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Especial Star Wars | The Bad Batch – A Vida de Rebelde é Dura

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Especial Star Wars | The Bad Batch – A Vida de Rebelde é Dura

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Em 25 de maio de 1983, chegava aos cinemas americanos a conclusão da trilogia clássica de Star Wars. O que parecia ser o fim, se tornou apenas a terceira pedra fundamental de diversas obras que viriam nos anos seguintes. Livros, quadrinhos, séries em live-action e animações, Star Wars se expandiu de maneira inimaginável e hoje é muito mais do que apenas uma série de filmes. Entre erros e acertos, esse universo ainda é o lar de diversas pessoas que buscam força na luta contra o Império.

A equipe da Torre de Controle aproveitou o ano em que se completam 40 anos da trilogia clássica e a recente estreia da série Ahsoka no Disney+ para falar sobre suas obras favoritas nessa galáxia tão, tão distante.

Em Clone Wars, George Lucas, Dave Filoni e a equipe nos deram uma série inigualável. Com a galáxia inteira como palco de guerra, o desenho nos proporcionou uma narrativa numa escala nunca antes vista em Star Wars, tampouco em uma série animada. Cada arco de episódios nos levava a um canto diferente do conflito, explorando diversos temas sobre guerra, quem a luta, quem sofre com ela, e o custo humano e material que ela tem na sociedade. Cada arco tinha um protagonista diferente, aprofundando os personagens centrais como Obi-Wan, Anakin, Padme e a novata Ahsoka com nuances nunca vistas nos filmes, mas também dando aos vários membros da Ordem Jedi, nos filmes meros figurantes, muitos momento de brilhar.

Mas apesar disso, os Jedi não eram a atração principal do desenho. Não, a guerra era dos clones.

O brilhantismo da série sempre se evidenciava nos episódios que focavam nos clones. Clonados a partir do material genético do Jango Fett, são soldados produzidos em massa com a única missão de defender a república. Fruto de manipulação genética, os clones são criados sob medida para serem soldados obedientes, mas também para ter autonomia e independência de tomar decisões estratégicas e criativas. A série também faz questão de mostrar que são todos indivíduos: Além de personalidades diferentes, cada soldado expressa sua individualidade através dos nomes que dão a si próprios, penteados, tatuagens e personalizações nas armaduras. Ainda assim, para a República que eles servem, eles são números criados para lutar e morrer numa guerra que não tinham escolha em participar, subordinados por tabela aos Jedi.

Esse paradoxo existencial nunca chegou a ser explorado nos filmes, mas a série se esforça para esmiuçar esse tema das formas mais variadas. Em um dos primeiros episódios, em que vemos um esquadrão de Clones tendo que proteger uma base isolada da República de uma invasão de droides, vemos um dos temas mais importantes acerca deles: A camaradagem formada no campo de batalha. A formação de laços de família no meio do caos é um tema muito abordado no cinema de guerra, mas Star Wars adiciona o fator que todos são irmãos de fato. Mas para cada história que enaltece esse valor, há uma que o põe em cheque. Já na temporada 2 somos apresentados ao dilema de denunciar ou não um clone que desertou o exército e criou uma família.

O arco de Umbara apresentou o Jedi Pong Krell, um general que trata os clones com desdêm, tratando as vidas deles como descartáveis e se referindo a todos pelo código de série.  Os clones são obrigados a seguir as ordens questionáveis dele, toda a história serve como um forte choque de realidade de que, mesmo tendo um tratamento respeitoso por parte da maioria dos Jedi, efetivamente todos os clones são cidadãos de segunda categoria.

Parte da linha narrativa que percorria os arcos independentes da série era o crescente questionamento e desilusão por parte do Capitão Rex conforme as sucessivas tragédias que ele testemunhou na guerra abalavam a noção de propósito que ele tinha sobre seu papel no mundo. E poucos desses eventos foram tão impactantes quanto a chegada do equivalente em Star Wars do elenco de Team Fortress 2.

Um esquadrão especial formado por clones cultivados para terem habilidades avançadas, eles são Hunter, líder do grupo com sentidos sobrehumanos e cosplay de Rambo; Wrecker, brutamontes superforte obcecado com violência; Tech, superinteligente e hábil com qualquer máquina e Crosshair, franco-atirador com pontaria excepcional. Operando sozinhos, fora da hierarquia regular do exército, eles são mandados para as missões que só suas habilidades excepcionais seriam capaz de cumprir. Eles são a Força Clone 99: Os Malfeitos!

