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Análise | The Outer Worlds: Uma obra-prima nos confins da galáxia

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Análise | The Outer Worlds: Uma obra-prima nos confins da galáxia

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Quando eu vi pela primeira vez o trailer de The Outer Worlds sendo mostrado no TGA 2018, eu fiquei legitimamente feliz sobre o retorno da Obsidian ao formato de jogo que me fez adorá-la, que é o formato apresentado em Fallout New Vegas. Na época, acreditava firmemente que God of War, o de 2018, era meu jogo predileto por toda a jornada que passei. Agora, observando tudo que The Outer Worlds mostrou a mim pelos seus méritos, e como ele fala sobre a indústria em si em 2019, consigo dizer com propriedade que esse é o meu jogo favorito, meu GOTY de 2019, e vai ser necessário um belo esforço para tentar destroná-lo. Dito isso, vamos por partes.

The Outer Worlds é um jogo desenvolvido pela Obsidian, criadora de Fallout New Vegas, Pillars of Eternity, Knights of The Old Republic 2, entre outros jogos, e publicado pela Private Division, subsidiária da 2K Games que tem foco na publicação de jogos independentes. O game foi lançado em 25 de Outubro de 2019 para PS4, Xbox One e PC, com uma versão de Nintendo Switch saindo em 2020. A história de The Outer Worlds se passa nos confins da galáxia, onde uma nave de colonos em sono criogênico – denominada Esperança – que estava programada em uma viagem de 30 anos, acabou demorando mais de 50 anos para cumprir seu trajeto, dada a necessidade de economizar combustível. Nesta nave, o Dr. Phineas Welles, cientista fugitivo procurado pelo Conselho – uma das facções que domina a região de Bonança, que é onde o jogo se passa – descongela um dos tripulantes da nave em questão, na esperança de que ele possa de alguma forma descongelar seus colegas e trazer esperança para uma galáxia dominada por um feudalismo corporativo, onde empresas provém lei, segurança e saúde (e é bem questionável).

A premissa do jogo é bem interessante, desviando do seu antecessor espiritual, Fallout New Vegas, que tinha uma história sobre vingança. O roteiro do jogo é muito bem escrito, apresentando um universo que ao mesmo tempo em que esbanja cores e luzes, é também desesperador, enfurecedor e triste. Quem acreditou que o jogo seria cheio apenas de um humor nos moldes de Guardiões da Galáxia vai se surpreender quando se deparar com a frieza de algumas características de Bonança. Um exemplo é uma sidequest no início do game: o jogador é contratado para cobrar moradores de Pontágua, a cidade inicial do game, a respeito de suas dívidas com um seguro de túmulos, onde eles pagam para ter um local de enterro no dia de suas mortes. Uma moradora do local está pagando pelo túmulo de outra pessoa, visto que ela se tornou responsável por ser a pessoa mais próxima a ele… geograficamente. Ainda, ela relata que o suicídio é um ato de vandalismo, pois é uma forma de danificar a propriedade das empresas que dominam a região. Para um jogo que não seria “Politicamente carregado”, como Leonard Boyarsky, co-diretor do game, disse em uma entrevista, esse jogo é bem incisivo em suas mensagens. Essa coragem de se opor ao corporativismo com The Outer Worlds é importante, e ao mesmo tempo é uma expressão artística dos tempos difíceis pelos quais a empresa passou desde 2010. É um sinal de autenticidade e real envolvimento na produção.

Essa autenticidade não vive apenas em suas mensagens, pois a forma como o jogo dá liberdade ao jogador é presente, eficiente e tem peso, não se limitando a apenas uma cutscene, afetando a forma como o mundo e as pessoas que vivem nele se comportam. O game conta com um sistema de facções, onde as suas ações afetam como as diferentes corporações e movimentos deslocados do meio corporativo se comportam a respeito do jogador. É possível ser amigo de todas as facções, e ser inimigo de todas elas também, além da possibilidade de eliminar quase todos os NPCs presentes no game (exceto um, que é uma Inteligência Artificial), o que cria um leque de possibilidades para a jornada.

