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Crítica Sem Spoilers | Dumbo – 70 anos depois, a Disney ainda prova que elefantes podem voar

Cinema

Crítica Sem Spoilers | Dumbo – 70 anos depois, a Disney ainda prova que elefantes podem voar

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Já fazem mais de 70 anos que o elefantinho Dumbo, a “nona maravilha do Mundo”, abriu orelhas e voou nas telas de cinema. Na transição das décadas de 30 e 40 a Disney enfrentava problemas financeiros por bilheterias fracas na Europa, ocasionadas pela guerra que crescia em escala global. Precisando economizar em suas produções, o estúdio precisou usar estratégias inventivas, como fundos em aquarela e animação de traços optimizados. Apesar da queda brusca de qualidade, foi possível focar em outro importante aspecto: a atuação, a dublagem dos personagens. O resultado foi positivo! O carisma do universo de Dumbo e seu protagonista animal se tornou um grande sucesso – e um dos Clássicos Disney. Além de ajudar o estúdio a se manter de pé em plena Guerra Mundial, os caminhos apontados na animação ajudaram no progresso dos futuros projetos da casa.

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Por isso, o anúncio de que o elefantinho ganharia um live-action não foi grande surpresa. Afinal, mesmo sem ter uma grande fanbase o personagem é conhecido e tem importância na história da Disney. E, em especial, suas 7 décadas de vida justificam uma atualização. Afinal, além da própria qualidade técnica, em Dumbo temos violência mais gráfica, ingestão de álcool e racismo (presente na interpretação dos corvos). Ou seja, rever estas contradições e apresentar uma nova visão, aproveitando a tecnologia e evolução da Disney e de sua audiência, se faz um exercício interessante. Interessante também é a decisão de colocar a direção do projeto nas mãos de Tim Burton (O Estranho Mundo de Jack, Edward Mãos de Tesoura), já familiarizado em contar histórias de “estranhos adoráveis e talentosos” e responsável por dar carne, osso e cores a outro importante desenho da Disney, Alice no País das Maravilhas.

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No agora live-action Dumbo conhecemos a vida de um grupo circense, mais detalhadamente do núcleo familiar dos Farrier. Com o nascimento de um elefante orelhudo e voador a rotina do coletivo muda radicalmente e atrai a atenção de um megaempresário do entretenimento. Agora restará aos artistas colocarem em prática as lições aprendidas com o carismático e sonhador Dumbo para salvarem sua arte, valores e família. É interessante vermos Dumbo, o live-action, de diferentes perspectivas. Podemos ver o filme, primeiramente, como peça dentro do grandioso projeto de adaptações live-actions da Disney. Dumbo é o filme mais bem resolvido dos produzidos até o momento. A estética e tom escolhidos para sua versão “carne e osso” são coerentes, e trazem um bom equilíbrio entre o proposto na versão animada e na nova. No novo Dumbo temos uma escolha de quebra da ludicidade para construir uma história mais realista. A escolha traz ganhos e também perdas, e dependerá do desprendimento e entrega do espectador para entreter. Os animais falantes e energia vibrante da animação dão lugar a sobriedade, mas sem perder a essência do Dumbo de 1941. O novo longa abre espaços para celebrar seu antecessor, relembrando alguns dos momentos mais icônicos e trazendo-os em nova roupagem. Temos exemplos mais assumidos, como a sequência do número cômico do incêndio ou os delirantes “elefantes cor-de-rosa”, e exemplos mais sutis, como uma cegonha posicionada no momento do nascimento do Dumbo – no original uma cegonha traz o bebê. Estas escolhas enriquecem o filme e respeitam seu material original, além de indicar ao espectador que o filme que estão assistindo são o resultado de escolhas criativas. Além disso, potencializam o principal elemento fantástico da história: um elefante voador.

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Também precisamos ver Dumbo como um longa da filmografia de Tim Burton. Burton é dono de uma das identidades mais marcantes e influentes da sétima arte. Apesar de não ter explorado seus últimos projetos da forma mais atraente, pecando pelo excesso, em Dumbo vemos um Tim Burton mais comedido. Se por um lado perdemos um pouco de sua assinatura, por outro o diretor entrega o necessário, o ajustado, ao que o projeto necessita. O roteirista Ehren Kruger (O Chamado, Vigilante do Amanhã) também é inteligente o suficiente para escrever pensando no estilo de Burton, construindo um humor sarcástico, ríspido e sombrio quando precisa, e dando margem para a história encontrar o “estranho, sombrio e colorido” do cineasta. Apesar do resultado final ser conservador e monótono demais para aqueles que esperam um típico trabalho do diretor é necessário entender que, para esta proposta, Burton entrega exatamente o que lhe é solicitado.