(Eu particularmente acho que o nome lusitano da equipe, O Lote Estragado, é muito mais impactante.)

A chegada dos Malfeitos marca mais uma mudança na perspectiva do Rex. A missão em que eles são convocados envolve invadir uma instalação separatista onde Echo, um dos companheiros mais antigos de Rex antes dado como morto, teria sido capturado. Ao chegarem lá, descobrem que ele sofreu implantes cibernéticos e foi conectado a um computador para usar o conhecimento tático dos Clones contra a República. Uma vez que ele é resgatado, não se sente mais bem-vindo entre os clones regulares, e então se une aos Malfeitos, felizes em acolher outro pária (O Darth Vader dos Clones). O que Rex via como uma chance de recuperar um irmão perdido virou uma lição de que até a irmandade entre soldados tem seu limite.

Os Malfeitos introduzem a ideia que até entre os clones existe divisões. O nome autodepreciativo, mostra uma equipe que veste suas diferenças com orgulho. Enquanto a tensão entre subjetividade e função atormenta Rex, a equipe se assume como “o outro” entre os clones, pois sabem que o que faz deles excluídos é o mesmo que os tornam requisitados. Eles são capazes de fazer o que ninguém mais pode, e essa incompatibilidade com os irmãos dá a eles um propósito na vida. O trágico é que justamente o grupo que mais se contentava com o seu estado na guerra é o que menos estaria preparado quando ela acabasse.

Depois do fim definitivo de Clone Wars, o esquadrão ganhou uma série spin-off própria. O primeiro episódio nos mostra onde estavam durante a Ordem 66, evento em que o Imperador ativou uma programação secreta nos clones para fazê-los matarem os Jedi. As modificações no esquadrão impediu que eles sucumbissem à programação, com a possível exceção de Crosshair. Então, do dia para a noite, tudo o que definia a existência dos clones não existe mais.

A abertura do spin-off mostra o logo de Clone Wars, que rapidamente se desfaz em chamas, dando espaço ao de The Bad Batch. É um logo de textura metálica, cheio de arranhões e ferrugem. Não há forma mais direta de comunicar que agora que a guerra acabou, o desafio vai ser viver com o que vem depois.

Quase imediatamente o sistema imperial se instaura, e todos os clones se veem num limbo existencial. Não há mais guerra, então os clones são remanejados para postos de manutenção da nova ordem vigente. E diferente da República, o Império é rígido e intransigente, não há nenhum espaço para a atitude transgressora dos Malfeitos. A primeira missão sob a novo regime já mostra essa mudança, com o esquadrão sendo enviado para eliminar um grupo de insurgentes armados, que na verdade não passavam de cidadãos deslocados pelo novo governo. Isso é o suficiente para começarem a rejeitar o novo regime. Eles seguiam o próprio rumo antes e vão fazer o mesmo novamente.

Isso é mais problemático do que eles imaginam.

Disney/ Divulgação

Cabe agora ressaltar que, quase sempre, George Lucas usou Star Wars como forma de comentar de forma lúdica as questões políticas contemporâneas, como a guerra do Vietnã nos anos 70 e 80 e a do Afeganistão nos anos 2000. Essa tradição segue firme em The Bad Batch, que foi produzida ao longo do mandado Trump, um momento em que governos fascistas estavam em ascensão pelo mundo inteiro, se proliferando através da radicalização de pessoas influenciáveis, com vários grupos vulneráveis sendo atacados de maneira agressiva e sistemática por governos que utilizavam quaisquer meios para firmar seus projetos de poder. A série se passar justamente na transição inicial de República para Império é um solo fértil para abordar os anseios da época.

Um deles, talvez o que mais chega a doer, é o caso do Crosshair. Enquanto os irmãos desconfiam imediatamente da nova ordem, ele desde o início se prontifica a provar o seu valor para os seus superiores. Ele acata à Ordem 66 de imediato, e chega a se virar contra os próprios irmãos quando eles revelam a decisão de partir. A partir dai, vira um seguidor fiel do Império, recitado rotineiramente o mote “Bons soldados seguem ordens“, frase associada ao ativamento forçado do chip de programação da Ordem 66. Esse atrito na família, é um dos grandes dilemas que muitas pessoas sofreram com as táticas de aliciamento dos movimentos de extrema direita. É fácil achar casos no cotidiano de pessoas que se radicalizaram por grupos de Whatsapp que distorciam a realidade, alienando completamente a pessoa da família e amigos, até que a única referência que tem seja essa lavagem cerebral.