Indo além da interação do jogador com a história, a narrativa em si é bem estruturada e tem pontos importantes e interessantes ao jogador, por mais que ao observar o conjunto da obra, a storyline principal não tenha um destaque notável, visto que o jogo é repleto de conteúdos que são tão divertidos e interessantes quanto. Quanto aos mapas, The Outer Worlds toma uma decisão sensata e cria mapas mais limitados em tamanho, porém, repletos de conteúdo. Não espere dimensões similares às de GTA V; é possível explorar todos os mapas de The Outer Worlds em uma velocidade bem maior que o esperado, porém, o jogo não é carente de conteúdo, mudando apenas a forma de distribuir e oferecer esse conteúdo, de forma mais densa e enxuta do que na maioria dos jogos que fazem uso de enormes mundos abertos. Esse game é repleto de sidequests, com os mais diversos tipos de objetivos, além de missões de fidelidade dos membros da Falível, a nave principal do game. Virar o jogo todo de cima a baixo, completando todos os objetivos e missões passa a marca das 30 horas, o que é um tempo substancial, considerando que os desenvolvedores optaram por evitar mapas imensos cheios de colecionáveis insignificantes e missões triviais. Toda sidequest tem uma história, personagens e, em algumas vezes, plot twists realmente legais, que somam ao universo criado por Cain e Boyarsky.

 

Outro aspecto onde Outer Worlds brilha com força é a qualidade do desenvolvimento de personagens. Dá pra se perceber que cada um deles foi feito com esmero, e um foco ainda maior para quem tem um envolvimento direto com o personagem principal. Eles têm personalidades únicas, sonhos, objetivos, e em algumas questlines, amores, e você pode influenciar essas personalidades em diversas ocasiões, por meio de suas palavras e ações. Essa qualidade no âmbito de personagens é exaltada por meio de um excelente sistema de diálogos, que permite diversas formas de solução de problemas ou obtenção de informações, explorando todas as capacidades que forem definidas ao protagonista. Nas opções de diálogo temos Persuadir, Mentir e Intimidar, que podem interferir no decorrer de sidequests, além de outras opções presentes em diálogos específicos, onde conhecimento alto de alguns atributos, como Ciência, podem resolver um problema com maior facilidade. A parte mais interessante é que esses atributos sociais tem uma interferência direta em combate também, causando efeitos especiais em certos tipos de inimigos, como bagunçar o sistema de “amigo-inimigo” de alguns oponentes robóticos, ou fazer saqueadores fugirem com medo quando você inicia um combate.

Falando dos atributos, The Outer Worlds tem uma abordagem diferenciada desse sistema, com upgrades em seções, ao invés de atributos únicos, ao menos até a marca de 50 pontos investidos. Essa nova característica ajuda na construção de builds e na facilitação de melhorias em diálogos, visto que em New Vegas era quase obrigatório investir pontos em Speech para resolver problemas e ganhar bônus, o que limitava diversos playthroughs. Além dessa nova forma de investimento em pontos, os atributos vão além de definições em específico, tendo funções dentro de combate, como mencionado a respeito das melhorias em habilidades sociais, e também em um uso mais eficiente em um novo tipo de armamento apresentado no game: as armas científicas. Essa decisão foi inteligente e bem aplicada pela Obsidian, enriquecendo ainda mais o sistema de upgrades. Fora as habilidades, também existem as aptidões, que são benefícios únicos que um jogador obtém a cada 2 níveis, e elas consistem de melhorias em características específicas para o personagem, como aumento de capacidade de carga, diminuição do tempo de recarga de skills, eficiência em certos atributos quando sozinho ou acompanhado, entre outros, e os companions também tem aptidões.

Os visuais de The Outer Worlds são belíssimos, seja em sua qualidade gráfica ou em sua direção artística. Os desenvolvedores realmente arregaçaram as mangas e criaram uma identidade visual única para o game, com uma camada de retrofuturismo que dá um sabor especial ao game. O uso variado e inteligente da coloração e da iluminação ajuda a dar à região de Bonança uma personalidade e vida que são parte integrante do charme presente no game.Além da direção artística presente nas armas, trajes e cidades, a natureza também é fascinante visualmente. Mesmo com mapas menores em extensão, cada local é único, e tem seu charme especial.

O adicional a esses visuais estonteantes está no desempenho do game. Bem otimizado, fluido, sem problemas graves nos gráficos, nem texturas porcas com promessas de “16 vezes mais detalhes”. Além disso, o jogo não sofre com crashes aleatórios em sua maior parte, ou mesmo outros tipos de bugs visuais e de texturas. O mérito dessa melhoria em desempenho está no motor gráfico que eles utilizam, que é o Unreal Engine 4. Altamente versátil e com grande potencial, esse motor mostra que deve ser o exemplo a ser seguido quando o assunto é desenvolvimento de RPG’s, visto que ele não deixa a desejar.

