Artigos
Por que você DEVE jogar VA-11 Hall-A?
VA-11 Hall-A é um joguinho que caiu nas graças do meu colo, apenas esse ano. Engraçadamente o jogo já é antigo, tipo, bem antigo (praticamente), fora lançado em 2016 pela galera da Sukeban Games, uma galera que faz uns joguinhos extremamente charmosos, que aspiram (e acertam perfeitamente) em replicar a vibe dos visual novel japonesas da década de 90. Tal gênero nunca foi muito famoso por aqui no ocidente.
Se você é um leitor veterano dos meus textos, sabe muito bem que eu aprecio takes diferentes no desenvolvimento de ideias para jogos, pois hoje em dia, a indústria 3A meio que andou fracassando em conseguir fisgar meu interesse para seus produtos. Claro que há algumas exceções, como NieR: Automata que fez me apaixonar pelos jogos de Yoko Taro. Mas num geral, eu possuo um extremo carinho e respeito para os desenvolvedores indies, que num geral, lutam contra todas as probabilidades para lançar títulos extremamente cativantes e criativos.
VA-11 Hall-A é um desses títulos, e tendo jogado e rejogado ele nos últimos meses, me senti na obrigação de compartilhar um pouquinho da minha experiência com vocês, queridos leitores.
Um pouco de história, como sempre
Claro que um texto meu não pode se desenvolver bem, sem um pouquinho de papo sobre o gênero e história dos vídeo-games, né? Lembra que eu disse que visual novels, nunca foram muito famosas por aqui no ocidente? Bem, como sempre, a história é diferente lá pro público do oriente.
Pra já me esclarecer com antecedência, confesso que colocar um background completo da história desse gênero de jogos, é algo extremamente… difícil. Primeiro que, as informações não são 100% claras, por conta de uma barreira linguística que ainda não foi desmantelada, e como não possuo as skills para ler documentações escritas em japonês, com certeza não poderia trazer toda informação necessária para esse tópico. Por isso, já peço perdão de antemão pela impossibilidade de traçar essa linha de raciocínio.
Por outro lado, podemos começar por algum lugar e algum recorte, e eu pensei no seguinte: bem, visual novels nunca foram famosas para o público ocidental, entretanto, o oriente consumia aos montes. Durante o decorrer da década de 90, podemos observar diversas empresas explorando esse mercado e gênero, alguns jogos se destacam como Snatcher do nosso querido Kojima.
E mesmo assim, curiosamente, o jogo demorou um belo tempo pra chegar no ocidente, e pior ainda, chegou no ocidente apenas para o SEGA CD (meu deus quem é que tinha isso??) em 94, com localização em inglês. Ta começando a perceber um padrão, né?
Nunca houve muito interesse em tentar explorar o público ocidental
Consequentemente, esses títulos japoneses são extremamente desconhecidos pelo público ocidental atual. E algum de vocês deve estar querendo me matar ai do outro lado da tela, gritando (e com certeza é os fãs diehard de visual novels como eu) ”MAS E OS JOGOS DA LUCASARTS??? E O MONKEY ISLAND, E OS JOGOS DO SAM & MAX?!”, OK CALMA, pera lá amigão, já chego lá.
Lembra quando eu disse que visual novels nunca foram muito conhecidas aqui no ocidente, bem, eu menti. Mas não é uma mentira tão cabulosa, pois, com um pouco de pesquisa e consulta de fontes e revistas de vídeo-game antigas, eu acredito que é seguro dizer que o público ocidental para esse tipo de jogo, sempre foi uma minoria extremamente nichada. Logo, é seguro também dizer que esses jogos, provavelmente se operavam com orçamentos extremamente baixos e limitados.
E é óbvio que se formos falar sobre esse mercado nichado, vira e mexe vai aparecer um jogo aqui e acolá que a fanbase ama (e provavelmente eu também) que eu provavelmente não vou conseguir citar. Mas é, boa parte desses títulos nasceram e acabaram por morrer na transição do milênio. Não houve muito espaço de destaque para novelas interativas, durante a geração do PlayStation 2 e Gamecube. Honestamente, com o conhecimento que tenho hoje sobre vídeo-games, é seguro dizer que consigo contar nos dedos das duas mãos, a quantidade de visual novels interessantes que saíram nesse período.
