Análises
Análise | Resident Evil Village Gold Edition (Winters’ Expansion DLC) – novas perspectivas
Quando Resident Evil Village foi lançado no ano passado, surpreendeu tanto críticos quanto jogadores. Suas novas ideias, apesar de causarem estranheza no início, acabaram sendo explicadas satisfatoriamente dentro da lógica de terrorismo biológico da franquia. Vilões icônicos, quebra-cabeças satisfatórios, gerenciamento de recursos e terror – muito terror – marcaram este excelente título, conforme apontamos em nossa análise na época de seu lançamento.
Mas não satisfeita com o sucesso, a Capcom resolveu continuar contando a estória da família Winters, além de expandir a jogabilidade da campanha e do modo Mercenários. No dia 28 de outubro, foi lançado o DLC Winters’ Expansion (podendo ser comprado por quem já possui o jogo base) e a Edição Gold, que traz o jogo base, a DLC já citada e itens in-game (denominado Trauma Pack). Lembrando que ambas as edições – base e Gold – de Village dão acesso ao multiplayer RE:Verse.
Sombras de Rose
De longe, a parte que mais me interessou foi o DLC de estória, que acompanha Rose Winters, a filha de Ethan – o protagonista dos dois últimos jogos da franquia – já com 16 anos em uma jornada para encontrar uma “cura” para seus poderes. Por aproximadamente 3 horas (tempo médio para concluir a estória, podendo variar dependendo da habilidade do jogador em combate e solução de quebra-cabeças) mergulhamos em cenários já conhecidos por quem jogou a estória principal, como o castelo Dimitrescu, em busca de um cristal que poderia transformar Rose numa “pessoa normal”, livrando-a de seus poderes.
Este novo capítulo traz como novidade justamente os poderes que Rose está tentando se ver livre, que adicionam um novo elemento de jogabilidade que é muito bem aproveitado. Temos novas formas de combate, novos recursos e literalmente novas perspectivas sobre cenários já explorados antes. A forma dinâmica como tudo é apresentado evita que este modo seja “mais do mesmo”, tendo realmente uma estória a contar, que consegue fechar de forma satisfatória o arco da família Winters além de ser uma metáfora sobre auto-aceitação e o orgulho de ser quem você é.
Mas nem tudo são flores (ou mofos), para o bem e para o mal. Há um elemento “sobrenatural” – aquele velho medo dos fãs quando vimos os primeiros trailers de Village – que pode incomodar os mais conservadores da franquia. Mesmo sabendo que estamos dentro da consciência do Megamiceto, onde não se seguem as regras do mundo real, temos uma entidade que se auto-denomina Michael e passa a ajudar Rose e guiá-la em sua missão através de textos que aparecem nas paredes ou mesmo materializando itens como munição e recursos. Isto não é algo que parece ser “Resident Evil”, me incomodou um pouco mas pode ser que agrade fãs menos puristas.
Os cenários, apesar de serem os mesmos locais do jogo original, estão diferentes, com novos inimigos, diferentes quebra-cabeças e um ambiente ainda mais hostil – o próprio chão e paredes, constantemente cobertos por um material escuro e gosmento, parecem estar sempre tentando te atacar e interrompem seu avanço até que se aprenda a lidar com ele.
Os inimigos são variados e diferentes da campanha principal. Graças aos poderes de Rose, temos outras formas de lidar com eles além de despejar a (rara) munição. As batalhas contra chefes também são boas e o design das novas criaturas são impecáveis, causam medo e repulsa, como deve ser.
Modo Terceira Pessoa
Uma adição muito pedida desde o Resident Evil 7 foi a perspectiva em terceira pessoa – já que desde aquele título só é possível jogar em primeira pessoa, algo que desagradou muitos fãs da franquia. As justificativas para tal pedido são várias, incluindo problemas com cinetose em alguns jogadores.
Ao iniciar a campanha do jogo base, é possível escolher qual perspectiva se deseja utilizar. Já no capítulo Sombras de Rose, só é possível jogar em terceira pessoa.
