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Análise | TREPANG² é o sucessor espiritual de F.E.A.R

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Análise | TREPANG² é o sucessor espiritual de F.E.A.R

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No contexto da geração de games atual, sempre podemos perceber um resgate de características, mecânicas e filosofias de design de títulos de gerações anteriores. DOOM 2016 abriu a porta para a reinvenção do gênero FPS, trazendo não apenas uma renascença para o gênero ”boomer-shooter” (jogos similares ao DOOM original de 93), como a reinterpretação de tendências para a indústria 3A. A existência de TREPANG², provavelmente se concretizou por conta disso.

F.E.A.R (2005) é um jogo muito bom, sério mesmo. Além disso, é o jogo que inspira fortemente o título em questão dessa análise, influenciando não apenas as mecânicas que foram traduzidas para TREPANG², como também o ”tom” que esse jogo possui, flertando um pouco com os elementos de horror que F.E.A.R apresentou aos players em 2005. Sem mais enrolação, vamos lá entender um pouco sobre como o jogo funciona e se desenrola.

Sim, o jogo tem ”bullet time”

TREPANG² in a nutshel

TREPANG² é um espetáculo de caos para os jogadores.

Se um jogo se inspira fortemente em F.E.A.R, então ele com certeza precisa implementar a mecânica de bullet time, certo? Para os leigos, lembra daquela parada que o Neo fazia no primeiro filme do Matrix? Desviar das balas em câmera lenta, trazendo um espetáculo visual para o público, enfatizando também as manobras de contra-ofensiva que surgiam nesses momentos? É, então, isso é uma característica muito famosa em jogos como Max Payne e F.E.A.R, e TREPANG² soube muito bem implementar isso para a sua fórmula.

Diferente de F.E.A.R, TREPANG² tem um ritmo muito mais acelerado, talvez bebendo um pouco da cadência de jogos de tiro mais atuais, implementando mecânicas de deslizamento e ”momentum” para a movimentação do protagonista. Por conta disso, a gameplay do jogo pode ser um pouco… caótica. Para balancear isso, e entregar uma forma de ”respirar” ao jogador durante as batalhas, TREPANG² acaba fornecendo também uma mecânica de ”Cloak”, onde o player pode ficar invisível por breves segundos, para poder procurar munição, kits médicos e armadura.

Ambas habilidades possuem medidores, onde a invisibilidade se preenche sozinha conforme o tempo passa, porém, o bullet time só pode ser recuperado através da performance do jogador em combate. E entenda bem, você vai estar usando ambas as habilidades constantemente, afinal, TREPANG² é um jogo até que dificinho, e exige bastante que o jogador ”pense rápido” no calor do momento de cada confronto.

História…?

Te garanto que, o impacto da shotgun desse jogo é… magnífico.

Se você está procurando um jogo com uma história profunda, bem escrita e original, provavelmente TREPANG² não é para você. Mas isso não é algo ruim, muito pelo contrário, o jogo tira proveito de não ter foco em sua narrativa, para entregar arenas de combate e ambientações muito legais. Mas, sim, a história do jogo não é o foco, e por conta disso, sofre de certos clichês.

Usando F.E.A.R como exemplo, TREPANG² acaba falhando na parte de entregar um world-building interessante, com personagens e ”backstories” interessantes. No ritmo que tenta entregar uma ambientação similar a de F.E.A.R em suas missões, principalmente naquelas que possuem foco na parte do horror, entretanto, falha em estabelecer ameaças convincentes e interessantes, que possam estimular o jogador a se interessar no mundo do título.

Acredito também que, o fato de não termos uma personagem como a Alma (a criança maligna da série F.E.A.R) para reforçar a narrativa do jogo, acabamos por não entender exatamente o que e quem estamos procurando e caçando, ou melhor, acabamos por não ligar para esses objetivos. Talvez numa futura sequência, poderemos ter vilões com motivações mais interessantes e convincentes.

TREPANG² é um indie, lembre-se disso

Acredito que, a partir desse ponto do texto, fiz muitas comparações do jogo em questão, com o F.E.A.R de 2005, que no caso, foi em sua devida época, uma produção com uma injeção muito larga de capital. TREPANG² provavelmente não possui o mesmo luxo, nos dias de hoje. Claro que, por mais que isso seja uma característica que possa prejudicar certas decisões, não podemos apenas fechar os olhos para seus problemas.

Um dos problemas que tive com o jogo, ou talvez, uma das coisas que eu não gostei, foi a falta de diversidade visual para os ambientes do jogo. Não que o primeiro F.E.A.R fosse famoso por isso também, porém, boa parte dos level designs de TREPANG² são muito similares. A direção de arte também não é muito interessante, apelando mais para o design convincente de características militares genéricas, apoiado sobre uma estética realista, culmina no jogo reproduzindo visuais que poderiam facilmente se encaixar em algum jogo da franquia Call of Duty.

Se você é um leitor frequente de meus textos (fica a dica pra ir ler minha análise de Darkest Dungeon 2), sabe muito bem o quanto que eu valorizo uma direção de arte interessante, e por conta disso, é um pouco decepcionante de não reconhecer características distintas que poderiam elevar a qualidade desse jogo, nesse departamento.

Entretanto, pra não ficar cutucando essa questão por muito tempo, vale a pena dizer que a trilha sonora do jogo é extremamente bacana. Existe um mix de influências de Mick Gordon no meio, principalmente com as tracks que ele produziu para DOOM Eternal. Se você é fã dessa vibe, com certeza vai estar inclinado a comprar a trilha sonora separadamente.

Uma última repaginada nos positivos e negativos

TREPANG² acerta em muitas coisas, e erra em algumas outras. Num geral, a balança acaba sendo bem positiva, mas ainda existe um probleminha que preciso citar aqui nesta análise. No caso, me refiro aos ”monstros” do jogo, que são incluídos logo no início das missões da campanha.

Claro que, tendo F.E.A.R como referência principal, o título precisaria de algum tipo de inimigo para sustentar a narrativa com elementos de horror. Entretanto, esses inimigos trazem frustração ao jogador, na medida que boa parte deles são ”esponjas de bala”, exigindo muita munição para de fato caírem em combate. Soma-se isso ao fato de que eles sempre aparecem em hordas, consequentemente, essa implementação acaba prejudicando um pouco do ritmo que o jogo quis construir anteriormente. Acredito que esse tipo de inimigo, não apenas não pertence a um jogo como F.E.A.R, como com certeza não pertence a um jogo como TREPANG².

Considerações finais

No fim ao caso, TREPANG² é um belo jogo para os fãs de shooters num geral. Não apenas possui uma campanha principal breve, mas interessante e recheada de ação, como também possui diversas missões secundárias, assim como desafios e modos alternativos que aprimoram mais ainda a experiência.

No momento, TREPANG² está disponível apenas para as plataformas do PC, especificamente Steam e GOG, e tem lançamento futuro planejado para os consoles de nova geração (Xbox Series e PS5).

*Esta análise foi feita com uma cópia do jogo para PC-STEAM, gentilmente cedida pelo pessoal da TREPANG Studios!*

Conhecedor dos estudos históricos, amante da arte dos vídeo-games, streamer, ex pro-player de HearthStone, ilustrador e escritor.

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