Talvez eu possa estar enganado, quem sabe, pois como dito anteriormente, o mercado japonês ainda era forte para esse gênero. E muito do que fora produzido com foco naquele mercado, com certeza ainda não vou exportado para nós aqui no ocidente. Mas isso andou mudando recentemente, mais e mais podemos observar uma tentativa de produtoras pequenas em remasterizar e traduzir essas obras antigas, e disponibilizadas através das plataformas da Steam e GOG. Lembrando que boa parte dessas visual novels, nem eram lançadas para consoles, mas sim, para as plataformas de PC da época.
Ok, voltando para o VA-11 Hall-A
Juro que não escrevi tudo aquilo pra te deixar entediado, acho que a gente precisa de um pouco de contexto para esse pedaço da história dos games, no qual VA-11 Hall-A dá sequência. Afinal, como dito anteriormente, o título em questão presta muitas homenagens para essas obras ”arcaicas” da década de 90, e introduz outras homenagens para jogos de sua contemporaneidade.
E bem, afinal, o que é VA-11 HALL-A? O joguinho é, de forma bem resumida, um simulador de bartender num cenário cyberpunk distópico. Diferentão, né? Sim! E isso é um dos charmes mais legais da obra, pois mesmo prestando claras inspirações com os clássicos do cyberpunk, como Blade Runner e Akira, podemos nos enfeitiçar sobre a magia impressionante do world-building dos escritores da Sukeban.
A obra, com foco no cotidiano da nossa protagonista Jill Stingray, toca em diversos assuntos importantes sobre a nossa sociedade atual: sobre o avanço do capitalismo corporativista, reflexões sobre a alma e o corpo humano, direitos trabalhistas, sexualidade e, claro, em como conseguimos ferrar o futuro a ponto de não termos mais cerveja de verdade.
Interatividade e uns bons drinks
Brincadeiras a parte, VA11 HALL-A tem um enredo extremamente bem construído, e seus personagens são escritos de forma majestosa. Claro, eles DEVEM ser interessantes e legais, a gameplay gira em torno deles, se eles não fossem legais, por que exatamente você jogaria o game, né? Afinal, como uma visual novel interativa, boa parte da gameplay é você lendo textos e conversando com seus clientes durante o dia-a-dia de Jill no bar VA-11 HALL-A.
Alguns personagens estarão felizes, outros tristes, outros com um pouco de ansiedade ou muita ansiedade. Pensar numa forma de corresponder suas emoções, e claro, serví-los, é tarefa de Jill, ou melhor, do jogador. Não apenas circulando na gameplay de interação visual, o título também pede para que você incorpore as habilidades de bartender da protagonista. Através dos drinks que você aprenderá a fazer durante a trama, você poderá tirar resultados diferentes das conversações e interações.
Um cliente veio deprimido hoje por conta de algum problema pessoal, bem, talvez você possa misturar algo agradável para deixar ele a vontade… ou você pode deixá-lo bêbado de uma vez, com uma bomba de álcool num copinho de plástico. A escolha é sua.
E através disso, criamos nossa própria história com a masterpeça da Sukeban Games. Cada pequeno detalhe carinhoso do mundo de VA11 HALL-A, está guardado a 7 chaves dentro do meu coração. Confesso que me senti até tocado por alguns momentos da estória de Jill, pois consegui me enxergar dentro de sua personagem.
Dá uma chance ai bro, vai por mim
É difícil, bem difícil, de recomendar novelas visuais. Existe um estigma pejorativo de chamá-los de ”filminhos interativos”, e num geral, eles não poderiam estar mais enganados. Existe algum tipo de charme diferenciado nas interatividades das novelas visuais, a atmosfera que esses games constroem para amarrar os jogadores dentro de seus mundos, é totalmente diferente das intenções dos filmes interativos que faziam sucesso nos anos 2000.
Além do mais, como quase toda mídia cyberpunk, VA11 HALL-A possui uma trilha sonora FANTÁSTICA. Se ainda não está convencido por tudo que falei neste texto, ao menos confira um pouco da soundtrack magnífica de Michael Kelly.
VA11 HALL-A está disponível nas plataformas da Steam, GOG, PlayStation 4, Nintendo Switch e até mesmo PlayStation Vita, bro. Tem opção pra caramba, então não existe desculpa pra falar que não achou o game para compra. É HORA DE PREPARAR BEBIDAS E MUDAR VIDAS!
Conhecedor dos estudos históricos, amante da arte dos vídeo-games, streamer, ex pro-player de HearthStone, ilustrador e escritor.