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A evolução dos formatos de mídia nos games e seu futuro
O Google acaba de sacudir o mundo dos games ao anunciar a sua plataforma de jogos através de streaming, o Stadia, onde o usuário, em tese, vai poder usufruir de jogos de ultima geração com um computador bem básico e até mesmo usando um celular ou tablet.
Mas, muito antes de chegarmos a este tipo de tecnologia, os jogos já estão presentes em nossas vidas, em formatos muito diferentes deste proposto pelo Google. Vamos lembrar os principais tipos de mídias já utilizadas pelas empresas no decorrer dos anos.
Cartuchos
Primeiro, uma breve explicação de como funciona um cartucho. Eles são memórias do tipo ROM (Read Only Memmory, ou Memória somente de leitura), estes que são compostos por inúmeros pequenos circuitos integrados, que permitem a armazenagem e processamento de dados, assim como em computadores. Esses circuitos são colocados em um revestimento plástico, formando assim os famosos cartuchos.
Em 1972, foi lançado o primeiro console comercial do mundo, o Magnavox Odyssey, que, mesmo com todas as limitações da época, trouxe inovação e foi pioneiro ao trazer a possibilidade de ter jogos “fora” do vídeo game, ao invés de todos gravados na memória. Ali nascia o que podemos chamar de pai dos cartuchos: o Odyssey usava placas de circuito para gravar os jogos, como pode ser visto na imagem abaixo.
Cinco anos mais tarde, 1977, o famoso Atari 2600 era lançado no mercado americano, dando continuidade a evolução das mídias, aperfeiçoando a tecnologia de placas para um cartucho, inicialmente com capacidade de apenas 4 kB, que com o decorrer do tempo foi melhorado, com ajuda de uma nova técnica de programação, elevando a capacidade máxima a 64kB.
Nos anos 80, mais especificamente em 83 e 86, foram lançados o NES e o Master System respectivamente, dando continuidade a evolução de hardware. Elevando a capacidade de processamento dos vídeo games, que passou para 8 bits, os cartuchos aumentaram de tamanho, tendo agora um slot com 72 vias.
Pouco tempo depois, no fim da década de 80 e começo de 90, o Super Nintendo e o Mega Drive ditavam as regras na indústria dos games, com sua nova capacidade, 16 bits, um processamento bem mais veloz e a possibilidade de gráficos bem mais bonitos. Games como Mario, Zelda, Sonic, Streets of Rage, Top Gear, entre muitos outros, fizeram a sucesso na época e até hoje são considerados referência. As fitas, como também são conhecido os cartuchos, ainda ditavam o tom da indústria, que nessa altura já tinha um novo desafio: a pirataria. Muitas empresas conseguiram “clonar” os chips de segurança que vinham junto aos cartuchos e passaram a produzir jogos não autorizados para as plataformas. Não fosse o bastante, alguns consoles com a capacidade de reproduzir essas “fitas clones” foram lançados no mercado, até de forma oficial, alegando ser apenas uma tecnologia semelhante. Aqui no Brasil o Polystation é provavelmente o mais famoso.
Portáteis Nintendo
A Nintendo, além do console de mesa, apostou no portátil logo cedo: em 1989 foi lançada a primeira versão do Game Boy. Rodando games em 8 bits e apenas em preto e branco, mas que já apresentava uma entrada para os cartuchos, bem menores que os de NES. No fim dos anos 90, chegou ao mercado o Game Boy Color, que como o nome já diz, trazia imagens coloridas e um processamento mais potente. Os pequenos cartuchos eram parecidos com os da versão anterior, inclusive com alguns deles sendo compatíveis com o Game Boy original, ou seja, mesmo se ainda não pudesse comprar o novo portátil, você poderia jogar alguns do lançamento no seu Game Boy. A receita de bolo seguiu com seu sucessor, o Game Boy Advanced, usando pequenos cartuchos para jogar e com a possibilidade de usar cartuchos da geração anterior através de um acessório, algo que chamamos hoje de retrocompatibilidade.
A tecnologia evolui, apareceram os smartphones, câmeras digitais e com elas os cartões de memória. E foi exatamente para isso que a Nintendo migrou com o lançamento do Nintendo DS, em 2004. Utilizando a memória Flash, o processamento é bem mais rápido, os cartões com jogos são bem menores e mais fáceis de guardar. Essa tecnologia é usada até hoje, no Nintendo Switch.
A era do CD
Assim como com os cartuchos, vamos a uma breve explicação de como funciona o CD para os games. Eles são mídias ópticas com várias camadas e os dados são gravados entre estas, daí o leitor de CD realiza uma varredura nesses dados, formando um código binário que gera as informações que foram gravadas.
Chegamos ao ano de 1994, todos estavam felizes e se divertindo assoprando seus cartuchos, quando a Sega e a Sony lançam, respectivamente, o Sega Saturn e o Playstation, que além do maior processamento, agora suportando 32 bits, com gráficos hiper realistas para época, não tínhamos mais fitas, mas sim CDs.
Como sabemos, a Sega foi dominada pela Sony e o Playstation tomou conta do mercado mundial, especialmente em países como o Brasil, onde a pirataria se espalhou pelo mercado. Apesar desse tipo de mídia baratear os custos, em países como o nosso, onde o imposto sobre este tipo de produto é abissal, acabou sendo uma boa opção para os consumidores a compra de games não originais. Na época a proteção sobre os dados em CDs era muito frágil, o que causou um “boom” de produtos pirateados, enquanto as mídias originais chegavam a custar mais de R$100,00, dezenas de lojinhas e barraquinhas vendiam os “mesmos” jogos por R$15,00, R$20,00, até R$10,00 um pouco mais pra frente.