No caso do Crosshair, é a necessidade de provar a sua utilidade. Ao longo de vários episódios ele se depara com superiores que não escondem o desdém pelos clones, e buscam formas de substitui-los pelo recrutamento de civis. Ao invés de questionar, Crosshair segue obcecado em ser um soldado modelo do Império. A jornada dele é um dos arcos mais fortes da série. O episódio mostra ele e o comandante Cody, um dos mais memoráveis clones da franquia, invadindo e dominando uma fortaleza da Aliança Separatista que se recusa a aderir ao Império.

Todo o episódio flui como um de Clone Wars: Com clones hipercompetentes fazendo o seu trabalho, droides de batalha se atrapalhando, numa batalha tensa e empolgante. Mas conforme o episódio segue, a sensação é de futilidade. Isso não tem propósito real, a guerra acabou e eles foram chamados para encerrar uma pendência com os perdedores. O reconhecimento do Crosshair nunca vai chegar, pois agora ele é visto como uma mera ferramenta.

Esse mesmo choque de realidade atinge os outros membros do Esquadrão quando eles percebem que a vida que eles viviam à margem da sociedade não ajuda tanto assim no novo contexto. Por mais que eles não se enquadravam nos padrões, eles ainda eram soldados de uma República em guerra, que permitia a atitude mais contestadora deles em troca de usá-los. Agora como fugitivos em um Império que descarta tudo que é dissidente, eles se veem sem estrutura nenhuma para seguir algum tipo de vida. Esse problema se agrava quando eles integram um novo membro ao grupo: A jovem clone Ômega.

Ômega é o desafio mais inesperado dos Malfeitos. Um clone não alterado, ou seja, que não é envelhecido artificialmente, ela nunca saiu do planeta natal de Kamino, e se junta a eles para fugir das intenções escusas do Império para com ela. Vemos ela descobrindo vários aspectos do mundo pela primeira vez ao longo da jornada, assim como aprofundando os laços entre a nova família. Ela rapidamente se torna o coração do grupo. Ainda assim, a presença dela torna impossível de ignorar o problema dos Malfeitos, que muitos também podem se identificar: Se eles não tem condições para proporcionar estabilidade para si próprios, quem dirá para uma criança? São respostas difíceis, e que a dor de perder um ente querido para o sistema torna tudo mais real e doloroso.

A série não foge de retratar a vida num regime fascista. Conforme vai progredindo, as opressões por parte do Império vão aumentando. Sistemas de registro compulsório de dados são implementados para manter a vigília na população, enquanto as vozes dos cidadãos são caladas à força, e conforme o Império se alastra, fica mais difícil fugir da sua influência, e até os mais remotos submundos não são mais seguros.

O tratamento dos Clones também mostra uma denúncia direta ao tratamento dos veteranos de guerra nos EUA, que voltam com feridas físicas e emocionais e não recebem nenhum acolhimento do governo que os levou para a guerra. Agora todos os clones são um lote estragado. Nesse cenário desolador, o tema principal da série acaba sendo: Como encontrar um propósito em meio a uma sociedade que faz tudo para te derrubar?

A série, que vai concluir na vindoura terceira temporada, ainda não respondeu a pergunta. Talvez a luta dos Malfeitos acabe em tragédia, um sacrifício heroico ou uma contentamento pessoal, já que eles não devem nada a ninguém. O que eu posso afirmar é que esse grupo de irmãos excêntricos, que muitas pessoas reclamaram como sendo caricatos demais, vieram no momento certo. A arte existe em resposta ao mundo que vivemos, e The Bad Batch foi uma das obras que melhor expôs os conflitos e emoções desses tempos que vivemos, para crianças e adultos. Embora o futuro não esteja favorável para esse bando de azarões, a esperança, pilar fundamental de Star Wars, ainda sim se manifesta.

The Bad Batch mostra que sim, os desafios são complexos, não há respostas fáceis e em vários momentos você vai se questionar se algo disso vale a pena. Essa dor é real.

Mas lutar em nome de quem você ama é algo louvável, e você não está sozinho nessa luta.

Confira a nossa série especial sobre Star Wars clicando aqui.

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