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Crítica | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Cinema

Crítica | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Com toda a expectativa e responsabilidade nos ombros, seria Doutor Estranho capaz de abrir as portas para um novo Multiverso da Marvel?

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Havia uma certa expectativa (e uma certa pressão) sobre Doutor Estranho No Multiverso da Loucura. Desde “Vingadores: Ultimato”, o Universo Cinematográfico da Marvel recebeu: dois filmes do Homem Aranha, um da Viúva Negra, Shang Chi e Os Eternos – dois com acontecimentos anteriores a Ultimato, uma história de origem e, no caso do Teioso, tramas mais pessoais que não avançavam significativamente o arco global dos heróis.

As perguntas, então, de “o que viria a seguir?” permaneciam nebulosas e sem respostas, e todos os olhos se voltavam para o Mago Supremo, na expectativa de que a esperada abertura do alusivo Multiverso esclareceria tudo, nos introduzindo a uma nova fase Marvel.

Mas infelizmente (quase) nada mudou.

(a crítica a seguir não evitará nenhum spoiler e é recomendada para quem já assistiu o filme)

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Infinitas possibilidades, ínfimos acontecimentos

Após uma falsa aparição em “Homem Aranha: Longe de Casa” (e um verdadeira em “Sem Volta Pra Casa”), uma introdução na série “Loki” e um desenvolvimento na série animada “What If?”, a ideia de infinitos universos paralelos se colidindo, misturando e invadindo estava digerida e pronta para ser lançada para o público de cinema (considerado mais “mainstream”). Em Multiverso da Loucura ele surge das mãos de America Chavez – uma garota capaz de viajar fisicamente através do multiverso, porém incapaz de controlar tal poder.

Ela chega em “nosso” universo após os acontecimentos de “Homem Aranha: Sem Volta para Casa” e não coincidentemente após o Doutor Stephen Strange sonhar repetidas vezes sobre a tentativa de fuga de Chavez com o auxílio de um Doutor Estranho de outro universo ameaçada por um monstro que a perseguia a fim de tomar seu poder para si. Aparentemente, segundo as regras do filme, sonhos são janelas para as possibilidades de outros universos.

Sendo assim, vislumbrar repetidamente em seus sonhos o fracasso e uma quase traição de seu “outro eu” contra Chavez, fez com que Strange se incumbisse da tarefa de protegê-la de seja lá o que a perseguisse e do perigo de que um poder de travessia multiversal caísse nas mãos de um ser maligno.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Na cama com o diabo

Aparentemente, também segundo as regras do filme, bruxaria e feitiçaria são conceitos completamente diferentes e runas mágicas são usadas apenas por bruxas. Tendo em vista que os demônios que perseguiam America eram cobertos delas, Stephen resolve buscar auxílio da única (?) bruxa que conhece: Wanda Maximoff.

Em isolamento desde ver seu marido morrer três vezes – e sem poder recuperar seu corpo para dar-lhe um funeral digno pois este fora apropriado por um órgão governamental – e de ter aberto mão de viver com seus dois filhos criados através de magia em troca da liberdade e livre arbítrio de uma cidade inteira que ela mesma havia posto sob seu controle mental, Wanda diz não usar mais magia e viver pacífica e solitária cuidando de plantas.

A mentira, contudo, dura apenas alguns segundos: “o ‘hex’ foi a parte fácil. O difícil foi a mentira” afirma Wanda sobre o campo hexagonal onde subjugou a cidade de Westview. A verdade é que desde que descobriu ser a encarnação da Feiticeira Escarlate, ela vem estudando o Darkhold – o “Livro dos Pecados” ou “dos Condenados”, cheio de magias proibidas e com um capítulo inteiro dedicado a sua existência – a fim de usar seu poder para enviar demônios atrás de America Chavez para tomar seu poder e enfim viajar para um universo onde possa viver com seus filhos.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Está então estabelecida a trama: nosso Doutor Estranho irá tentar a todo custo proteger a jovem Chavez de uma Feiticeira Escarlate imparável, assustadora e maligna (por influência do Darkhold) numa perseguição através do multiverso. Exceto que eles só visitam outros dois universos mesmo – que está mais para “um e meio”. E que, apesar de assustadoramente brutal, a Feiticeira ainda reluta em ser verdadeiramente maligna.

É aí que os problemas escondidos por trás das cenas começam a aparecer.

