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Análise | Darkest Dungeon II: carroças, manchas e grinding

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Análise | Darkest Dungeon II: carroças, manchas e grinding

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Por onde eu começo?

Darkest Dungeon II é uma aventura que, na falta de uma palavra melhor, usarei o vocábulo”desagradável” para definir. A verdade é que, assim como o primeiro jogo de 2015, DD2 continua a ser uma experiência extremamente nichada, a qual não vai agradar a boa maioria dos consumidores por aí. E honestamente, o jogo e seus desenvolvedores sabem disso, e eles estão nem aí. E eu gosto disso.

Os desenvolvedores da Red Hook Studios sabem muito bem o que querem oferecer com seus títulos, e Darkest Dungeon II com certeza não foge daquilo que já experimentamos na entrada anterior. Entretanto, nem tudo são flores, pois o novo jogo muda algumas das familiaridades que desenvolvemos anteriormente.

Algumas dessas mudanças são boas e maravilhosas, outras acabam por ser maléficas, e as restantes, são feiamente executadas. Honestamente, DD2 tenta realmente se distanciar da possível ”mesmisse” que assombra muitas sequências, e arrisca muito. No fim ao caso, esses riscos compensam? Devemos então nos preparar bem e lutar pelo nosso caminho para descobrir. (mentira, vou falar pra você nessa análise)

Ok, eu tenho que confessar: eu amo Darkest Dungeon

Grave Robber, my beloved

Antes de irmos a fundo sobre Darkest Dungeon II, alguns podem não saber do que se trata a obra, ou melhor, o que ela realmente quer proporcionar ao jogador. Darkest Dungeon é um jogo difícil, rapaziada. Mas não to falando de um jogo ”difícil”, não, eu to falando de um jogo que vai chutar você, cuspir e ainda xingar sua mãe no final.

Darkest Dungeon é uma obra que se resume em: ”tente descobrir uma forma de encontrar vantagem numa situação totalmente desfavorável à você”. E honestamente, o simples fato do jogo não querer facilitar nunca a sua vida, já o faz ser algo totalmente difícil de se experimentar. Se você, querido leitor, não se sentiu fisgado com esse resumo da experiência, eu não lhe culpo. Gosto de pensar que os jogadores de Darkest Dungeon, são todos masoquistas que começaram a se odiar em algum ponto da vida.

OK CALMA, nossa, só to falando coisa negativa até agora, me pergunto se tem alguém lendo ainda. Mas é, Darkest Dungeon não é um jogo fácil de se recomendar, e você se pergunta agora do porquê de eu me dar ao trabalho de recomendar e fazer uma review de sua sequência. A verdade é que DD é um jogo muito diferente das coisas que existem por aí, e acredito que todo mundo merece dar uma chance pro primeiro e segundo jogo.

E o grande motivo de eu amar a obra, é que seus desenvolvedores possuem tanta paixão e determinação com o que fizeram. Existe um carinho tão gigantesco com os pequenos detalhes de ambos os jogos, detalhes que faltam (e muito) nos jogos mais moderninhos de hoje em dia. Como essa redação tem o objetivo de analisar o segundo título, fica a recomendação da leitura desse texto do meu querido amigo Morigoni, no qual esclarece bem um dos pontos fortes da franquia. Agora sim, vamos lá pra análise em sí.

Darkest Dungeon II é uma jornada para o desconhecido

”A Encruzilhada. Um lugar entre lugares.”

Desde o primeiro jogo, a série Darkest Dungeon explora o conceito do desconhecido, e isso se reflete tanto na história do game, como também na estética e design dos inimigos. Horror cósmico é o show central da estética decadente das obras, e sinceramente, é um dos melhores charmes artísticos que já vi num vídeo-game.

O jogo, assim como o primeiro, é um ”turn-based” RPG (que se joga por turnos) com elementos rogue-like, no qual dá a possibilidade da formação de uma party de quatro heróis, para enfrentar as ameaças mortais do mundo do jogo.  Abraçar a ideia do imprevisível é uma questão necessária para tornar a experiência mais cativante.

Tenha sempre a Paracelsus na sua party, me agradeça depois.

Como eu disse, você tem a possibilidade de formar uma composição de heróis/classes, na qual cada uma possuí vantagens e desvantagens em relação a posição que se instalam no campo de batalha. Analisar bem essas vantagens e desvantagens, é essencial para que o jogador entenda bem a posição e ação que deve ou deverá tomar em futuras decisões durante a jornada.

Entretanto, essas vantagens e desvantagens não se aplicam a apenas as habilidades que estas classes comportam, os veteranos de Darkest Dungeon sabem disso já, mas, seus heróis carregam ”traços” positivos negativos com eles. Esses traços, tecnicamente, são características próprias que dão personalidade e humanidade para seus personagens. Consequentemente, tais características podem refletir em vantagens e desvantagens dentro da gameplay, e novos traços e personalidades serão desenvolvidos durante a jornada também, pois, seus personagens são como nós: mudam perante o tempo.