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É necessário também analisar o novo Dumbo como uma adaptação. O projeto se justifica como atualização, como já dito, mas e os caminhos e escolhas do roteiro? Fortalecem a história? Resolvem problemas do anterior? Possuem novas camadas e discussões pertinentes? Além da grande responsabilidade e espectativa acerca da adaptação live-action existem entraves muito práticos. O primeiro é o tempo de duração. A animação possui ligeiros 64 minutos, e um estabelecimento de conflitos e arcos bem mais dinâmico. Kruger opta por concentrar a história da animação no primeiro ato, e explorar uma história original nos atos seguintes. Para isto, estabelece um conflito principal e um antagonista. A escolha é sábia, mas se perde na execução. O longa se estende na resolução, perdendo ritmo e – certamente – o interesse de muitos espectadores. A montagem também não ajuda. É confusa, e não constrói muito bem o tempo e/ou geografia no longa, fazendo com que o espectador se perca em cenas de perseguição, por exemplo.

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Na adaptação, também se faz uma escolha arriscadíssima ao dividir o foco de Dumbo, o personagem-título, com o núcleo familiar dos Farrier. É compreensível a tentativa de criar um vínculo de ligação e espelhamento de conflitos entre os humanos e o paquiderminho mas, da forma como é realizado, não favorece o longa. A atenção acaba por ser dividida e é até seguro dizer que o protagonismo é tirado de Dumbo, que acaba se tornando um estopim da ação, mas nunca de fato conduz o longa. Uma perda ainda mais dolorosa quando vemos o excelente trabalho de construção do personagem, do CGI a personalidade. Dumbo é carismático e fofo. Fofo, fofo, fofo! É nas cenas em que Dumbo tem espaço para “atuar” que o filme mais nos cativa, e é fácil de se emocionar com as tristezas e triunfos do elefantinho. O grande trunfo são, claro, as orelhas e os olhos, ambos realistas mas cartunescos. O trabalho de CGI na criação de animais é incrível, em especial na Sra Jumbo. Os olhos, texturas e movimentos são resultados de uma pesquisa visivelmente minuciosa, e é inevitável não pensar na já próxima adaptação O Rei Leão.

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O design de produção carrega a cores e estética de Tim Burton, sempre aproveitando os momentos mais sombrios para inserir – sempre coerentemente – imagens góticas, horríveis e retrofuturistas. Já os figurinos são mais modestos, e não acompanham as possibilidades do design de produção. Mas, sem dúvida, o mais interessante na parceria Burton/Kruger é sua crítica direta a própria Disney, utilizando o personagem V.A. Vandevere e seu “Parque dos Sonhos”. Ver uma crítica direta a Disney, retratando-a como um pólo inescrupuloso do entretenimento, em um filme da própria Disney é algo que poucos diretores conseguiriam fazer – seja pela sacada, seja pela liberdade – e Burton é um deles.

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As atuações são bem equilibradas. Na medida do possível, dentro das possibilidade do roteiro, todos os atores buscam explorar o possível de seus personagens. A verdade é que os humanos não são tão interessantes quanto Dumbo, e acabam se tornando dispensáveis. As situações não conseguem se mostrar relevantes o suficiente para conseguir nossa conexão nem nosso foco. Os atores-mirim Nico Parker e Finley Hobbins não conseguem conduzir a trama. O casal principal, formado por Colin Farrell e Eva Green, não empolga verdadeiramente. Green ainda nos cativa mais, com a ajuda de seu magnetismo e charme costumeiro. Michael Keaton faz um vilão divertido mas que, superficial e cheio de maneirismos, pode incomodar parte da audiência. O palco, de fato, é de Danny DeVito. Verdadeiramente empolgante e delicioso de assistir, o ator aproveita de forma certeira o humor do texto e as possibilidades de seu personagem.
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Enfim…
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Dumbo, analisando suas diferentes perspectivas e como resultado final, é um filme divertido. Uma aventura familiar para famílias. Um filme que carrega a essência dos filmes Disney e traz o encantamento dos sonhos e realidades fantásticas. Tim Burton, apesar de mais discreto do que de costume, traz um de seus melhores trabalhos recentes como diretor, entendendo a medida necessária para que seu estilo não engula a proposta do longa. Apesar de pecar em ritmo e roubar o protagonismo do personagem-título, XXXXX consegue expandir a história de Dumbo. O elefantinho, aliás, é um poço de fofura e ternura. Junto com um engraçadíssimo Danny de Vito, nos conecta com um universo encantador.

Dumbo é projeto mais bem resolvido da leva de live-actions Disney, com toda a essência e diversão descompromissada dos clássicos da casa. A atualização é bem-vinda, ainda mais quando discute os maus-tratos aos animais no mundo do entretenimento e repensa os 70 anos de evolução da Disney, do cinema e de seu público. Por mais que existam falhas na execução, é mágico pensar que a Disney continua a fazer seu público acreditar que elefantes possam voar ao longo das décadas.

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