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Relato | Como Ragnarok me fez apreciar ainda mais God of War (2018)

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Relato | Como Ragnarok me fez apreciar ainda mais God of War (2018)

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(Este texto não possui spoilers de God of War Ragnarok).

Acho que não existe nenhum tipo de decepção pior que jogar um game aclamado que você sabe que é bom, mas ainda assim não conseguir clicar com você. Pior até mesmo que jogar um game genuinamente ruim, pois aquele vazio que fica dentro de nós parece não ser preenchido com absolutamente nada, e enquanto várias pessoas passam a falar das várias qualidades desse tal jogo e como suas experiências foram marcantes, nós ficamos lá no fundo apenas desejando ter passado pela mesma situação. Esse era o meu caso com God of War (2018), até eu finalizar seu último título, o Ragnarok

Voltando um pouco mais no tempo, digo que a franquia por inteira nunca foi o meu tipo de jogo. Tive a oportunidade de jogar o primeiro título no PlayStation 2 mas nunca cheguei a finalizá-lo, e foi só neste ano que de fato concluí os três títulos da trilogia da saga grega em sequência e, apesar de ter gostado do combate – principalmente do que viria a tornar-se meu combate favorito da série com God of War 3 – a ótima direção de arte e as setpieces grandiosas e impressionantes, ainda assim não era o suficiente para me cativar. Talvez seja por eu odiar a persona do Kratos a partir do God of War 2? Ou por esses games serem produtos de sua época e certas representações já não serem mais socialmente aceitas hoje em dia? Bem, não sei. Só sei que God of War, apesar de suas inúmeras qualidades, não era o tipo de jogo que ficaria colado em minha mente por muito tempo.

E é aí que entra Dad of Boy. Quer dizer, God of War (2018). A reimaginação da franquia, ambientada na mitologia nórdica e conduzida por Cory Barlog chamou atenção até mesmo daqueles que nunca foram com a cara da franquia (eu) durante a sua marcante apresentação na E3 2016. Na época, eu só tinha lembranças não muito boas da minha experiência com o primeiro jogo, e a nova abordagem apresentada na conferência da Sony parecia ser a chance perfeita de ganhar o apelo que nunca tive com a franquia. E deu certo? Bem…

God of War (2018) é um excelente jogo, isso é algo que não posso negar, mas ainda faltava o tempero necessário para que ele pudesse me fisgar assim como fisgou o coração do público e da crítica naquele ano. Talvez seja por que eu ainda não tinha a bagagem da saga grega e caí direto na nórdica achando que não haveria uma continuidade tão evidente? Ou será que é porque algumas inconsistências na narrativa me incomodavam demais? Apenas aceitei novamente que o Dad of Boi não trouxe o apelo que achei que traria, e eu contava justamente com o recente Ragnarok para trazer aquele tempero extra que achei que precisava. 

Para o Ragnarok, eu fiz aquilo que citei logo nos parágrafos iniciais: joguei todos os três jogos principais da saga grega do início ao fim no intuito de criar a bagagem que achei que faltava quando joguei o 2018 pela primeira vez, e também revisitei Dad of Boy para ter todos os acontecimentos bem frescos na minha mente para quando sua continuação chegasse. E o fim do mundo nórdico, enfim, chegou. Ragnarok estava finalmente em minhas mãos e durante as mais de 30h viajando pelos nove reinos, comecei a perceber que “Cara, como God of War 2018 é bom, né?”

Eu gosto de coisas intimistas, adoro esses tipos de história que botam seus personagens em primeiro lugar. Ainda que Ragnarok seja sobre os deuses e mortais que fazem parte daquele universo e de suas fragilizadas relações familiares, ele ainda consegue dar espaço para aquele show de pirotecnia e grandiosidade que encontrávamos nos jogos anteriores à saga nórdica. Afinal, estamos presenciando o fim do mundo nórdico e nada mais justo este retorno às origens nos vários excelentes momentos de Ragnarok, e nada mais justo também que um elenco maior esteja lá para compor esta história.

Mas foram exatamente nesses momentos que me peguei pensando naquela jornada mais pessoal entre um deus grego com traumas do passado e seu filho que mal o conhece direito enquanto navegam no calmo Lago dos Nove junto de uma cabeça falante, compartilhando histórias sem graça ou algum conhecimento relacionado aos deuses Aesir rumo ao pico mais alto dos nove reinos. Como eu disse anteriormente, eu gosto de narrativas mais intimistas, e foi justamente durante os grandes momentos de Ragnarok que percebi que é nos pequenos momentos de God of War 2018 que a franquia conversava melhor comigo.

