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Crítica | Monster

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Crítica | Monster

Com narrativa que se descontrói e olhar atento aos detalhes, Monster (2023) aborda temas da juventude em uma experiência velada.

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Hirokazu Koreeda na direção e Ryuichi Sakamoto na trilha sonora: o que mais um filme precisa? É curioso, porque o destaque que eu não estava esperando em Monster (2023) é justamente o roteiro. Assim que o título chegou ao Brasil, eu assisti ciente do prêmio de melhor roteiro que o longa obteve em Cannes. Porém, não conhecia nenhum trabalho de Yuji Sakamoto além de We Made a Beautiful Bouquet (2021) – romance melodramático, focado em cortes temporais e informações rápidas, que tenta fazer muita coisa; falhando em algumas e emocionando em outras. 

Um olhar para o estigma social na infância

Monster (2023) relata, numa passividade observacional, a história de dois estudantes, Minato Mugino (Sōya Kurokawa) e Yori Hoshikawa (Hinata Hiiragi). Minato enfrenta problemas familiares com sua mãe, a viúva Saori Mugino (Sakura Andō) – relacionado a um vívido luto pelo seu pai –, juntamente a problemas na escola com o professor Michitoshi Hori (Eita Nagayama). Apesar de ter um elenco pequeno, o filme aproveita bastante os personagens e suas histórias, mas tudo conflui para a relação difícil entre os dois colegas de colégio – Yori é cativante nesse processo. 

A passividade a que me refiro é a naturalidade da direção de Koreeda, que não deixa tudo explícito, se contendo ao relatar a vivência natural através das imagens, das atuações silenciosas e dos diálogos contidos, bobos, dispersos – mas que são profundos pela transformação que ganham. Essa dimensão é elevada pelo roteiro, que “desvenda” a narrativa ao contá-la em perspectivas diferentes. Koreeda retém o sentimento profundo que vive no interior do filme e Sakamoto desvela no roteiro que se monta e remonta continuamente – Rashomon (1950).

Monster 2023 personagens

Eu considero este longa o melhor de 2023, já tendo uma grande admiração pelo diretor. Ele engloba questões familiares, como em Pais e Filhos (2008) e Shoplifters (2018), mas traz um sentimento profundo e velado, como o luto em A Luz da Ilusão (1995) – meu favorito junto com Seguindo em Frente (2008). Ele vai na contramão de toda direção expositiva e autoexplicativa que os filmes hollywoodianos saturaram e falham em se desprender. Claro que a temática, focada na sexualidade dos personagens e nos seus desafios, é o que nos envolve e é núcleo do título, que, por conta disso, ganhou um Queer Palm em Cannes. 

Monster guarda o último trabalho de Ryuichi Sakamoto

O premiado compositor Ryuichi Sakamoto, que faleceu ano passado, nos presenteou com uma trilha sonora belíssima, leve, sensível, que é proveitosa de se ouvir nos cinemas, reverberando nos tons verdes dos cenários – sendo um dos seus últimos presentes. Conversa com as imagens, se relaciona, mas preserva seu silêncio e sua ambiência – que é o próprio respirar do espaço. Em consonância com os elementos estéticos, a atuação dos personagens nos toca, tendo seus arcos bem focados, mas quem carrega o filme, em grande parte, é a atriz Sakura Andō, que dá vida ao papel e ao longa. 

Por fim, li muitas comparações ao excelente filme belga Close (2022), e apesar das semelhanças da temática do enredo, acho que ambos traçam caminhos bem distintos. Enquanto o longa europeu se fecha no sofrimento angustiante do luto – parecido com o já citado A Luz da Ilusão (1995) –, Monster (2023) sofre, mas se abre aos poucos, num enigma, a uma felicidade necessária e libertadora. 

“Se apenas algumas pessoas podem tê-lo, isso não é felicidade. Apenas não faz sentido. A felicidade é algo que qualquer pessoa pode ter.” 

Considero Koreeda um dos melhores cineastas japoneses da atualidade, ao lado de Ryusuke Hamaguchi, justamente por explorar novas formas de trabalhar os temas que fazem o seu cinema ser o que é. É um diretor que renova o vazio encontrado nos clássicos de Yasujiro Ozu – elemento que retornou em autores atuais como o taiwanês Hou Hsiao-hsien. Ainda assim, me resta um desejo de uma maior atenção geral ao cinema japonês, que apresentou muita qualidade nestes últimos anos, mesmo não batendo de frente com os filmes que naturalmente ganham os holofotes pelo apelo comercial.

Jornalista, especialista em Metafísica e Epistemologia (UFCA) e Filosofia e Autoconhecimento (PUCRS). Sou apaixonado por cinema, filosofia, música e literatura. Confluo essas áreas na escrita das minhas críticas.

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