O gunplay é tudo de melhor que já foi oferecido pela Obsidian em New Vegas, com um combate fluido, que tem peso e impacto em cada ataque desferido. Pode-se perceber que houve uma atenção aos detalhes, e, como de praxe pela Obsidian, eles conseguiram colocar uma camada de complexidade ao combate, com seu sistema de dilatação temporal. Esse sistema se baseia em um bullet time, onde o personagem pode atacar o inimigo de várias formas, ao mesmo tempo que consegue se mover um pouco mais rápido que os outros, dando a essa ferramenta utilidade em diversos tipos de build. Fora a própria eficácia dessa ferramenta, ela ainda tem efeitos diferentes para cada tipo de ataque efetuado ao inimigo, incluindo efeitos de arma, por exemplo: Um tiro no braço diminui a eficiência que o oponente teria com as suas armas, enquanto um tiro na cabeça o cegaria, impossibilitando sua efetividade em combate. 

É clara a inspiração no VATS, sistema de auxílio de mira da franquia Fallout, porém, o game consegue evoluir essa mecânica e integrá-la ao jogo de forma que ela não soe como um auxílio, ou uma “muleta” para uma jogabilidade problemática, mas sim um complemento natural ao combate. Além dessas mecânicas, The Outer Worlds também conta com habilidades únicas dos companheiros para o combate, em melhorias para skills e também em habilidades ativas. Elas consistem de dois tipos: ataques físicos e barragens de tiros, e por mais que em sua execução eles variem (a Parvati dá uma martelada no chão, enquanto o Felix dá uma voadora com os dois pés no inimigo), a utilidade dessas habilidades ativas é bem direta, no caso, aplicar status negativos ao inimigo, além de um dano direto. Elas tem um tempo de recarga, então o ideal é utilizá-las em inimigos mais fortes, que demandem mais do jogador (acredite, tem vários do tipo).

Os armamentos utilizados neste jogo também são formidáveis, sejam em seu estilo, ou mesmo em seus efeitos. Contamos com armas balísticas, de energia, armas brancas de diversos tipos, além de uma gama variada de armas pesadas, acompanhadas pelas armas científicas, anteriormente mencionadas. Estas armas científicas são as mais criativas e diferentes no arsenal disponível em The Outer Worlds. Armas de controle mental, encolhimento, canhões de gosma, abusando da criatividade e imaginação, para criar uma seleção de armas que não enjoa, nem cansa o jogador, e considerando a facilidade em evoluir habilidades até o nível 50, é possível que haja uma fluidez na gameplay, sem deixar o jogador dependente de uma ou duas armas. Essa decisão é um acerto imenso, pois incentiva uma certa exploração e variação ao jogador, sem prejudicar sua build.

Sobre a dificuldade, The Outer Worlds tem seus altos e baixos. O game conta com os modos Fácil, Normal, Difícil e Supernova, que seria o equivalente ao modo Hardcore de Fallout New Vegas: Fome e sede importam, companions derrotados em combate morrem de vez, tudo é mais difícil e doloroso. No modo normal, o game é bem balanceado, com diversas batalhas sendo mais leves, enquanto encontros com inimigos mais fortes testam mais do jogador e do seu potencial de uso das mecânicas. Dito isso, ainda é possível zerar grande parte do game sem precisar de qualquer item de auxílio, com exceção da batalha final, que cobra mais do jogador. 

O game merece diversos elogios, porém, ele não é imaculado. Pode-se perceber que a versão de PC do game é a que mais sofre, com alguns problemas em renderização, e alguns crashes em certos momentos. O incômodo vem do fato de que esses problemas são quase exclusivos da versão para computadores, com PS4 e XBOX ONE tendo maior polimento e cuidado com sua qualidade.

Dito isso, The Outer Worlds ainda é uma obra-prima. Sem a menor dúvida. Repleto de esmero, esforço e dedicação, esse jogo é uma experiência autêntica, ao mesmo tempo que diz muito sobre a Obsidian e as dificuldades que passou em seus últimos anos, cobertos por um humor eficiente, uma gameplay divertida e variada e visuais incríveis. No início dessa análise eu disse que eu acreditava que God of War, de 2018, seria meu game predileto por um bom tempo, mas em The Outer Worlds eu vi a mesma genialidade, esforço e paixão em criar um universo como eu vi na última jornada de Kratos, porém, esse game foi feito por uma desenvolvedora que sempre esteve nas cordas, mas agora tem sua real chance de brilhar.

Em suma: joguem. (Ele tá de graça no Xbox Game Pass, pra PC e XBOX ONE.)

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