Os relacionamentos no campo de batalha

Acho válido dedicar uma sessão inteira a isso, afinal, não só é um dos novos sistemas da sequência, como também é o foco de muita controvérsia entre os jogadores. E bem, por onde eu começo? Em Darkest Dungeon II, nossos jogadores possuem duas barras de vida. A primeira, nossa tradicional barra de pontos de vida, e a segunda, nossa barra de stress. Enquanto evitamos que a barra de vida se esgote, tentamos ao máximo em evitar que a barra de stress se preencha.

Desde o primeiro jogo, o stress é a mecânica carro chefe da franquia, pois por ela temos os momentos mais imprevisíveis da gameplay. Mediante ao stress máximo (10 pontos), seu personagem estará sujeito a uma rolagem de dados, na qual pode culminar num resultado negativo ou positivo para o desenrolar da batalha. Caso positivo, seu personagem saíra Determinado, culminando em buffs positivos e regeneração de vida, para que seu encontro seja uma vitória.

Entretanto, acostume-se com o oposto do resultado positivo, no qual o seu herói poderá entrar em Colapso, culminando não só numa perda de 90% da vida total, como também na desmoralização de todos os outros membros da party. Sim, é um 8-80 muito grande, que de certa forma, tornou-se uma mudança um tanto maléfica, pois no jogo anterior, existiam outros efeitos através dessas checagens de stress, e no momento, o sistema de Stress se resume a apenas esses dois espectros.

Somado a isso, e agora sim, chegamos no bendito sistema de Relacionamentos. Durante a sua jornada, os membros de sua composição irão desenvolver traços, lembra? Além disso, eles desenvolverão afinidades e relacionamentos entre si, se traduzindo através de uma mecânica de pontos de afinidade dentro do jogo. Muito parecido com o que temos na franquia Dragon Age (escrevi um texto muito bom sobre o Origins, vai dar uma lidinha).

Ou seja, você tem bastante pontos de afinidade entre dois membros? Parabéns, talvez eles irão se respeitar, amar ou serem grandes amigos. Vish, eles não possuem tantos pontos de afinidade assim? Azar seu, provavelmente eles terão inveja, ódio ou ressentimento entre si. Essas checagens de relacionamento, não só afetam a moralidade dos membros da equipe, mas afetam também as skills particulares de cada herói, trazendo tanto efeitos positivos ou negativos no uso dessas skills.

O pequeno problema no sistema de Relacionamentos

Você deve estar se perguntando, bem, como eu posso ter controle dessas relações entre meus personagens? A resposta é: o jogo finge que te dá controle sobre essa situação. Durante o caminho que os personagens trilharão, você poderá usufruir de itens e ou interações que podem ajudar no impulsionamento positivo dessas relações, entretanto, imprevisibilidade é uma coisa que lhe acompanhará durante o processo.

Honestamente, o sistema de Relacionamento é uma ideia muito bacana no papel, mas é extremamente difícil de jogar em volta dele, tanto na finalidade de adquirir os efeitos positivos, tanto quanto na desvantagem da maldição de seus efeitos negativos. Quando uma skill de um herói é afetada pelo debuff de relacionamento, ela simplesmente fica trancada para uso, e não há nada que você possa fazer. As vezes, a skill afeta até mesmo a composição na qual você pensou em jogar o personagem, e bem, se vira, você tem que usar ela agora.

O caminho a percorrer

Darkest Dungeon é um jogo RPG por turnos, e de certa forma, exige uma devida estratégia pelo jogador. Antes de cada ”expedição”, o jogador terá a possibilidade e vantagem para se preparar para o desconhecido. Itens, equipamentos, reorganização de skills e abordagens, tudo isso é essencial para o manuseamento dos sistemas de Darkest Dungeon II. Lembra das vantagens de composição? Bem, você tem que ficar de olho para que o tanque da sua equipe, faça o devido trabalho na linha de frente, tanto quanto o suporte na linha de trás.

Diferente do primeiro jogo, DD2 não possuí dungeons (oloco bixo), mas sim, uma jornada que você percorre através de uma carroça que também possuí sistemas para se manter. É necessário sempre ter um olho na condição da armadura e de suas rodas, assim, você não sofrerá as consequências de sua negligência.

Além disso, durante o trajeto de sua jornada, você terá objetivos tanto secundários quanto primários. Alguns desses objetivos, desbloqueiam a história, até então não contada, dos personagens que usamos desde o primeiro jogo. Uma surpresa extremamente agradável e prazerosa, que entretanto, disfarça uma mecânica frustrante: apenas através do grind do backstory dos heróis, que você poderá desbloquear novas skills.

