A pandemia do COVID-19 está impactando diversas áreas do entretenimento. Os cinemas foram um dos primeiros a sentir as consequências desse cenário, tendo sido pressionados a fechar as portas para evitar a aglomeração de pessoas e, com isso, a propagação do Coronavirus. Isso causou diversos estúdios a adiarem seus lançamentos dos meses de março a junho indefinidamente, como Velozes e Furiosos 9, Viuva Negra, 007, Um Lugar Silencioso Parte II e Novos Mutantes (Sempre ele…).
Mas e quanto aos filmes azarados que foram lançados pouco antes da crise estourar e ainda estavam em cartaz quando o estado de quarentena foi instaurado? Raramente um filme Hollywoodiano contemporâneo consegue lucrar em apenas um mês em cartaz, é quase certo que os filmes como O Homem Invisível ou Dois Irmãos iriam dar prejuízo por terem suas janelas de exibição fechadas de forma tão abrupta. A solução que os estúdios encontraram foi de liberar os filmes nas plataformas digitais antecipadamente.
Numa jogada inédita, a Sony Pictures anunciou que o filme Bloodshot será lançado digitalmente nessa terça (24), apenas onze dias após sua estreia em cinemas. Isso abriu a barragem e, na mesma semana, diversas produções recentes tiveram datas de estreia digital anunciadas.
A mais interessante dessas foi a animação da Dreamworks Trolls: Turnê Mundial, que inicialmente teve sua data antecipada em uma semana para aproveitar o lugar deixado por James Bond, mas que depois a distribuidora Universal anunciou que iria estrear antes nas plataformas digitais. Pouco tempo depois, o filme Lovebirds, da Paramount, foi mandado para estrear na Netflix. Isso marca o primeiro grande golpe da distribuição digital contra as salas de cinema. A crise dos exibidores tradicionais frente à ascensão das séries de televisão premium e as plataformas de streaming não é de hoje. Já faz anos que, por exemplo, o espaço de tempo entre o lançamento em cinema em home-video de um filme vem encurtando, chegando a menos de 3 meses hoje, o mas um filme pular a estreia de cinema e ir direto para o digital é inédita, e pode ser só a primeira etapa para um futuro onde a mídia digital se torne o padrão.
Todos os estúdios que decidiram adiar as estréias em cinema dos seus filmes asseguraram que ainda acreditam na experiência da sala de cinema, e que não pretendem abrir mão dela (E da receita que ela gera) tão cedo. Porém, essa atitude pode muito bem mudar dependendo do que acontecer nos próximos meses. Se um filme como Bloodshot for um fracasso de bilheteria mas conseguir se pagar em vendas digitais, por que esperar? Boatos circulavam na internet que o filme Mulher Maravilha 1984 iria ser lançado direto na HBO MAX, e se a continuação de um dos filmes mais lucrativos de 2017 não se garante, quem dirá o resto da industria? É um momento complicado para (Além de outras coisas) o cinema como o conhecemos, e cineastas como Christopher Nolan e Edgar Wright escreveram nessa semana artigos sobre a importância de se preservar a experiência única que é ver um filme no cinema. A associação de exibidores dos Estados Unidos, por sua vez, declarou numa carta aberta que não vai esquecer da transgressão da Universal quando isso acabar.
Isso se eles ainda existirem quando isso acabar.