Observation, jogo de ficção científica desenvolvido pela No Code e publicado pela Devolver Digital, é um thriller que te coloca no papel de SAM, uma inteligência artificial que está integrada a nave Observation. A história se inicia em 2026, com a nave na órbita da Terra. Emma Fisher, doutora e principal aliada de SAM, acorda e percebe que a nave está vazia. Por sua vez, SAM, após fazer uma análise, relata que várias cápsulas que a integram estão com defeitos e problemas. Ao consertá-los, algo acontece, e a Observation se transporta para a órbita de Saturno. Ali começa uma jornada aonde Emma e SAM precisam encontrar os outros tripulantes da nave e achar um caminho para casa, enquanto tentam entender a razão de estarem lá.

A história de Observation é excelente, contada por meio das interações e do progresso da narrativa, ao mesmo tempo que diversos documentos encontrados no cenário dão mais informações a respeito dos tripulantes e do que veio antes desse incidente. Sem dar muitos detalhes a respeito de revelações do roteiro, Observation mistura muito bem contextos mais complexos da astrofísica com uma identidade visual e arquitetônica bem baseada na nossa realidade, criando momentos surpreendentes quando o jogo mostra as revelações da história. Minha experiência com o jogo me causou uma sensação um tanto quanto similar à que tive assistindo Interestelar, pois assim como a Endurance, todas as cápsulas da nave titular do jogo parecem muito condizentes com o que a humanidade realmente faria em seus programas espaciais. Nada apelando para motores de dobra, ou teletransportes que funcionam em um instante. Tudo tem uma base crível, por mais que o plot eventualmente apresente conceitos mais distanciados do que experienciamos em nossa realidade.

O posicionamento do SAM no enredo do jogo é muito interessante, visto que não estamos controlando o protagonista dessa história, mas sim auxiliando Emma, a real personagem principal dessa jornada. Essa mudança de papéis traz ar fresco para o jogo, trazendo novas possibilidades e surpresas para SAM, que vê coisas que a tripulação pode não ser capaz de observar. No fim, como o nome do jogo diz, SAM está observando, ao mesmo tempo que ajuda Fisher.

Os visuais são excelentes em sua proposta, misturando um design mais próximo do moderno, como mencionado anteriormente, com uma interface digital que remete aos anos 80, bem similar a Alien em alguns pontos. Essa mistura de visuais cria uma identidade única para a experiência, somada a gráficos que conseguem fazer sua parte, por mais que sofram um pouco com dessincronização labial em ocasiões bem esparsas. O uso de um bom headset é altamente recomendado, pois ajuda muito na imersão. A iluminação é utilizada de forma excelente para criar uma atmosfera que gera sensação de medo e tensão a ambientes previamente explorados. O Sound Design também merece elogios, usando trilha sonora em momentos chave, aproveitando o silêncio e os sons do próprio sistema SAM para enriquecer a atmosfera com um ar de insegurança e mistério.

A gameplay é baseada em puzzles para qualquer tipo de solução de problema, sendo que o game não economiza em tipos de enigmas. Cada tarefa tem uma forma específica de executá-la, diminuindo as chances da jogabilidade ficar entediante. De correspondência de cores a sintonia de ondas, Observation não deixa de apresentar novas formas de desafiar o jogador. Além dos enigmas, também é possível explorar o interior da nave de duas formas: passando pelo sistema de câmeras presente na nave toda, que te proporciona três diferentes ângulos para cada ambiente, e por meio de uma esfera autônoma, que te permite mais mobilidade e a possibilidade de olhar cantos que não são acessíveis por meio das câmeras. O controle das câmeras é bem simples, você pode olhar toda a área que ela cobre, podendo dar zoom e fazer ligações com diversos aparelhos da nave remotamente, enquanto com a esfera é possível fazer movimentos de rotação e translação, dando uma maior mobilidade e liberdade no movimento. Em relação ao sistema de vigilância, é possível se movimentar para qualquer lugar da estação, e cada ambiente traz algo de novo.

Mesmo com duas soluções bem práticas, elas não estão livres de problemas. Em diversas câmeras, há uma queda de FPS considerável em momentos que pessoas aparecem na tela da câmera, enquanto o movimento com a esfera pode ser muito desorientador e confuso, principalmente quando se está fora da estação. É preciso sempre observar o ambiente para nivelar a câmera da esfera com o sentido correto do ambiente. Além desses dois problemas, o próprio ambiente também dificulta um pouco a exploração. Não há quaisquer indicadores a respeito do local aonde você precisa ir, recorrendo muito a atenção e memória do jogador para seguir em frente, caso contrário, é preciso passar mais tempo tentando localizar o objetivo. Isso fica bem claro nas seções exteriores, onde localizar um painel pode se tornar uma tarefa cansativa e irritante, pois ele se mistura em meio as cores e o design da nave. Dependendo do perfil do jogador, esse não é obrigatoriamente um problema, pois cria uma experiência mais desafiadora, porém, pra quem é novo no gênero ou mesmo não se dedica a esse ponto, pode acabar causando frustrações.

Em relação a bugs, durante o zeramento do jogo, apenas um foi visto, no qual um objeto entrava em outro, porém, tirando isso, o nível de polimento e cuidado é alto. Em relação à física, o jogo se coloca em uma estação com gravidade zero e consegue vender muito bem essa localização, por mais que em certos momentos alguns objetos que estão flutuando em uma cápsula são sólidos e imóveis. A tradução em português é de grande ajuda, pois diversas informações a respeito do que é preciso fazer utiliza termos específicos, que poderiam causar confusão para alguém que não é entendido da língua inglesa. No geral, todos os aspectos do game conseguem criar uma experiência imersiva e autêntica, puxando o jogador para esse local misterioso e assustador.

Conclusão

Observation traz ao mercado um thriller surpreendente e envolvente, que vai te pegar desprevenido diversas vezes. Com uma história muito bem dirigida, cheia de revelações e twists bem colocados e bem feitos, e uma gameplay que requer do jogador mais do que apenas sua capacidade de apertar botões, esse indie é uma grata surpresa. Altamente recomendado para quem está buscando uma experiência que te faça pensar dentro e fora da história, ou pra quem está procurando uma história e atmosfera hipnotizantes.

Essa análise foi elaborada com uma cópia de PS4 gentilmente cedida pela Devolver.