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Liga da Justiça | Entenda o “Corte Snyder” e porque ele será lançado no HBO Max
Uma hashtag move montanhas, já dizia aquele personagem bíblico que o Visionário Diretor™ gosta tanto de evocar.
Finalmente aconteceu. Depois de um ano de campanhas, a Warner enfim anunciou na última quarta (20), que a tão debatida versão do diretor Zack Snyder do filme Liga da Justiça será lançada em sua vindoura plataforma de streaming, a HBO Max, em 2021.
Esse anúncio será uma vitória para os diversos fãs do diretor, que desde 2017 vêm exigindo da Warner Bros. uma nova versão do filme, fiel ao projeto original de Snyder. O filme seria a continuação de Batman v. Superman: A Origem da Justiça, cujo roteiro, estética sombria, caracterização dos personagens e 160 minutos de duração dividiram tanto fãs quanto a crítica, mas ainda assim rendeu 2 bilhões de dólares na bilheteria. O projeto do Liga da Justiça foi originalmente concebido como uma epopeia de duas partes que seriam filmadas simultâneamente. Porém, uma série de fatores acabaram atrapalhando a produção. Primeiramente, por mais rentável que tivesse sido o filme anterior do diretor, as críticas negativas do filme acabaram por prevalecer no imaginário popular, o que causou a Warner a questionar os planos de Snyder para os filmes. Aparentemente, um corte bruto foi descrito como “inassistível” por um executivo da Warner.
Depois, o trágico suicídio da sua filha mais nova levou Snyder a abandonar o projeto no meio da produção, que ele deixou nas mãos de Joss Whedon com instruções para completar as cenas que faltava. Com a saída de Snyder, a Warner aproveitou para reformular seus planos para o filme. O que deveria ter sido duas semanas de refilmagens rotineiras acabou se inchando para oito, e cenas novas foram gravadas com o propósito de reduzir a duração do filme e remover os elementos que haviam sido criticados no filme anterior. Isso causou um conflito adicional com Henry Cavill, cujo compromisso para com o filme Missão Impossível – Efeito Fallout exigia que ele ficasse com um bigode, que a distribuidora Paramount não permitiu que fosse cortado, exigindo que ele fosse removido digitalmente no filme em si.
No final das contas, o projeto foi reduzido de 170 minutos para 118, foi editado para acabar em um único filme ao invés de ser a primeira de duas partes, teve novas cenas, incluindo uma sequência de luta envolvendo as Amazonas após a boa recepção do filme Mulher Maravilha, o compositor original, Junkie XL, foi substituído por Danny Elfman, a paleta de cores foi completamente alterada em relação aos trailers do filme e diversos personagens foram cortados, como o Átomo, Darkseid, Caçador de Marte (Interpretado por Harry Lennix, que interpretou um personagem em BvS), Vulko e Iris West, cujos atores (Willem Dafoe e Kiersey Clemmons) já haviam sido anunciados publicamente. Essa reformulação afetou até o Esquadrão Suicida, cujo roteiro original tinha o Lobo da Estepe e um exército de Parademônios como vilões, que foram substituídos ainda durante a produção para se distanciar do filme. Esse processo todo custou 20 milhões de dólares. E a cara do Superman ficou muito bizarra.
O filme então foi lançado, com críticas mornas, reclamações de que o filme era desconexo devido ao conflito entre as visões dos dois diretores. Essas críticas, somadas ao conhecimento do público sobre os problemas de produção, sem contar o fato do projeto ser a continuação de um longa que foi ficando cada vez mais malvisto, resultaram em um filme de 600 milhões com o orçamento de 300 que ainda parecia um fracasso. Como consequência, os planos da Warner para realizar um universo conectado com seus filmes da DC foram mudando, levando a filmes mais independentes entre si, como Mulher Maravilha, Shazam e Coringa, sem a necessidade de ter coesão temática ou estética com o universo que Snyder construiu.
Mas os fãs do Zack Snyder não viam assim. Após boatos começarem a circular de que um “corte completo” do filme mais alinhado à visão do diretor existia, uma parcela de fãs na internet começaram a campanha #releasethesnydercut (lance o corte Snyder), que tomou a internet, em grande parte fomentados por boatos, teorias de conspiração acusando a critica de ser bancada pela Disney para difamar os filmes da DC e principalmente uma falta de compreensão sobre como funcionam as produções cinematográficas, afinal o material que Zack Snyder havia filmado e foi descartado pela Warner estava incompleto e inacabado, longe de um produto comercialmente viável para lançamento. Essa hashtag perdurou por anos, até o próprio Snyder começou a lançar lenha na fogueira, compartilhando imagens e cenas dos bastidores da produção em suas redes sociais. Alguns atores e pessoas envolvidas na produção também começaram a mostrar apoio para a campanha. O anúncio da HBO Max foi visto como uma nova possibilidade de viabilizar o projeto, que possivelmente seria um atrativo para o serviço.
Depois de três anos, finalmente foi confirmado em uma transmissão comentada ao vivo de Homem de Aço pelo diretor que ele e a produtora vão trabalhar para reeditar todo o material em um filme que satisfaça a ambos. No começo do ano, ele e a esposa Deborah Snyder prepararam uma apresentação para o alto escalão da Warner sobre como realizar o projeto, assim como toda a logística necessária para fazê-la acontecer. A reunião foi um sucesso e convenceu a Warner de ir em frente. Nem o Coronavírus deteve os planos, pelo contrário, isso foi visto como um jeito de amparar as casas de pós-produção nesse momento de escassez.
Não se sabe como será o filme, se vai ser um longa imenso de quase quatro horas, os dois filmes planejados ou uma minissérie, mas Snyder já disse que será uma experiência inteiramente à parte, já que o corte que foi aos cinemas usou apenas um quarto do que ele gravou. Também não se sabe qual vai ser o investimento nesse projeto, que não vai ser barato,
ois envolverá não apenas a reedição como a criação de efeitos visuais, pós-produção de áudio e tratamento de imagem. Lembrando que se trata de um filme com MUITOS efeitos especiais, que vão ter que ser feitos do zero. Relatos indicam que os atores retornem para gravar novos diálogos para seus personagens e o Junkie XL vai voltar para compor a trilha sonora do novo filme. Circulam na internet boatos que o esse processo pode vir a custar de 20 a 30 milhões de dólares, ou seja, quase o que custaram as refilmagens do Joss Whedon.
O debate sobre os filmes de DC do Zack Snyder geraram diversas discussões, e esse acontecimento gera suas próprias questões sobre liberdade criativa e quais as consequências das produtoras ao se curvar aos caprichos da Internet. Será que vale a pena recompensar as reivindicações de um grupo de fãs que atacava críticos de cinema, profissionais e qualquer pessoa que discordasse e as acusava de serem vendidos? Agora fãs insatisfeitos com o resultados dos seus filmes vão se ver no direito de exigir versões supostamente melhores de filmes que os decepcionaram? Se esse relançamento for um sucesso, poderá haver movimentos para exigir versões “fiéis à visão do diretor” de coisas como Quarteto Fantástico, Venom ou Game of Thrones? Há quem diga que foi a decisão de acatar a todas as reclamações de fãs enfurecidos com Os últimos Jedi que resultou na má recepção do episódio IX de Star Wars.
Tudo que sabemos é que um artista vai poder completar o trabalho dele que foi interrompido por questões fora de seu controle. Resta saber se isso vai provar que a visão do diretor vai corresponder às expectativas imensas dos fãs que clamaram por ela ou se vai ser mais uma prova de que ele não merecia a liberdade que lhe foi dado.