Em God of War 2018 ainda não conhecemos grande parte das figuras mais icônicas da mitologia nórdica. Só sabemos que Thor é um grande babaca graças aos vários relatos do Mimir e outros NPCs de Midgard. Odin inclusive é um grande mistério, sequer há uma imagem ou estátua nos dando uma pista de sua aparência, sem contar que seus inúmeros corvos espalhados pelos nove reinos parecem estar vigiando cada passo da jornada de Kratos e Atreus.

Não só as figuras são desconhecidas para nós, como o próprio novo universo da franquia também é a grande novidade do título. É um absoluto deleite ter a chance de desbravar Midgard pela primeira vez, conhecer o Lago dos Nove e vê-lo desbloquear novas áreas a cada vez que as águas baixam de nível, e até mesmo descobrir que é possível viajar para reinos diferentes quando acessamos a Sala de Viagem de Týr pela primeira vez. Tudo é novidade tanto para Kratos quanto para o jogador, e é esse senso de descoberta que acabou por virar aquele apelo que a franquia precisava para me fisgar.

Você pode me questionar que em Ragnarok ainda há muita coisa a ser descoberta no mundo nórdico do jogo. E eu concordo, é verdade. Todos os nove reinos agora estão abertos para o jogador desbravar à vontade, mas o título acaba por perder aquele impacto gerado pelo seu antecessor pois Ragnarok se passa justamente em um universo já previamente estabelecido. Ainda que possua muitas coisas novas para mostrar e personagens para introduzir, a sensação de sermos forasteiros no mundo nórdico já não possui o mesmo peso de antes. E aquele sentimento de uma jornada mais solitária e pessoal dá espaço a um evento de escala de proporções gigantescas.

Não pense que a abordagem de Ragnarok está sendo citada como um ponto negativo aqui, muito pelo contrário, o jogo faz um ótimo trabalho dividindo seu tempo entre o desenvolvimento de personagens e as consequências do fim do mundo. O que ocorre aqui é que God of War 2018 possui o tipo de abordagem que melhor conversa comigo, e é na calmaria e nos momentos mais introspectivos, tanto narrativamente quanto na exploração, que a franquia atinge seus pontos mais altos em minha visão.

O meu momento favorito de toda a saga God of War não ocorre subindo gigantes ou desafiando deuses, ocorre justamente em uma longa sequência de caminhada, conduzindo brilhantemente até o maior clímax do jogo de 2018. É quando Atreus adoece de vez que acompanhamos toda a apreensão de Kratos por longos minutos. Sua respiração fica mais intensa e em nenhum momento uma palavra é dita. Tudo o que sabemos é que o deus da guerra precisa revisitar um pedaço de um passado que ele quer esquecer, tudo isso para não cometer os mesmos erros que ele cometeu. E é aqui que a escolha da câmera única se casa perfeitamente com a narrativa.

Acompanhamos Kratos descendo o rio até sua casa com uma câmera muito mais próxima de seus ombros do que durante as seções de combate. É neste momento de puro silêncio que entramos na mente de Kratos e ficamos mais próximos de seus pensamentos. Foram suas próprias ações durante aquela jornada que levou Atreus a adoecer, e o que ele precisará fazer a seguir irá ocasionar na melhor cena de toda a série.

O retorno das Lâminas do Caos não ocorre em nenhum tipo de espetáculo ou momento de uma luta decisiva. É em uma sequência simples, mas ao mesmo tempo bastante poderosa, que Kratos toma a decisão de desenterrar a arma que matou sua antiga família, em ordem de salvar sua nova. Toda a construção dessa sequência que o levou até as lâminas é um exemplo perfeito de que momentos mais introspectivos também ocasionam em eventos bastante impactantes. Há muita simbologia aqui e diversas interpretações que podemos tirar apenas de uma cena do Kratos pegando uma arma, e são esses tipos de momentos – vários em God of War 2018, inclusive – que permanecem mais tempo em minha memória.

É um tanto quanto estranho perceber que levou-se tanto tempo para que um título de God of War pudesse finalmente clicar comigo. Mas não deixo de agradecer Ragnarok por ter, depois de tanto tempo, me ajudado a enxergar várias das qualidades não só de God of War 2018 como a saga nórdica no geral. 

No momento da publicação deste texto, eu ainda estarei aproveitando cada pedacinho restante dos nove reinos de Ragnarok em busca da platina, pois é na exploração destes títulos que a saga nórdica tem o melhor a oferecer. Mas confesso também que mal posso esperar para retornar mais uma vez ao 2018 após tudo isso. O primeiro encontro com Baldur, caçar com Atreus, dar de cara com Jormungand e desbravar Midgard como se fosse a primeira vez são alguns dos momentos favoritos da franquia, e é nesse sentimento de descoberta de algo novo que é o que faz God of War 2018 ser o meu jogo favorito da série.

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