O começo dos anos 2000 trouxe o Playstation 2 e o Xbox, dando continuidade a era dos CDs, ou quase isso: dessa vez usaram o DVD, que funciona da mesmo forma, mas tem a capacidade de armazenamento de 4,7 Gb, bem maior que os 700Mb do antecessor.
Em 2006 a Sony lançava o PlayStation 3 e ganhava um concorrente a altura. O Xbox 360 chegou fazendo barulho e conquistando uma boa parcela de mercado, coisa que não tinha acontecido com a sua primeira versão. A Sony já apostou no Blu Ray, mídia que pode armazenar a partir de 50Gb, enquanto a Microsoft manteve o DVD, o que ajudou na popularização do console, porque ainda era relativamente fácil piratear os jogos, sendo possível encontrar games do Xbox por cerca de R$20,00, enquanto os discos Blu Ray do Playstation podiam passar dos R$150,00.
Mas a grande novidade nesta geração foi à possibilidade de comprar jogos direto dos serviços on-line das empresas, fazendo download no console e jogando sem precisar de nenhum tipo de mídia física. Tanto Sony quanto Microsoft mantêm serviços de assinatura, que inclusive presenteiam os usuários com jogos gratuitos todo mês.
O serviço foi melhorado nessa geração, com o Xbox One e o PlayStation 4, e ganhando cada vez mais terreno. Promoções mensais e sazonais são comuns e possibilitam comprar os jogos em formato digital com descontos realmente atrativos e economizar uma boa grana.
Muitas pessoas ainda preferem a mídia física, por gostar de ter a “caixinha” ali à mostra, ou até mesmo pensando em trocar ou vender o game no futuro, enquanto outros quase não usam mais essa opção, migraram definitivamente para os jogos em formato digital, por facilidade, preço (quando em promoção). Para nós, meros consumidores, é ótimo ter mais de uma opção, podemos procurar por promoções on-line, mídias físicas em oferta ou até mesmo procurar por jogos usados, tudo o que faz com que possamos jogar mais e gastar menos é uma opção bem-vinda.
Stadia – Streaming é o futuro?
A ideia do Google pode ser revolucionária, tendo a funcionalidade prometida, pode mudar os rumos da indústria, visto que eliminaria a necessidade de ter consoles potentes ou um PC robusto para usufruir dos jogos atuais. Tudo vai estar a um clique e em qualquer lugar, mas ainda não temos tantos detalhes assim, na verdade muitas questões ficaram no ar, como o tipo de cobrança pelo serviço; poderemos comprar jogos individualmente? Será um serviço de assinatura? Um híbrido entre esses? Qual a real estabilidade do serviço fora de ambientes de rede controlados? Eventuais instabilidades na internet vão afetar de que forma a jogatina?
A empresa promete mais informações do serviço em junho, talvez na E3, mas por enquanto, a Torre de Controle levantou todas as informações que já sabemos sobre o serviço:
- Os games vão rodar diretamente do Chrome, não precisando de nenhum console ou PC potente, aliás, inclusive em celulares, tablets e até mesmo televisões com o navegador poderemos acessar o serviço diretamente da nuvem da Google.
- O sistema de salvamentos será direto nos servidores da empresa, o que vai possibilitar que você comece a jogar em seu PC e depois continue em seu televisor ou smartphone.
- Inicialmente são 7500 servidores espalhados pelo mundo dedicados ao serviço
- A capacidade de processamento da GPU é de 10.7 teraflops, bem mais do que os 6.0 do Xbox One X e os 4.2 do PS4 Pro. Esse conjunto fez a Google garantir que o serviço, mesmo não lançado, já pode fazer o streaming de games a 1080p e 60fps com apenas 25Mb/s de conexão e que a intenção, no seu lançamento oficial, é de rodar jogos com definição de 4K e até 120fps, usando uma conexão de 30Mb/s.
- O serviço conta com o próprio controle, que será necessário para jogar na televisão, por exemplo, mas nos PCs, caso você tenha outro console da ultima geração, será possível utiliza-lo com conexão USB. O controle traz botões de funções exclusivas, como o Google Assistent, e uma função Share.
- Aos que utilizam o Youtube para realizar streaming de jogos, a plataforma promete uma série de formas de interação com o publico que os acompanha, inclusive uma função onde o streamer pode convidar alguém que está assistindo a participar da partida.
- Sobre os jogos, a Google garante que no lançamento haverá muitos já disponíveis, inclusive enviou mais de 100 kits de desenvolvimento a estúdios, para que esses possam criar e portar jogos pra a plataforma.
- Já confirmados temos Assassins Creed Odyssey, Shadow of Tomb Raider, NBA2K19 e o aguardado Doom Eternal.
- A empresa criou o Stadia Games and Entertainament, estúdio dedicado à criação de exclusivos para a plataforma.
A Google promete que tudo vai ser muito rápido, fluído, sem latência e prático, ao alcance através de um clique. São promessas realmente animadoras e nada fáceis de serem cumpridas. Porém, se tudo acontecer como planejado, vai de fato revolucionar a forma como jogamos, não só ajudando a acabar com as mídias físicas, mas fazendo com que as empresas de consoles encontrem soluções para competir nesse possível novo mercado.
O Stadia está previsto para ser lançado ainda este ano, 2019, nos Estados Unidos, Canadá e Europa, sem nenhuma previsão de chegada a outros mercados.