de conceitos de jogos antigos, e a paixão do desenvolvedor, se vê em cada pixel e pedaço de texto do jogo. A jornada de Stephan Hovelbrinks me inspira muito, e enche de alegria ver ela se concretizando, depois desses quase 6 anos de desenvolvimento.

Não está claro se está nos planos do desenvolver, incluir uma futura localização PTBR. Mas julgando por uma visão a longo prazo, seria uma ótima adição, e que com certeza deve entrar nos planos para o futuro da obra.