O que foi e o que poderia ser

Originalmente a ser dirigido por Scott Derrickson – diretor do primeiro filme do herói e também dos aclamados “A Entidade” e “O Exorcismo de Emily Rose” – Multiverso da Loucura fora inicialmente envisionado como um filme de terror.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Apaixonado pelos elementos góticos, bizarros dos quadrinhos e pelo roteiro que havia preparado com Robert C. Cargill, Derrickson usaria sua expertise em filmes de terror para fazer com que esse fosse o primeiro filme assustador da Marvel. Em Janeiro de 2020, contudo, o diretor abriria mão do projeto por “diferenças criativas” com a Marvel. Sam Raimi, famoso pela primeira trilogia de Homem Aranha nos cinemas, tomaria seu lugar, e Michael Waldron (roteirista chefe de Loki) reescreveria o roteiro do zero. Resta à nossa imaginação as infinitas possibilidades do filme que poderia ter sido – melhor? Pior? Impossível saber. E talvez tão irrelevante quanto boa parte do filme.

As aparições e revelações encontradas nos outros universos tão cedo se vão quanto surgem. Não há tempo de se empolgar ou maravilhar com rostos conhecidos quando a feiticeira mais poderosa do multiverso segue sedenta em seu encalço. Isso poderia até ser em benefício da personagem, não fosse tão difícil se convencer de sua lógica e motivação. Tão rápido quanto os fãs do cinema gritaram ao ver John Krasinski na pele de Reed Richards e no Uniforme do Quarteto Fantástico assentado no Conselho dos Illuminati, eles também arfaram ao ver o personagem simples e literalmente explodir como um balão de festa. A Marvel deu, a Marvel tirou.

Embora existam resquícios de um filme potencialmente mais assustador e ousado, a já mais que estabelecida “fórmula Marvel” entra na mistura em detrimento do projeto. As cenas de ação e o humor intercalam com a sombriedade e o profano num ritmo caótico e um pouco desconcertante. É como se duas visões opostas tentassem coexistir, tal qual dois universos diferentes. E essa ironia dos argumentos do filme desafiarem a sua própria produção se estende ao projeto inteiro.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço

No início encontramos um Strange ainda convencido de ser o detentor das melhores decisões possíveis – desde seu papel como cirurgião até entregar a Joia do Tempo a Thanos ou desistir do amor de sua vida – mas que passa a reconhecer que tomava essas decisões baseado no medo. Ele então resolve confiar em America Chavez, que também acessava seus poderes apenas em situações de muito medo, mas que começa a acreditar em si mesma. Encontramos também uma Wanda incapaz de aceitar a realidade como é, e que transgride e transpassa a tudo e a todos a fim de mudá-la – até perceber que isso era em detrimento de seus próprios interesses.

É possível imaginar que o responsável pelo Universo Cinematográfico da Marvel Kevin Feige, após ter tantas decisões acertadas em suas mãos, se encontra muito seguro de si e com medo de arriscar, de entregar o controle nas mãos de pessoas que possam fazer diferente, abrir novos caminhos, que desviem daquele que ele considera ser o melhor possível. Como resultado, Multiverso da Loucura sorri com timidez e pouco faz para sair da zona de conforto, mesmo com todo seu espetáculo visual, e acaba sendo usado apenas como mais um filme de base que deveria estabelecer o que vem a seguir, por mais que ele feche mais portas do que abre.

No fim, contudo, pouca coisa mudou de antes para depois do filme – quase todos os personagens apresentados se vão tão rápido quanto surgem, poucas mudanças ocorrem em nosso universo e nenhuma grande consequência aos acontecimentos do filme fica aparente para que os fãs anseiem o que está por vir. É possível, contudo, que eu esteja enganado e que a intervenção multiversal de Strange, Wanda e Chavez traga problemas catastróficos no futuro e que essa crítica não tenha mais nenhuma validade – impossível e irrelevante saber. Num multiverso de infinitas possibilidades onde tudo pode acontecer, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é apenas isso, uma irrelevante possibilidade no ar que não ousa concretizar fato nenhum.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura

Tal qual a “Era” de Ultron durou menos de uma semana, a única “Loucura” aqui foi esperar que grandes mudanças viessem em mais um filme formulaico da Marvel. Se você ainda não assistiu, vá sem essa expectativa e talvez você se divirta um pouco mais.

Formado em Design de Games pela Universidade Anhembi Morumbi e com mais de 5 anos de experiência como Motion Designer e Editor de Vídeo, já palestrou sobre GameDev e leva os joguinhos à sério por mais que sua mãe diga que não dá dinheiro (não dá)

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