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Crítica | Pieces of a Woman – um sofrimento vazio

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Cinema

Crítica | Pieces of a Woman – um sofrimento vazio

Mais uma produção Netflix lançada em 2020, Pieces of a Woman é um drama dirigido pelo diretor húngaro Kornél Mundruczó e roteirizado pela sua esposa Kata Wéber.

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https://www.youtube.com/watch?v=1zLKbMAZNGI

Mais uma produção distribuída pela Netflix em 2020, Pieces of a Woman é um drama dirigido pelo diretor húngaro Kornél Mundruczó e roteirizado pela sua esposa Kata Wéber. Aclamados por alguns veículos de crítica e provável concorrente ao Oscar, a premissa de sua história é o drama de um casal em período de luto, após perderem a filha recém nascida durante o trabalho de parto. A história é baseada em uma peça de teatro e  inspirada em parte por acontecimentos reais.

A protagonista Martha Weiss (Vanessa Kirby) e seu companheiro Sean Carson (Shia LaBeouf) vagam aqui numa narrativa angustiante mas ao mesmo tempo vazia. E quando digo vazio, não é me referindo aos espaços que o filme toma para contemplar, e sim o vazio de significado, tornando uma história emocionante e com potencial num grande “tanto faz”. As atuações de ambos acabam sumindo diante do vácuo que é deixado pela história e pela atmosfera que é construída no filme.

Atuação de Vanessa Kirby "salva" Pieces of a Woman.
Atuação de Vanessa Kirby “salva” Pieces of a Woman.

Pieces of a Woman se mostra ambicioso desde sua introdução, onde um parto é retratado em uma única  — e ótima  — cena extensa. Mas logo o filme demonstra estar completamente perdido em sua ambição, impedindo o público de tirar um proveito substancial, fazendo reflexões rasas, sem profundidade e divagando em falas irracionais. Os personagens não cativam, pelo contrário, eles se mostram desprezíveis e enjoativos. Lembrando que o ator Shia LaBeouf  —  viciado em drogas e acusado recentemente de abuso  —  faz um papel muito próximo de seu comportamento na vida real, tornando o filme extremamente problemático e desagradável nesse sentido. Já a atriz Vanessa Kirby  —  protagonista da série The Crown  —  faz uma ótima atuação, tendo algum êxito em preencher os espaços do filme.

A história é outro ponto que perde o brilho no decorrer. Nessa vontade de conceituar o filme  —  que se destaca em seus movimentos de câmera e em sua trilha sonora  — os fatos, e até mesmo os mistérios, se dissolvem em atuações esforçadas que não chegam a lugar nenhum. Parece tudo um grande ensaio de uma ideia incompleta, que não vinga e não marca. Rotulado por muitos como “Oscar Bait“  — uma isca para ganhar premiações  —, até o seu final essa impressão é transmitida, revelando um capricho ininteligível que anda em círculos enquanto ignora a busca de um propósito. E essa conceptualização vazia e forçada é o que estraga qualquer chance das duas horas de filme serem marcantes.  

Ellen Burstyn interpreta Elizabeth Weiss, a mãe da protagonista.

Quando a conclusão do filme chega já é tarde demais, e revela um final extremamente fraco em comparação ao começo. É um processo de declínio pelo qual a narrativa passa ou ela se propõe como uma obra sem propósito? A tensão e a atmosfera cheia de espaços conseguem angustiar e prender quem assiste, mas não transmitem uma mensagem, ou uma ideia complexa. Apenas, de alguma forma, perpassa o sofrimento dos personagens de forma superficial em frente às possibilidades que a narrativa poderia ter. 

Por fim, apesar de bem trabalhado esteticamente, Pieces of a Woman não apresenta uma complexidade temática que nos permita uma gama de interpretações. As atuações de ponta  —  com destaque para Vanessa Kirby  — , a trilha e a montagem de suas cenas parecem apenas uma tentativa de envolver quem assiste num drama/mistério, que em sua essência trava uma fuga de qualquer significado mais profundo. A impressão que passa é de um filme bem produzido, mas não bem captado. Além disso, é um filme problemático em alguns sentidos, como na sua escolha de elenco. Apesar de toda expectativa no qual é colocado, Pieces of a Woman tem tudo para ser facilmente esquecido. 

 

Jornalista, especialista em Metafísica e Epistemologia (UFCA) e Filosofia e Autoconhecimento (PUCRS). Sou apaixonado por cinema, filosofia, música e literatura. Confluo essas áreas na escrita das minhas críticas.

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