Cinema
Crítica | A Pequena Sereia – Halle Bailey honra animação original
Uma coisa que me tira o sono é ver qualquer noticia de que a Disney está decidindo fazer mais um Live Action de alguma animação antiga. E quando anunciaram o próximo seria A Pequena Sereia – talvez o filme que mais assisti na minha vida – uma duvida me bateu forte: Será que vai dar certo? E felizmente a resposta é sim. Rob Marshall, já conhecido por dirigir musicais, cria um filme encantador capaz de animar até aquela pessoa que não suporta muita cantoria.
Diferente dos outros live actions dos filmes da era da renascença da casa do rato, o remake de A Pequena Sereia, põe coração e abraça a breguice ao entregar um longa que não só reverencia a animação de 1989, como também expande a história do original, em meio a um elenco que cai como uma luva para cada personagem.
Dando vida a fantasia
O maior desafio de trazer uma animação para a realidade é conseguir fazer com que o espectador não caia no famoso vale da estranheza. Como o queridíssimo O Rei Leão (2019), que se tornou um filme inexpressivo e totalmente esquecível. Porém acontece que o diretor Rob Marshall, já acostumado a fazer longas que conseguem misturar a nossa realidade com o imaginário, cria um cenário que faz você querer fazer parte do mundo de Ariel e companhia, sem estranhar o mundo criado de baixo d’água.
Assim que somos levados ao mundo subaquático, pode sim acontecer um estranhamento da primeira vez, mas logo somos imersos dentro do filme, com o visual dos animais e das sereias logo deixando de ser um incomodo visual. Inclusive, vale destacar que a paleta de cores do filme está muito mais colorida do que os trailers apresentaram, tudo está bastante vibrante mesmo que de baixo do mar e o CGI está bem melhor do que o esperado.
Ao longo da trama, conseguimos perceber que A Pequena Sereia tem algo diferente, um “tcham” especial quase como Mogli – O Menino Lobo. Ele pega a animação e conta a mesma historia da sereinha apaixonada pelo mundo humano que faz um contrato com a bruxa do mar para viver como humana e inclui pontos significativos que acabam fazendo o publico se identificar mais com a história e entender o motivo da escolha de certos personagens. Coisa que a animação – claro que por conta da duração – acaba deixando de contar.
Parte do nosso mundo
Mas para ser sincero, quem faz esse filme acontecer é ninguém mais ninguém menos que a estrela Halle Bailey, a atriz transborda toda doçura e carisma da ruivinha para as telas. Fazendo dessa a melhor escolha de atriz para um papel de Live Action da Disney. É impossível não se encantar pela Ariel de Halle desde a primeira vez em que ela aparece em tela.
A garota consegue trazer uma ótima atuação espetacular em conjunto com sua voz monumental e faz dos momentos musicais do filme, o seu auge. É de arrepiar ao escutar as primeiras palavras de “Part of your world” ou da nova musica “For the First Time. Chega a ser difícil desvincular a imagem de Halle da Ariel, principalmente quando as cenas em terra firme começam, ela passa toda a curiosidade no olhar e ingenuidade no olhar ao ver pela primeira vez o nosso mundo.
Quanto ao resto do elenco devo dizer que até que me surpreendi, principalmente quanto aos animais falantes dublados pela Awkwafina (Sabidão), Jacob Tremblay (Linguado) e Daveed Diggs (Sebastião). Cada um traz a sua versão desses clássicos e conseguem explorar bem sua simpatia, a ponto do publico se apaixonar logo de cara. Diggs, traz um Sebastião bem mais humorado e dá uma nova roupagem para as músicas “Under The Sea” e “Kiss the Girl”.
Já Jonah Hauer-King, até consegue fazer um bom Eric, mas parece que ele está meio disperso do filme. Suas melhores cenas são ao lado de Halle, onde deve admitir que a química entre os dois é gritante, mas o ator parece limitado em tela. Assim como Úrsula de Melissa McCarthy, por mais que “Poor Unfortunate Souls” seja um ótimo momento para vermos a atuação da atriz, o medo da Disney de deixar o CGI da personagem minimamente ruim transparecer, faz com que os jogos de câmera e imagens escuras limitem a visão do publico para a personagem.
Mais para explorar
Mas a verdade é que A Pequena Sereia, é um filme para toda a família assistir junto, suas 2h15min não deixam o filme cansativo ou muito rápido, fazendo com que as crianças fiquem imersas na história do filme. Rob Marshall consegue manter um ritmo bom, principalmente quanto a apresentar o que vamos assistir. Durante toda primeira hora do filme, vemos os conflitos entre Ariel e Tritão (Javier Bardem) e Eric e sua mãe (Noma Dumezweni) deixando os interesses de ambos os personagens mais próximos.
Que Ariel é apaixonada pelo mundo humano nós já sabemos, mas o porque de Tritão não deixar a menina vir a superfície sempre foi um mistério, principalmente para aqueles que assistiram apenas a animação de 1989. Isso acaba sendo melhor explorado nesse filme, assim como a fascinação de Eric pelo mundo aquático acaba sendo um adendo a história. O roteiro da um background maior para Eric, contando mais do seu passado e explorando o seu lado aventureiro.
Assim como Úrsula também ganha mais história, para aqueles que já acompanharam ao menos uma história extra de A Pequena Sereia não ficou surpreso com tal revelação feita no filme, mas devo dizer que fica até feliz que isso finalmente foi explorado. Mas infelizmente a montagem do filme não ajuda muito a vilã, Úrsula aparece em momentos chaves, quando o filme quer que ela apareça deixando de ser uma ameaça presente para os “heróis”.
Veredito
Com número musicais encantadores e uma Ariel perfeita para o seu papel, A Pequena Sereia se define como um dos melhores Live Actions da Disney. Dando jus a animação e conseguindo espaço para expandir a sua história, com um final de deixar o coração pulsando e um enorme sorriso no rosto. Halle Bailey incorpora a própria Ariel e e da uma nova roupagem para a personagem, para que novas crianças tenham em quem se inspirar.
Fica ao seu quesito dizer se esse filme era necessário ou não, mas não pode se dizer que erraram a mão aqui. Pois mesmo com os erros já conhecidos dos live-actions, ele se destaca por ter coração e conseguir, sim, fazer parte do nosso mundo.
Nota: 4/5