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Brasil Game Show e o Vácuo ‘Post Mortem’ da E3

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Brasil Game Show e o Vácuo ‘Post Mortem’ da E3

Num mundo pós-E3, existe um espaço vazio que a Brasil Game Show poderia se utilizar para dar grande destaque ao mercado de games brasileiro

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Estamos em época de Brasil Game Show e, a julgar pelos acontecimentos mais recentes na indústria de games (ou na indústria de anúncios de games), já é possível tratar a E3 – outrora considerada a maior convenção de jogos do mundo – no tempo verbal do passado. O evento, que acontecia anualmente em Los Angeles, pode ter começado como um lugar para as empresas e profissionais de videogames meramente tratarem de negócios. Porém, num dos mercados que mais se alimenta do “hype” – a descontrolada empolgação do público em frente a trailers, anúncios e promessas – a E3 se tornou ponto central para fãs, jornalistas e entusiastas, chegando a abrir suas portas para o público geral em seus últimos anos.

Ter todos os olhos voltados para si durante uma semana criava um marco nos calendários de toda a indústria e mercado. Trailers, demos e anúncios precisavam ser preparados a tempo a fim de disputar um pedacinho desse momento de glória, ao ponto até de surgirem muitas histórias de trailers falsos, cotoveladas entre rivais e apresentadores que não podiam conter sua empolgação ao pisar em algum dos palcos principais. A E3 era o sonho, a meta e o feriado de todos que de alguma forma participavam dessa comunidade e indústria.

Contudo, com o passar do tempo e muita tentativa e erro, os principais showcases do evento acabaram encontrando um formato mais efetivo e menos arriscado: uma sequência de trailers para seus principais anúncios, intercalados com algumas declarações de seus responsáveis. Isso se deu, em especial, ao fato de que grande parte do público agora assistia a essas apresentações através da internet. Logo, demonstrações de gameplay ao vivo, shows de luzes e fumaça e grandes espetáculos, já não causavam tanto impacto quanto para o público de jornalistas e investidores que atendiam ao evento presencialmente. E, considerando que já não mais valia tanto a pena investir nesse formato espetacular, surgia então a questão se valia a pena sequer investir na participação oficial no evento em si.

Afinal, desde fazer um evento no estacionamento do outro lado da rua – como já fez a disruptiva Devolver Digital numa ocasião – instalar estações de jogos em lojas da GameStop para que o público pudesse experimentar os jogos que estariam no evento – como fez a Nintendo – até simplesmente lançar um vídeo no Youtube e nos principais sites de notícias já era suficiente para surfar na onda do “hype da E3”.

E foi assim, encabeçados pela própria Nintendo que popularizou o formato com suas “Nintendo Direct” que os principais desenvolvedores começaram não só a migrar para um formato semi ou totalmente digital, como também a se apresentarem em datas fora da época do evento. Afinal, grandes nomes como Mario e The Last of Us não dependiam da E3 para movimentarem as manchetes, e podiam então se beneficiar de um espaço exclusivo, sem concorrer com outros grandes anúncios que se apertavam no espaço de uma semana de evento.

Pule para 2023 e já podemos ver os ossos remanescentes da falecida Eletronic Entertainment Expo, cancelada em 2020 e apenas online em 2021 à pandemia de COVID-19, e cancelada oficialmente em 2022 e 2023 (com rumores de cancelamento até 2025). E esse mundo pós-E3 possui vantagens e desvantagens que merecem um olhar de atenção.

A maior e mais óbvia desvantagem, é a ausência de uma grande referência como chamariz para toda a indústria. Afinal, a popularidade da E3 era capaz de furar a bolha do nicho gamer e atrair manchetes até mesmo de fora do mercado. Esse ponto central unia todos os grandes nomes e os fazia reservar todos os seus melhores anúncios, criando essa semana de sonhos e promessas para o futuro, e colocava uma data fixa nos calendários de desenvolvedores, fãs e jornalistas para se prepararem. E agora, embora alguns eventos ainda tentem replicar sua grandeza, como a Summer Games Fest, com destaque para a noite de abertura da Gamescom, Opening Night Live, e até o The Game Awards com as premiações de melhores jogos do ano (vale notar que ambos eventos são encabeçados pelo jornalista Geoff Keighley), nenhum evento conseguiu atingir o mesmo nível de interesse e empolgação até agora.

Já em relação às vantagens, com esse formato de showcase online, o espaço de anúncios se torna mais democrático e acessível, tanto para os fãs quanto para os desenvolvedores. Logo, não só as grandes Nintendo Direct, Playstation Showcase e Xbox Showcase possuem seus grandes momentos, como também publishers menores como a sempre humorada Devolver Digital – que em 2023 fez até um showcase para anunciar jogos que seriam adiados – e também desenvolvedores indie e redes de produção de conteúdo, como acontece na Day of the Devs – que começou como uma parceria entre a Double Fine (Psychonauts) e a iam8bit (marca de exclusivos e colecionáveis) para anúncios de jogos independentes – a Wholesome Direct – evento de jogos indie “fofinhos” e “relaxantes” – e o Kinda Funny Games Showcase – organizado por grandes jornalistas da indústria para divulgar jogos independentes que não conseguiriam tanto destaque em eventos como a E3.

E isso nos leva ao centro da questão: A Brasil Game Show. O maior evento de games da América Latina segue crescendo em público ano após ano, porém sua presença online ainda se restringe aos campeonatos e shows que ocorrem no local. E como já citei quando comparei o evento com a CCXP – outro referencial no Brasil – já está mais do que na hora da BGS aproveitar esse vácuo deixado pela E3 e essa cultura de showcases e transmissões ao vivo para movimentar manchetes pelo mundo todo.

Afinal, não faltam bons jogos brasileiros nem bons brasileiros em grandes estúdios, além de termos alguns dos melhores criadores de conteúdo do mundo, times campeões em games e cosplay e uma avançada cultura de internet. Utilizar a força do evento para dar evidência para o Brasil também pela internet traria ainda mais vantagens para nosso mercado.

Então fica o apelo (e a ideia gratuita, me contratem): a Brasil Game Show-Case, com anúncios exclusivos de jogos indie brasileiros, latinos (e quem mais quiser aparecer) com segmentos mostrando os que estão no evento, entrevistas com os nomes que marcarão presença – desde os devs mais famosos até os influencers e pro-players – influenciadores passeando pelos corredores, campeonatos menores e brincadeiras (em nome dos memes)… Enfim. As possibilidades são inúmeras e, com o devido tratamento, o potencial é enorme.

Sobre o legado (e os ossos) da E3, podemos erguer o mercado de games brasileiro.

Formado em Design de Games pela Universidade Anhembi Morumbi e com mais de 5 anos de experiência como Motion Designer e Editor de Vídeo, já palestrou sobre GameDev e leva os joguinhos à sério por mais que sua mãe diga que não dá dinheiro (não dá)

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