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Artigo | Cobrar mais caro por jogos da nova geração é justificável?
A apresentação oficial de NBA 2K21 na última semana recebeu bastante destaque de quem acompanha à industria dos videogames atentamente. Não apenas por causa das capas especiais envolvendo Kobe Bryant e nem mesmo por causa dos recursos de jogabilidade apresentados, os quais parecem semelhantes aos que foram vistos em jogos recentes da franquia.
Com a revelação dos preços de custo para quem pensa em adquirir este jogo, todos notaram a cobrança de 10 dólares (U$10) adicionais para as versões do jogo nos consoles de nova geração (PlayStation 5, Xbox Series X), mesmo que o jogo não contenha nenhuma função adicional ou especial que diferencie as versões em consoles da atual e próxima geração, com exceção apenas do aprimoramento gráfico, algo visto como obrigação para justificar a existência de qualquer novo console.
Normalmente, todos os jogos de lançamento nos Estados Unidos são cobrados pelo preço de U$59.99, um preço que os norte-americanos já se acostumaram à pagar desde o início da atual geração. O discurso oficial justificando a evolução tecnológica notável para o desenvolvimento dos jogos da geração anterior para a atual acabou sendo aceito, evitando assim manifestações contrárias ao preço médio cobrado. Entretanto, o cenário não está se repetindo desta vez.
O anúncio de U$69.99 de NBA 2K21 acabou criando suspeitas de que este será o preço médio que será cobrado para os jogos dos consoles na nova geração, uma tendência que logo foi confirmada através de um artigo da Games Industry publicado no início de julho, mostrando que a maioria considerável de publishers afirmaram que este será o novo preço à ser cobrado pelos jogos.
Através das redes sociais, foi notável a reprovação de diversas pessoas em relação à esta cobrança adicional, considerando o preço bastante caro e acima do adequado para comprar-se um jogo nos Estados Unidos (sorte dos norte-americanos em não saber o quanto pagamos por jogos no Brasil). Entretanto, certamente as publishers já estão preparando diversos discursos para explicar em detalhes os motivos de se cobrar à mais para os jogos da next-gen.
Contudo, se pararmos para analisarmos a situação racionalmente, podemos verificar que não há motivos técnicos consideráveis que favoreçam à narrativa do favorecimento do acréscimo dos preços de jogos no PlayStation 5 e Xbox Series X.
Desenvolvimento com preço estável
O custo de desenvolvimento dos jogos não representou nenhum aumento considerável nos últimos anos. As desenvolvedoras utilizam e seguirão utilizando as mesmas engines que trabalham atualmente para os jogos num futuro próximo. As atuais versões dos softwares de desenvolvimento terão suporte a next-gen.
Além disso, cabe ressaltar que as desenvolvedoras possuem estúdios em locais diversos, incluindo países onde o salário pago aos funcionários costuma ser baixo em relação aos EUA, como a Índia por exemplo.
Smart Delivery – Medida para baratear custo
Uma das funções da nex-gen que beneficiará os jogadores é o Smart Delivery da Microsoft, com o objetivo de evitar custos maiores ao consumidor. Ao comprar um determinado jogo que sairá para a atual e próxima geração, não será necessário compra-lo novamente e a melhor versão possível do mesmo rodará no Xbox One e no Xbox Series X.
Esta medida teoricamente reduz alguns lucros em potencial da Microsoft com seus jogos exclusivos, apesar de beneficiar os jogadores. Mas cabe ressaltar que a disponibilidade do Smart Delivery para os third-parties será de responsabilidade das publishers, visto que NBA 2K21 não terá este suporte.
Recordes de vendas em anos recentes
Segundo os relatórios fiscais mais recentes das principais empresas de videogames (Sony, Microsoft, Nintendo), a indústria segue promovendo consideráveis lucros com a venda de hardwares e principalmente de softwares, inclusive com um crescimento exponencial de oferta para diversas localidades do mundo nos últimos anos.
Inclusive, cabe ressaltar que a indústria têm registrado recordes de vendas com alguns jogos específicos. Em 2020, o novo Animal Crossing e The Last of Us 2 estabeleceram recordes para Nintendo Switch e PlayStation 5 por exemplo.
Aumento considerável do consumo digital
Por fim, causa estranheza um argumento a favor do aumento do “custo de produção” dos jogos nos últimos anos visto que vendas digitais tornaram-se uma realidade absoluta para a indústria. Haverá sempre a demanda para a venda física, mas cada vez mais pessoas estão adquirindo jogos apenas em formato digital.
Tanto que, na próxima geração, Sony e Microsoft terão versões de seus novos consoles sem entrada de disco, seguindo a atual tendência da digitalização pelo mundo, algo que diminui os custos ao invés de aumentá-los. Praticamente todas as publishers possuem parceiras com lojas digitais de consoles e PCs, obtendo lucros com estas vendas.
Conclusão
Devido aos motivos citados acima, acredita-se que não há muita justificativa razoável para defender o aumento do custo final para o consumidor. Atualmente no Brasil, paga-se em torno de R$300 para os lançamentos AAA, um valor que infelizmente tende a crescer para os jogos dos consoles de nova geração, os quais certamente chegarão ao país com custo elevadíssimo em relação aos EUA.
Diferentemente das gerações anteriores, em diversos jogos, o jogador não recebe a experiência completa quando adquire um “jogo completo”, pois vale ressaltar que diversos jogos estão tomados por DLCs e microtransações, expansões que representam ainda maior custo para o consumidor.
Então, o aumento de 10 dólares poderá representar um custo significativamente maior para os jogadores com a próxima geração de consoles. Os norte-americanos já possuem um enorme receio de pagarem por consoles considerados caros acima de U$500 (considerando que o Xbox Series X possui um expectativa de ser “menos caro” que o PlayStation 5). Infelizmente, este receio poderá ser compartilhado por diversos jogadores pelo mundo, pois o aumento significativo de custo está demonstrando ser cada vez mais real.