E com isso vem uma coisa meio desagradável do game design de Darkest Dungeon II, mas, certas classes de heróis estão extremamente fracas na situação atual. Se você deseja jogar com a Vestal em seu time, meu amigo, se acostume a ideia de procurar os altares para desbloquear sua história. (recomendo muito, melhor tanque do jogo)

Um interlúdio positivo

Darkest Dungeon II

Vestal, my beloved.

Darkest Dungeon II é um jogo bonito, tipo, muito. Tudo isso se dá ao fato do jogo ter a perfeita direção de arte do Chris Bourassa, o artista que criou o mundo dos títulos, no qual se inspira muito nas tramoias de Mike Mignola, o criador de Hellboy.

Ambos os jogos possuem uma atmosfera extremamente magnífica, assim como o trabalho de design na criação desses ambientes lindamente imperfeitos e sujos, o qual despertam a curiosidade do jogador para se aprofundar mais e mais na loucura desses ambientes. Os heróis, como antes dito, são humanos que sofrem e não entendem nada, assim como o jogador, do que está acontecendo, e suas respectivas artes se traduzem em meio a esse mundo devastado.

Além disso, temos composições musicais magníficas feitas pelo incrível Stuart Chatwood, que não apenas ajudou a criar a tensão e atmosfera do mundo de Darkest Dungeon, como também realizou trabalhos magníficos anteriormente na franquia Prince of Persia da Ubisoft (ei Ubisoft, cadê o remake do Sands of Time?). No departamento artístico, Darkest Dungeon lhe proporcionará alguns dos melhores trabalhos da indústria de games, simplesmente magnífico.

O feio

Ok, Darkest Dungeon II possuí problemas, não muitos, mas possuí. A esse ponto do texto, você provavelmente já entendeu que não é um jogo para todos os tipos de públicos, e provavelmente entendeu que é um jogo difícil. Entretanto, Darkest Dungeon II simplesmente não possui ferramentas concretas para balancear a experiência por completo. Existem muitas mecânicas que poderiam ter tido mais aprofundamento e ou polimento, principalmente em relação ao sistema de Relacionamentos.

Além disso, existe já praticamente um consenso geral da comunidade em relação a quais heróis usar, e a quais heróis evitar na sua composição. Aparentemente, não existe motivo algum para você usar a Fugitiva e o Ocultista nas suas equipes. O porquê? Bem, eles simplesmente não funcionam, simples assim.

Somado a isso, vem a coisa que mais pegou com tudo e todos em relação ao jogo: a sua performance no PC. No momento que escrevo essa análise, o jogo possuí um problema muito profundo na performance e desempenho nos computadores de quase todos os jogadores. Considerando que o jogo possuiu um período de Early Access na Epic Games Store, é de se refletir que boa parte dessas otimizações já teriam sido executadas. Entretanto, cá estamos no lançamento da versão 1.0 do jogo, e o título sofre com quedas frequentes de FPS e superaquecimento de GPUs mais avançadas do mercado.

A esse ponto, considerando que o jogo teve um acesso antecipado, é inadmissível aceitar um título com esses problemas de performance. Sei que é praticamente algo de praxe nos lançamentos de jogos modernos, mas isso não deveria ser o ”comum”, o consumidor simplesmente não deveria aceitar esse tipo de comportamento pelas desenvolvedoras. Espero eu, que com as futuras atualizações, o jogo se torne mais otimizado e acessível para computadores mais humildes.

Considerações finais

Darkest Dungeon 2' to leave Early Access in May

Darkest Dungeon II não é um jogo perfeito, e fãs veteranos do primeiro jogo, provavelmente vão se sentir traídos com algumas mudanças, e de certa forma, não estarão errados em se sentir assim. No fim ao caso, Darkest Dungeon II me passa a sensação de um jogo que poderia ter tido mais tempo de forno antes de ser lançado oficialmente, pois ainda há muitas inconsistências no seu design para ser chamado de um lançamento 1.0 de fato.

Para os novatos curiosos e interessados na jornada de Darkest Dungeon II, posso lhe dizer que o título é uma experiência convidativa e ideal para os entusiastas de rogue-like e RPG. Além do mais, é uma experiência completamente diferente do primeiro título, e os observadores recentes acabarão se beneficiando disso, e não se sentirão traídos igual os fãs veteranos da série.

Darkest Dungeon II se encontra disponível, no momento, nas lojas digitais da Steam e da Epic Games Store.

Conhecedor dos estudos históricos, amante da arte dos vídeo-games, streamer, ex pro-player de HearthStone, ilustrador e escritor.

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