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Crítica | Encontros

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Cinema

Crítica | Encontros

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É notável o quanto Hong Sang-soo, conceituado diretor sul-coreano, vem emplacando uma produção constante de filmes. No ano passado, seus lançamentos foram In Front of Your Face (2021) e Encontros (2021), sendo que este teve sua estreia no Festival de Cinema de Berlim, onde ganhou o prêmio de Melhor Roteiro. No entanto, como boa parte dos filmes do cineasta, Encontros teve uma estreia posterior no Brasil, chegando apenas em 2022, com distribuição da Pandora Filmes – o que não afetou em nada a ótima experiência que tive ao assistir na Cinemateca Paulo Amorim, um espaço que combina com suas obras.

Saindo dos elementos contextuais exteriores ao filme – para falarmos dos interiores –, é na própria Berlim que Encontros se passa, ressaltando uma conexão com a cultura europeia – muito visível na influência direta do francês Éric Rohmer. Nesse ambiente, é introduzida a história de Young-ho (Shin Seokho), um jovem que desistiu da carreira de ator e, ao viajar para encontrar seu pai na Alemanha, acaba se envolvendo em três situações distintas que se iniciam e se concluem dentro dessa trajetória – o filme divide com clareza cada situação, em seus 66 minutos.

Mesmo com elementos comuns às habituais figuras da filmografia de Hong Sang-soo, que normalmente são personagens ligados ao cinema, o protagonista do título se mostra ligeiramente diferente. O primeiro ponto é que ele é jovem, enquanto boa parte dos protagonistas do diretor são homens de meia-idade com caráter duvidoso e motivações ambíguas – apesar de que, recentemente, Kim Min-hee mudou um pouco esse aspecto. Outro ponto é que Young-ho tem um jeito bem gentil e querido, sem ser pedante, mesmo com certa confusão interna que parece natural em sua idade.

O frescor e o afeto de novas experiências

Durante as três situações, que trazem colaboradores recorrentes do diretor, vemos o encontro de Young-ho com seu pai, seu reencontro com um amor, além de uma conversa com sua mãe e um ator renomado – na qual ele vai acompanhado de seu amigo. Todas ocorrem no viés naturalista do diretor, em diálogos despretensiosos que revelam suas direções nos detalhes, de forma ampla e aberta. As situações mostradas são pausas para um cigarro, tão frequentes que nem podemos chamá-las de pausas. Também, as refeições que são tomadas pelos efeitos alcoólicos de soju.  

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Em cada situação, temos indícios da essência por trás do ritmo do filme, nos atentando aos fios soltos das conversas, que nos levam à subjetividade dos sentimentos dos personagens quando estes permanecem em silêncio, mas também à precisão de suas atitudes, quando esses fios se amarram nos abraços de Young-ho. Até mesmo os ápices de externalização, que desencadeiam constrangimento – e são as partes mais esperadas das cenas de bebedeiras –, revelam ter, com maestria em atuação, um papel eficaz nessa atmosfera afetuosa. Curiosamente, os filmes de Hong Sang-soo têm um jeito confortante de retratar o desconfortável. 

Encontros opta por um visual belo, mas exaustivo

Meu maior problema com o filme é o preto e branco. Particularmente, eu não gosto dos filmes atuais que optam por esse caminho estético, e os de Hong Sang-soo já saturaram nesse quesito, sacrificando muitas cores amenas e confortantes que compõem cenários como cafés e restaurantes – penso em títulos que utilizam bem as cores em tais ambientes, como Conto de Cinema (2005). Além disso, os filmes em preto e branco do diretor ganham um tom mais despreocupado, experimental em seu rumo, ao ponto de comprometer a atenção do espectador, como foi minha experiência com Silvestre (2018) e O Hotel às Margens do Rio (2018). 

Não sendo injusto, o preto e branco combina com as árvores secas e a arquitetura germânica, trazendo uma bela iluminação. Porém, a possibilidade de cores traria mais vida – e conexão – para a praia, cenário que ambienta minha cena preferida de Encontros – que estampa sua capa. E claro, é instigante acompanhar Young-ho tentando decifrar seu interior nesse ambiente. No entanto, devido à curtíssima duração – pois se trata de uma introdução, segundo o nome estrangeiro do longa – e até pelas partes que se iniciam e “finalizam” de forma rápida, é só a partir da situação final que uma conexão mais intensa parece ganhar forma, o que deixa um sentimento de falta após a conclusão.

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Ainda sobre as propriedades estéticas, Hong Sang-soo se arrisca novamente como compositor em Encontros, algo que ele faz desde A Mulher que Fugiu (2020). A trilha é bem simples e delicada, e só aparece em breves momentos. O que compõe boa parte da sonoridade do filme é o som ambiente, com destaque para o som das ondas na cena da praia, que transmitem intensidade. Em grande parte, o silêncio é complementar à naturalidade dos personagens, contemplativos com seus cigarros. 

Encontros (2021) se dispõe como uma rápida e generosa produção de Hong Sang-soo. É agradável pelos seus personagens e pela sua organizada divisão em partes, que funcionam como pequenos contos de uma situação maior. Meu problema é com as decisões estéticas que parecem afetar a percepção sobre um filme que já é bem curto, e transmite essa falta no seu final. Mas no geral, as atuações são genuínas, e vale a pena acompanhar cada situação com um olhar ameno.

Jornalista, especialista em Metafísica e Epistemologia (UFCA) e Filosofia e Autoconhecimento (PUCRS). Sou apaixonado por cinema, filosofia, música e literatura. Confluo essas áreas na escrita das minhas críticas.

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