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Entrevista | AMD quer manter protagonismo em 2023
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Desde a chegada de Lisa Su ao comando da AMD em 2014, a companhia do lado vermelho conseguiu chegar a um patamar que poucos acreditavam. Das grandes dúvidas com os processadores FX, à chegada dos Ryzen em 2017, até a retomada completa da família de placas de vídeo Radeon RX, a fabricante vem alcançando um lugar de destaque contra as concorrentes.
A Torre de Controle teve a oportunidade de entrevistar dois porta-vozes da AMD Brasil: Alfredo Heiss, especialista técnico da marca; e Priscila Bianchi, responsável pela área de consumo.
Embora já saibamos que a AMD deve anunciar novos processadores mobile no início de janeiro, durante a CEO 2023, por questões de embargo, Priscila e Alfredo não puderam dar mais detalhes sobre o que podemos esperar a respeito dos lançamentos para o próximo ano, porém, Bianchi ressaltou a importância dos processadores Ryzen 6000 em notebooks durante as promoções da última Black Friday.
Falta Radeon em notebooks
Modelos como os da linha Lenovo Legion, ou o próprio Dell G15 já chegaram ao Brasil equipados com essas CPUs, mas ainda há uma falta dos Ryzen 6000 no mercado brasileiro. Mesmo quando falamos de gerações mais antigas, como os Ryzen 3000, 4000, e 5000, há um número de ofertas que parece menor no mercado, quando comparado com a concorrência.
No entanto, isso não chega perto da falta de notebooks com placas de vídeo dedicadas da AMD. Quando pensamos em notebooks gamer, a maioria dos modelos engloba ou variantes das linhas GTX e RTX, da NVIDIA, ou modelos integrados da Intel, como a linha Iris Xe. Priscila comenta que, de fato, não há modelos com as Radeon RX 6000 no Brasil, mas que a AMD vem trabalhando para mudar esse cenário no futuro.
“Não temos um notebook gamer com placa dedicada Radeon no mercado brasileiro, mas estamos apostando nesse mercado, porque a gente sabe que teve um crescimento de 2,5% em relação ao ano passado […] Então para 2023 a gente já está conversando com os fabricantes para trazer essa opção ao consumidor brasileiro.” – Priscila Bianchi.
Ainda nesse tópico, a gerente de vendas comenta sobre a dificuldade em conversar com as OEMs, pois a maioria dos produtos vem embarcado e não há uma produção nacional na maioria das vezes.
A hegemonia da concorrência
Um dos cenários mais comuns para quem trabalha com tecnologia, como este que vos escreve, é receber dúvidas sobre indicações de notebooks para trabalhar e estudar. Muita das vezes, os modelos que chegam até mim através do público possuem processadores Intel, e raramente o público mediano, não gamer, e menos informado em tecnologia, tem conhecimento nos processadores Ryzen da AMD. Com essa dúvida, Alfredo Heiss explica que não é fácil quebrar a hegemonia da concorrência de maneira tão simples:
“Existe um trabalho de marketing de anos feito pelos concorrentes. Eu posso colocar um caminhão de dinheiro, e eu não vou quebrar essa mola deles do dia para a noite. O segredo não é a quantidade, mas sim a continuidade desse trabalho de forma constante.“- Alfredo Heiss
A resposta de Heiss é realmente bem convincente e faz muito sentido. Intel e NVIDIA dominavam o mercado de processadores e placas de vídeos até recentemente. O trabalho de retomada global da AMD só aconteceu nos últimos 5/6 anos, e mudar o pensamento do consumidor médio que sempre viu aquelas duas marcas em absoluto não é uma tarefa simples.
“Estamos no caminho certo. A mensagem está chegando para todo mundo como deveria chegar? Não, não está. Mas estamos fazendo campanha de marketing com os fabricantes; a Lenovo fez uma campanha maravilhosa no metrô. […] O que eu acho mais importante é: foi feito um trabalho muito bom dos nossos concorrentes e ele não foi feito do dia para a noite. Estamos falando de anos de dominância, e sabemos que teremos que investir também por anos. A mensagem é que não podemos parar.” – Alfredo Heiss.
