Análise | The Chant (PS5) é um survival horror que poderia ser mais assustador

O gênero de horror já produziu obras inesquecíveis no mundo dos games como Resident Evil, Sillent Hill, entre outros. Sendo assim, não é uma tarefa fácil criar algo novo nesse campo e a estratégia mais comum utilizada pelos desenvolvedores é explorar temáticas e mecânicas que já foram usadas em outros jogos e apenas refinar o material. Essa é a sensação que o jogador terá ao jogar The Chant, apesar de o jogo nem sempre acertar na forma como ele usa seus elementos.

The Chant acompanha a história de Jess, uma jovem que decide visitar sua amiga de infância em uma ilha aparentemente tranquila para tentar curar seus traumas pela morte de sua irmã. Lá funciona uma espécie de “retiro espiritual” que promete trazer paz ao espírito e purificar a alma. O problema é que em pouco tempo todos sinais vermelhos começam a acender na cabeça de Jess, indicando que teria sido melhor ficar em casa.

Esses sinais ficam claros quando Jess e os outros participantes do retiro participam de uma sessão de cântico e algo inesperado acontece, infestando a ilha com criaturas de outra dimensão como se um portal para um mundo de trevas tivesse sido aberto. 

O pior de tudo é que essas criaturas parecem ser atraídas pelos sentimentos negativos dos hóspedes desse retiro, então Jess acaba tendo um trabalho em dobro ao ter que lidar com os problemas pessoais de cada personagem ao mesmo tempo que precisa enfrentar os monstros da ilha.

Dessa forma, mais do que um game de terror, The Chant busca contar a história sobre uma jovem que deseja se livrar da culpa pela morte da irmã. Uma história de redenção (e aceitação), em outras palavras. O elemento do terror aqui serve mais como um auxílio narrativo para materializar os medos e traumas das personagens e permitir que o jogador busque formas para eliminá-los antes que consumam seus portadores.

E ao contrário de outros games do gênero, Jess está longe de ser uma protagonista típica com atitude, força e determinação, pois ela é extremamente vulnerável. Tanto é verdade que logo no começo sua primeira arma é um punhado de folhas de plantas para acender e espantar moscas. Jess está apenas tentando sobreviver e ela precisará fazer isso completamente sozinha.

A história do game também possui um rico enredo que pode ser encontrado em documentos ou em conversas opcionais com alguns personagens. Mais do que enfrentar as terríveis criaturas que infestam a ilha, Jess também terá que resolver alguns puzzles e elucidar os mistérios que cercam a história da da localidade, do retiro e da filosofia sobre a “ciência prísmica”.

Logo de início, The Chant parece estar no caminho certo de um bom game de survival  horror ao cumprir vários requisitos do gênero, mas mesmo assim fica evidente nas primeiras horas de gameplay que existe algo faltando e que impede o game de atingir seu verdadeiro potencial. 

Uma das mecânicas que parece subaproveitada no game é o nível de estresse e energia espiritual de Jess. Enquanto seu nível de estresse pode aumentar até chegar ao ponto de deixar a protagonista esgotada mentalmente e à beira de um ataque de pânico, a energia espiritual é necessária para equilibrar sua mente. Porém, não é estritamente necessário ao jogador ficar atento a esses medidores a todo instante, pois eles recarregam automaticamente quando Jess não está em perigo.

Mesmo os puzzles não oferecem um nível alto de desafio comparado a outros em games semelhantes. Muitos deles envolvem procurar por itens espalhados em diferentes localidades ou combinar partes de peças para criar chaves e outros dispositivos. 

O que pode surpreender alguns jogadores é como o combate pode ser complicado para aqueles que não estão acostumados a esse tipo de mecânica em jogos do horror. As criaturas nascidas da “névoa” – uma espécie de entidade de outra dimensão que pode assumir muitas formas tenebrosas – são muito ágeis e podem provocar muitos danos se tocarem um dedo em Jess. Por isso, é preciso ser ágil ao desviar e correr delas. Além disso, as armas escassas de Jess não provocam muito dano às criaturas e estão lá mais para afastá-las do que destruí-las.

The Chant não é um game ruim, mas possui muitos elementos malaproveitados. Em termos de história não existe nada que você vai encontrar aqui que já não tenha sido explorado pelo gênero do horror em outras mídias. Além disso, não existem sustos aqui mas apenas um medo de quase constante que apenas um toque das criaturas pode matar a frágil protagonista.

Apesar disso, se você procura uma boa experiência em survival horror com mistério interessante para desvendar, The Chant será uma ótima escolha. Em termos de visual ele pode não parecer algo destinado a geração atual de consoles, mas a ambientação tenebrosa da ilha e o design das criaturas da névoa compensam e criam um clima perfeito de terror.