Rejogar Resident Evil Village em terceira pessoa foi muito satisfatório, dando um forte motivo para voltar ao jogo. Entendo a motivação da perspectiva em primeira pessoa de trazer maior imersão, mas o jogo é tão bem feito, com inimigos tão diversos e assustadores – especialmente a Casa Beneviento, para mim a melhor parte do jogo – que jogar em terceira pessoa não estraga nem diminui de forma alguma a experiência.
Mas se você está esperando ver o rosto de Ethan Winters, sinto lhe desapontar: sempre que tentamos virar a câmera para tentar enxergar sua face, o protagonista vira para o lado se esquivando. Particularmente achei uma excelente piada e espero que mantenham esse “mistério” divertido.
Um último detalhe sobre esta perspectiva em terceira pessoa é que as cinemáticas (cutscenes) da estória continuam em primeira pessoa, voltando para terceira pessoa ao devolver o controle do personagem para o jogador. Mas a transição é feita de forma tão suave que não chega a incomodar e é compreensível que não tenham refeito as cenas devido a custo de produção.
Concluindo sobre este modo, foi uma adição muito bem-vinda e eu realmente espero que continuem dando esta opção para os jogadores nos próximos jogos da franquia.
Mercenários: Ordens Adicionais
Mercenários é um divertido modo de jogo onde você pode combater hordas de inimigos, conquistando pontos a cada vitória e avançando para o próximo estágio. Em Ordens Adicionais, foram incluídos novos personagens jogáveis, como Lady Dimitrescu, Chris Redfield, e Lord Karl Heisenberg, cada um com habilidades únicas.
Inicialmente é possível escolher entre jogar com Ethan Winters ou Chris Redfield. Ethan é o personagem mais versátil e equilibrado, já Chris tem mais força bruta mas não pode usar itens curativos. Para desbloquear Alcina Dimitrescu ou Karl Heisenberg é necessário atigingir altas pontuações em determinados cenários, como Rank A ou Rank S. Serão necessárias algumas tentativas para que o jogador entenda a dinâmica e consiga planejar sua estratégia para atingir os rankings mais altos, mas a experiência é extremamente divertida e gratificante a cada vitória alcançada.
Conclusão
Winter’s Expansion é uma sólida adição a Resident Evil Village, desde que o jogador esteja interessado em toda a sua proposta. Se observado o conjunto da obra e houver vontade de rejogar a campanha principal (para quem ainda não jogou), vale a pena explorar novamente a vila com a nova perspectiva em terceira pessoa. O capítulo Sombras de Rose, que funciona bem como um epílogo e conclui de forma satisfatória o arco da família Winters, apesar de ter detalhes que se afastam de características da série e não traz respostas a algumas questões, deverá agradar a quem se interessa pelos personagens e seus desfechos. Por fim, para quem gostou ou deseja conhecer o modo Mercenários, terá horas de jogo além da campanha, a medida que vai aprimorando suas estratégias e desbloqueando os novos personagens.
E para quem não adquiriu a campanha de Village na época de seu lançamento, vale pegar a versão Gold (que inclui a DLC Winter’s Expansion) e sai mais barata do que comprar o jogo base mais a DLC separadamente (tanto na PSN quanto na Steam, comprando separadamente a DLC sai o dobro do preço se comparada com o valor da edição Gold).
Mas para aqueles que já jogaram a campanha principal (que provavelmente já possuem o jogo) e não tem interesse em retornar a ela, nem mesmo com a nova perspectiva em terceira pessoa, nem tem interesse no modo mercenários, é necessário pesar se vale a pena pagar o valor da DLC apenas pela estória de Rose – que, conforme citamos acima, tem aproximadamente 3 horas de duração, não adiciona nenhum dado novo ou relevante para a lore da franquia e é focada na família Winters.
Resident Evil Village Gold Edition e a DLC Winter’s Expansion estão disponíveis para as plataformas Playstation, Xbox e PC.
Esta análise foi feita no Playstation 5 com uma cópia cedida pela Capcom.