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Especial Star Wars | Guerra nas Estrelas e um pôr do sol que vale mais que mil palavras

Disney/ Divulgação

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Especial Star Wars | Guerra nas Estrelas e um pôr do sol que vale mais que mil palavras

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Em 25 de maio de 1983, chegava aos cinemas americanos a conclusão da trilogia clássica de Star Wars. O que parecia ser o fim, se tornou apenas a terceira pedra fundamental de diversas obras que viriam nos anos seguintes. Livros, quadrinhos, séries em live-action e animações, Star Wars se expandiu de maneira inimaginável e hoje é muito mais do que apenas uma série de filmes. Entre erros e acertos, esse universo ainda é o lar de diversas pessoas que buscam força na luta contra o Império.

A equipe da Torre de Controle aproveitou o ano em que se completam 40 anos da trilogia clássica e a semana da estreia da série Ahsoka no Disney+ para falar sobre suas obras favoritas nessa galáxia tão, tão distante.

Guerra nas Estrelas (Ou Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança

EXT. TATOOINE - PROPRIEDADE LARS 

               Os imensos sóis gêmeos de Tatooine desaparecem lentamente por
               detrás de uma cadeia de dunas distante. Luke os observa por 
               alguns momentos, e relutantemente se dirige à entrada redomada
               da propriedade Lars.

Essa é a descrição da sequência do “pôr do Sol binário”, que acontece aos 25:33 do filme Guerra nas Estrelas (Mais tarde conhecido como Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança), conforme ela consta na quarta redação do roteiro de George Lucas (Tradução livre minha).

É uma sequência que não chega a durar 40 segundos, não tem uma palavra sequer dita. É uma das cenas mais icônicas de Star Wars, quiçá do cinema americano, que condensa os diversos temas que George Lucas pretende trabalhar: O contraste das possibilidades infinitas que a vida adulta promete, contrastada com a frustração de não se ter controle do próprio destino e o desejo de se encontrar no mundo. Sem diálogos, toda emoção, todo sentido só é dado pela fotografia de Gilbert Taylor capturando o pôr do sol na Tunísia, a interpretação melancólica de Mark Hamill e a trilha sonora majestosa de John Williams.

A união desses elementos nos dá um dos exemplos mais emblemáticos da narrativa visual na história do cinema. O trecho do roteiro não faz jus ao que se manifesta em tela.

Mas o que essa cena não faz é avançar a trama. Seguindo a lógica de “economia narrativa”, essa cena poderia ser descartada sem nenhuma perda significativa para o entendimento da história. É um pensamento que eu venho encontrando cada vez mais em discussões na internet, e sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha, mas nunca consegui verbalizar meu incômodo.

Até que, em uma recente entrevista, o diretor Christopher Nolan ao criticar a forma atual que Hollywood produz seus filmes, usando justamente o Star Wars como exemplo, eu entendi o meu problema com essa lógica.

[…] Os estúdios agora olham pro roteiro como uma série de eventos e dizem “Essa é a essencia do filme” e isso é totalmente à contramão de como o cinema se desenvolveu, desde o trem dos Irmãos Lumiére chegando à estação, como uma experiência audiovisual pura.

As pessoas vão te dizer que o sucesso de Star Wars não tinha nada a ver com os efeitos visuais, e que se reduzia à ótima história, mas claramente não é esse o caso. É de fato uma ótima história, mas também é uma experiência visual e aural incrível. Então se instaurou uma negação proposital do que é a base dos filmes.

É uma realidade que, ironicamente, o próprio Guerra nas Estrelas tem certa culpa de causar.

Explico: Precisamos lembrar que Guerra nas Estrelas foi lançado na época da “Nova Hollywood”, em que uma geração de cineastas, entre eles Francis Ford Coppolla, Steven Spielberg, Martin Scorcese e Brian de Palma. Essa geração, cinéfilos moldados não só pelos filmes Hollywoodianos que viam tanto no cinema quanto às reprises na TV, mas com os clássicos do cinema mundial da França, Alemanha, Japão e até o Brasil.

Essa bagagem, somada ao contexto político dos anos 70, resultou em uma leva de filmes autorais transgressores, experimentais e extremamente políticos que renovaram criativamente o cinema Hollywoodiano. Até o George Lucas, cujos filmes eram mais “família”, eram uma denúncia à Guerra do Vietnã, com inspiração nos faroestes, seriados de aviação e filmes de samurai de sua infância.