Embora as falas tenham um quê de verdade incontestável, na minha visão como consumidor, a empresa precisa melhorar sua comunicação com o público mais leigo, e inclusive, com o gamer. Mesmo que hajam campanhas publicitárias com grandes marcas, como a da Lenovo, esse tipo de material precisa de mais divulgação. Enquanto a Intel tem abraçado criadores de conteúdos com sua 12ª e 13ª geração de processadores, através de apresentações com nomes importantes, como Barbara Gutierrez, Patife, Jejé Pinheiro, e Jucyber, a AMD deixa a desejar nessa aproximação com público.
Mesmo com novo governo, preços não devem mudar
Tópico sensível em uma década marcada pela polarização, não há como fugir da temática política que envolve a criação de novas tecnologias, importação de produtos, impostos, etc. Para Alfredo, grandes mudanças não devem acontecer por enquanto. Heiss comenta que o atual sistema não é fruto de um governo recente, e o mercado atual de tecnologia exige uma produção local.
“Falando no core tecnologia, não houve mudanças políticas na construção de produtos no Brasil. […] Na nossa perspectiva, não vejo mudanças maiores. Mudanças no PPB, criação de áreas de incentivo à tecnologia, como a Zona Franca de Manaus, algumas zonas portuárias. Isso já foi criado há muito tempo e não há mudanças para que tenhamos um preço mais competitivo.” – Alfredo Heiss
AMD não tem problemas com faltas de chips
Já chegando ao fim da entrevista, não pude deixar de perguntar sobre as polêmicas que envolvem a discussão sobre escassez de chips. Hoje a situação está bem mais controlada do que em 2021, mesmo que alguns especialistas comentem que dificuldades na produção devem perdurar até 2025. Para a AMD isso não parece significar nada, já que a empresa não encontra nenhuma dificuldade na fabricação dos seus componentes.
“Existem fatores que podem impactar nisso, como por exemplo o recente lockdown na China. Do lado da AMD, hoje eu não falo mais em escassez de produto. Os estoques estão totalmente repostos, já consigo atender toda a demanda dos clientes com um timing excelente.” – Alfredo Heiss
Do outro lado da moeda, estão os próprios fabricantes. A AMD apenas produz um processador, que não vai funcionar sem memórias, ou uma placa-mãe. Heiss salienta que mesmo que o momento atual da marca não esteja com dificuldades, caso o fabricante encontre problemas, a entrega daquele produto ao usuário final vai demorar mais e pode custar mais.”
Aquecimento é página virada
Por fim, questionei sobre o histórico ruim que a AMD engendrou por anos com a linha de processadores FX-8000. Os produtos eram conhecidos por esquentar e consumir demais, e entregavam um desempenho que deixava a desejar em praticamente todos os cenários. Hoje, consumo e aquecimento já é uma página virada dentro da companhia. Priscila Bianchi comenta que com a chegada dos Ryzen, esse paradigma foi quebrado.
“A linha Ryzen veio como uma virada para a AMD. Hoje em dia, o comprador acredita no poder do processador Ryzen, e para você ter uma ideia, hoje a gente vende mais Ryzen 5 e Ryzen 7, que não são produtos de entrada. Então é uma página virada mesmo.” – Priscila Bianchi.
Justiça seja feita, a AMD vem fazendo um bom trabalho em processadores e placas de vídeo, e no Brasil, os preços costumam estar mais baixos do que a Intel e NVIDIA, pelo menos nos últimos dois anos. A expectativa é que todas as empresas continuem nessa disputa acirrada, não somente para que os valores sejam mais acessíveis ao consumidor brasileiro, mas também para que as tecnologias cheguem de forma mais democrático ao tecido social brasileiro.
Fundador da Torre de Controle. Sou apenas um jogador tentando sobreviver em um jogo sem pause, vida extra ou checkpoint.