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Star Wars: A Ascenção Skywalker é um retrocesso para a franquia e um desperdício dos personagens (crítica com spoilers)

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Star Wars: A Ascenção Skywalker é um retrocesso para a franquia e um desperdício dos personagens (crítica com spoilers)

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CUIDADO, SPOILERS ADIANTE!

 

A narrativa central da era Disney de Star Wars foi sempre uma reflexão sobre qual é a essência de Star Wars. Em Despertar da Força fomos apresentados a uma nova geração de escolhidos pela Força tendo que lidar com as consequências dos erros das gerações anteriores, representado em uma história que recria a trama de Uma Nova Esperança em um novo contexto. Já Os Últimos Jedi propõe que a Força, e o próprio Star Wars, não pertence a quem é possessivo pelo passado como o Kylo Ren, mas sim a todos, desde uma mera catadora do deserto até uma criança olhando o céu inspirada pelas histórias de Luke Skywalker. Para a série se manter relevante, ela precisava escolher um caminho: se desfazer das superficialidades e focar no que realmente importa, ou acabaria como Kylo Ren, obecado pelo passado de forma autodestrutiva. E é triste dizer que, depois da polêmica, J.J. Abrams cedeu aos fãs da pior forma.

O filme começa com uma sequência de abertura que introduz Kylo Ren (Adam Driver, sempre o ponto forte de tudo que participa) ao Palpatine, agora revivido, escondido nas regiões desconhecidas da galáxia onde passou as últimas décadas controlando os eventos nos bastidores (O Líder Supremo Snoke aparentemente é um clone defeituoso dele) e está prestes a iniciar a fase final do seu plano: Lançar na galáxia uma imensa frota de Destroieres Estrelares a fim de tomar controle da galáxia e extinguir a Resistência de uma vez por todas, numa iniciativa chamada a “Ordem Final”. É uma premissa grandiosa, mas apresentada de forma brusca (A primeira frase do letreiro inicial é literalmente “Os mortos falam!”), que revela desde o começo um filme com sérios problemas de ritmo e narrativa.

Rey (Daisy Ridley) é a maior ameaça aos planos de conquista do ex-Imperador, mas reluta em ir às linhas de frente da guerra por medo de não estar progredindo no seu treinamento Jedi. Isso muda quando a Resistência descobre sobre o retorno de Palpatine, e que a forma de encontrá-lo pode estar ligada ao passado de Rey. Nisso, ela então embarca numa busca por respostas junto com Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac), Chewbacca (Joonas Soutamo), C-3PO (Anthony Daniels, no seu maior papel até agora) e BB-8. A trama então prossegue com uma aventura espacial atrás de artefatos antigos, antigos aliados e planetas novos e conhecidos.

O diretor J.J. Abrams declarou muitas vezes que esse filme, antes de mais nada, era o fim de toda a narrativa de nove filmes da saga Skywalker, e essa prioridade diversas vezes vai contra os interesses da própria trilogia. São muitas revelações, conexões com a primeira trilogia e personagens antigos dando as caras, mas muito pouco disso realmente chega a acrescentar à história. De fato, o filme é muito corrido, com poucas paradas para respirar, e apesar da química instantânea de Rey, Finn e Poe, as interações deles não vão muito além de briguinhas e diálogos expositivos. O filme até tenta expandir a história de Poe e Finn com a adição de Zorri Bliss (Kerri Russel) e Jannah (Naomi Ackie), que servem para contrastrar o rumo dos dois heróis, mas o filme não tem tempo para explorar quem não é Rey ou Kylo. O filme quase chega a dar um papel significativo para o C-3PO, mas sua participação é revertida tão rapidamente que parece ser uma piada.

Todos esses problemas parecem se originar da mesma fonte: O filme se vê na necessidade de, para não dizer anular, recontextualizar os principais temas e eventos de Os Ultimos Jedi em função das reclamações que esse filme recebeu, e não só reduzindo quase que completamente o papel de Rose (Kelly Marie Tran), que deve ter agradado muito os fãs que a fizeram sair das redes sociais em 2018. Não há nenhuma menção do sacrifício de Luke no clímax do filme anterior nem à esperança que ele trouxe de volta à galáxia. E novamente o filme retoma o conflito da Rey quanto a sua identidade, coisa que já tinha sido resolvida. O retorno de Palpatine como o mal definitivo de toda a franquia também sabota a tese principal do filme de um novo paradigma para os heróis, retornando ao status quo que todos os fãs estão acostumados. O final do filme deixou a possibilidade de um novo começo para o próximo cineasta levar a história adiante, mas o filme se contentou em voltar ao familiar e superficial.  Essa necessidade de regredir a história chega a afetar a trama central de Rey e Kylo, que mesmo sendo o centro emocional e a parte mais bem sucedida do filme, com a decisão de trazer Palpatine de volta acabam tendo seu protagonismo reduzido. O arco de personagem do Kylo é efetivo, porém anêmico, e a atuação intensa de Adam Driver carrega nas costas o personagem muito mais que o roteiro.

O resultado disso é que o filme tenta compensar a trama fraca e desigual com doses cavalares de fanservice. Desde a volta de Lando Calrissian (Billy Dee Williams), o retorno à Estrela da Morte e diversas menções à longa história da franquia, que o filme usa quase como muleta para distrair da narrativa. Mas nenhum deles tem muita função além de acionar a nostalgia do público ou dar exposição, o que só realça a falta de coesão do filme. Essas referências não passam de informação, e informação pode preencher um artigo de Wookiepeedia, mas se não acrescentar para os personagens, ela não passa de tempo desperdiçado que poderia estar sendo gasto com coisas melhores, como conflitos críveis, desenvolvimento de personagens e temas. Dentre todos os problemas, porém, a participação da General Leia, composta de cenas reeditdas da finada Carrie Fisher, é a que mais dá certo. É perceptível que o filme está contornando as poucas cenas aproveitáveis com a atriz, e ficam claras as limitações dessa decisão criativa, mas o filme faz o melhor possível com o que tem e dá à personagem (e à atriz) uma despedida digna.

Tudo isso culmina numa batalha de terceiro ato abrupta e que não condiz com o filme que ocorreu até então. A jornada até o final não consegue transmitir o desespero de uma batalha decisiva, nem o que está em risco. Mesmo que a maioria dos personagens termine o filme com seus arcos concluídos satisfatoriamente, a conclusão não vem organicamente e não tem o impacto que deveria ter. E muito pode ser dito sobre o tempo limitado de produção: após a saída de Colin Trevorrow do projeto em 2018, fica claro que a prioridade do filme está menos em desenvolver temas e mais em expandir o “lore” da franquia e agradar os fãs que menos merecem ser atendidos.

Star Wars: A Ascenção Skywalker atropela todo o progresso que a nova trilogia construiu, decidindo concluir a Saga Skywalker da forma mais genérica, segura e maçante possível para agradar fãs que não querem ver a franquia evoluir. O filme representa a franquia no seu estado mais estagnado, esperando que os fãs aceitem um roteiro fraco e personagens mal desenvolvidos só porque o filme tem Star Wars no nome e referências superficiais. Quando alguém critica Star Wars dizendo que “é tudo a mesma coisa, que é só nave e espadinha laser”, é esse filme que elas imaginam.

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