Mas Hollywood sendo Hollywood, eles ignoraram tudo isso e se dedicaram a tentar recriar o sucesso da trilogia. Para eles isso não significava confiar mais nos diretores, apostar em filmes excêntricos e criativos. Os estúdios queriam uma fórmula para imprimir dinheiro. O que eles acharam foi a Jornada do Herói, conceito cunhado pelo autor Joseph Campbell em seu livro O Herói das Mil Faces, uma das principais inspirações de George Lucas.

Campbell acreditava no conceito do Monomito, a ideia que diversas culturas do mundo tem temas em comum nas histórias que contam: A ideia que todo herói passa por uma jornada cíclica de autodescobrimento espiritual, superando desafios até finalmente voltar ao lar amadurecido. É um conceito que fascinou Lucas, que aplicou essa ideia na trilogia, principalmente no desenvolvimento de personagem de Luke Skywalker.

A franquia popularizou a obra de Campbell a tal ponto que, em 1985, o revisor de roteiro Christopher Vogler escreve um memorando de sete páginas intitulado “Um Guia Prático para o Herói de Mil Faces”, para uso interno nos estúdios Disney para ajudar o departamento de história a aplicar o conceito da Jornada do Herói na estrutura narrativa dos roteiros, que, segundo Vogler, resultaria em histórias de apelo universal. Em pouco tempo, a Disney lançou A Pequena Sereia, sucesso estrondoso que levaria a produtora a uma era de ouro. A partir daí, não tinha mais volta.

O memorando de Vogler não demorou muito para se popularizar como um manual de roteiro em toda a indústria de cinema americana. A obra de Campbell deixou de ser uma referência literária de um diretor e passou a ser a régua para avaliar a qualidade de um roteiro. Universidades começaram a ensinar a Jornada do Herói nas disciplinas de roteiro. Mas, além disso, cada vez mais começou a se alastrar a ideia de que a peça central de todo filme é o roteiro.

Essa “roteirocracia” acabou levando a uma visão extremamente limitadora de como se conta histórias, e em muitos casos descamba num discurso produtivista, onde tudo que não é explicitamente subordinado à trama é descartável. Basta ver as “discussões” intermináveis sobre “necessidade” de duração de filmes, cenas de sexo ou “furos de roteiro”. Seguindo esse padrão à risca, a cena do pôr do sol seria descartável.

Mas o que é pior é como essa padronização acaba levando a uma incapacidade de pensar o filme para além desse elemento. O cinema é uma arte audiovisual que aglutina todas as artes que a antecederam, com possibilidades que a mera análise de roteiro não dá conta de compreender. Direção de arte, a interpretação dos atores e composição, conceitos que precedem o cinema, podem suscitar emoções que nenhum texto seria capaz. A edição, processo tão único ao cinema, não é uma coisa que dá para se descrever escrevendo. O cinema é a junção de todos esses ingredientes, não uma hierarquia.

Eu tive contato com esse filme pela primeira vez aos seis anos de idade, numa VHS legendada, numa idade em que eu não tinha capacidade de acompanhar legendas. Ainda assim, o filme me cativou, e eu tenho memórias vívidas de ver o por do sol pela primeira vez. Eu não sabia o que era roteiro, nem jornada do herói, mas as cenas em silêncio sempre prendiam minha atenção. As duas primeiras trilogias me impactaram desde cedo, pois as imagens e o som (Essa parte tão essencial e tão pouco valorizada) conseguiam contar o suficiente para alguém entender a história mesmo sem saber o que era dito.

Há quem use o termo “espetáculo” pejorativamente, mas há uma sofisticação imensa em poder dizer muito sem falar nada. Isso acabou tendo uma forte influência nos meus gostos, até me atrair ao animador Genddy Tartakovsky, assumidamente influenciado pelo cinema da Nova Hollywood e famoso por suas animações com diálogo mínimo. A sua minissérie Star Wars: Guerras Clônicas é a minha obra favorita de toda essa franquia.

Pode-se dizer várias coisas sobre George Lucas, mas ele sempre soube da importância da narrativa visual.

Com Guerra nas Estrelas, Lucas ambicionava criar um conto de fadas moderno, uma mescla da narrativa clássica e de visões do futuro. Com a contribuição de diversos artistas, entre eles o diretor de som Ben Burtt, o artista conceitual Ralph McQuarrie, sua esposa-montadora Marcia Lou Griffin e centenas de artistas de efeitos especiais, ele criou um universo que cativou a imaginação de gerações. Ele pode nunca ter sido o melhor redator de diálogos, mas a verdadeira Força dele se manifesta quando ele deixa a imagem e som falarem por si mesmos.

Busque nos seus sentimentos, você sabe que é verdade.

Confira a nossa série especial sobre Star Wars clicando aqui.

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